domingo, 30 de outubro de 2011

UM POUCO MAIS SOBRE INSTRUMENTOS MUSICAIS - SUAS HISTÓRIAS, SUAS FUNÇÕES

A água correndo por um riacho; o vento inclinando as folhas; o fogo alastrandos-e pela floresta; a chegada da primavera; a paixão de um homem por uma mulher; a trágica morte do ser amado; a alegre comemoração de um casamento. Os exemplos seriam intermináveis, e o mais surpreendente é que todas estas impressões podem não ser transmitidas por palavras, mas sim por SONS. É a magia da música, "uma outra vida dentro da vida", como disse Balzac. Seu poder é reconhecido: ela é capaz de influenciar ou entusiasmar, de nos alegrar ou entristecer; de despertar ternura ou agressividade.
E, para transmitir toda a gama de emoções experimentada pelo compositor, no momento da criação de sua obra, é preciso que o instrumento musical seja adequado. A função deste é passar, para quem ouve, fatos, pensamentos, sentimentos, impressões - às vezes toda uma história - concebidos pelo autor.  Não se pode, por exemplo, tocar uma música sacra com uma guitarra elétrica, assim como um violino não transmite corretamente as vibrações do jazz. Este tipo de música exige clarinetas, trombones, baterias e outros instrumentos que vibram. Músicas etéreas devem ser tocadas com harpa; as medievais ficam perfeitas com flauta; as sensuais ou melancólicas adaptam-se melhor a instrumentos de sopro, que despertam a idéia de calor. Já o sonho, o lirismo, as emoções mais sutis encontram ressonância impecável nas cordas de um violino.
À medida que a música se aprimora, nessa passagem de sentimentos e sensações, os instrumentos vão ficando mais requintados e aperfeiçoados. A era atual criou o órgão eletrônico, capaz de reproduzir os sons de quase todos os instrumentos, bastando para iso mudar seus registros, programando-o como se faz com um computador. Milênios se passaram para se chegar a este ponto. Escavações arqueológicas feitas no século passado, nas décadas de 50 e 60 , em Mezin, na Ucrânica, revelaram a existência de instrumentos musicais da era paleolítica, com cerca de 20 mil anos. Entre eles, chocalhos de marfim, "pulseira sonora", martelo de chifre de rena e outros feitos com ossos de mamute.
No Ocidente, há indícios de que desde os fins do Império Romano já existiam orquestras, embora só depois do século XVI é que elas começaram a ter as características das atuais. Apenas no século XVII é que os violinos passaram a fazer parte dela, especialmente nas igrejas e, progressivamente, seu número de instrumentos foi aumentando.
No século XVIII, uma orquestra pequena, comum, era constituída por dois violinos, dois oboés, duas trompas e dois contrabaixos. Harpas, flautins, corne inglês, bombo e pratos passaram a integrar as orquestras no século XIX. Beethoven aumentou o número de instrumentos e Wagner criou dimensão maior: a quantidade e a variedade deles passaram a ser quase as mesmas usadas atualmente: violinos, flautas, flautins,clarinetes, trombetas, trombones, bateria e outros.
No século XX,  a orquestra, em geral, passou a ser dividida em quatro grupos de instrumentos: os de corda, os de sopro de madeira; os de sopro de metal; os de percussão. Cada grupo tem um naipe que imita a voz humana. O violino possui o som do soprano; a viola, do contralto ( ou alto); o violoncelo, do tenor, o contrabaixo, do baixo. Uma exceção é o flautim que vai além desses sons e atinge um tom muito raro, correspondente ao sopranino.
Uma sinfônica ou filarmônica, geralmente, compôe-se de cerca de cem instrumentos; uns sessenta de corda; uns quinze de madeira; uns doze ou treze de metal e uns dez ou doze de percussão. Mas já houve e ainda existem orquestras bem mais numerosas. Fantástica, mesmo, foi a dirigida por John Strauss, em Boston, no Dia da Independência. Cerca de 10.000 músicos acompanharam quase 20.000 cantores com cem sub-regentes transmitindo o comando de Strauss para os milhares de executantes.

Um pouco da história e das funções dos principais instrumentos que compõe uma orquestra

Instrumentos de corda: Violino, Viola, Violoncelo, Contrabaixo e Harpa.
Eventualmente entra o Piano, instrumento de corda e de teclado, assim como o Órgão

VIOLINO


Tem quatro cordas e um arco e, para ser tocado, é mantido sob o queixo. Geralmente é o responsável pela melodia, pelo solo. Quase sempre é o grupo mais numeroso da orquestra, e de som mais agudo - só superado pelo flautim.
Stradivarius produziu os melhores exemplares e seu nome é sinônimo de perfeição nesses instrumentos. Os poucos com esta marca, ainda existentes, são considerados raridades.
Acredita-se que o violino surgiu no século XVI, com as características atuais, embora já existisse em outras formas. Há quem ache que ele é descendente do alaúde, instrumental árabe de origem remota.
Um dos mais famosos virtuoses do mundo foi Niccolo Paganini, falecido em 1840.

VIOLA


Um antigo tipo de violino, um pouco maior e com som mais profundo do que este. De timbre muito expressivo, chamado de "alto",  pelos franceses, provavelmente por reproduzir este tom da voz humana. Consta que esse instrumento é uma variante de outros da época medieval, tais como a "viola do amor" que esteve no auge durante o século XVII e o rabel, um instrumento semelhante na forma e no som, que era tocado pelos pastores, enquanto trabalhavam.

VIOLONCELO


Tem quatro cordas e arco. Até há alguns séculos, era usado com acompanhante, mas a partir de Beethoven muitos compositores deram-lhe destaque, especialmente para expressar, em solo, a música dramática.
Pablo Casals foi o maior violocenlista dos últimos tempos.


CONTRABAIXO


Instrumento de cinco cordas e arco, da família dos violinos, violas e violoncelo. É o maior de todos e o de tom mais grave. Por volta do século XVI era usado em igrejas com o nome de violão. Foi levado às orquestras no século XVIII. Seu papel principal é reforçar os baixos da orquestra.
Mozart, Wagner, Berlioz e outros compositores elevaram o contrabaixo à categoria de instrumento solista, em diversas obras, por sua capacidade de produzir notas profundas, fortes de grande potência.


HARPA


Um dos instrumentos de corda mais antigos. Foram encontradas representações da harpa nas necrópoles de Tebas no século XVIII a.C. Ainda conserva a forma original, embora tenha aumentado de tamanho. Era usada suspensa no pescoço por uma grande correia ou cinta. No começo do século XVII de nossa era, já era tocada na Itália.  Erard, seu aperfeiçoador ( hoje marca principal deste instrumento, na França), construi-a com 47 cordas e sete pedais - como é conhecida na versão atual.

PIANO


A não ser que se trate de um solo, no qual ele tenha o papel principal, só raramente o piano é usado na orquestra. Há quem o inclua na categoria de instrumento de corda e teclado, assim como o órgão. Este é muito pouco utilizado em orquestra e, em sua visão convencional, está associado à música sacra. Mas, como foi dito, em sua versão atual é capaz de reproduzir quase todos os sons de uma orquestra.



Instrumentos de sopro de madeira: Flauta, Flautim, Oboé, Corne Inglês, Clarinete, Clarinete baixo, Fagote, Saxofone.

FLAUTA



Originou -se na antiguidade. Até o Renascimento havia três tipos diferentes. Atualmenté, é composta por um tubo que pode ser dividido em três partes.  O instrumento também é chamado de flauta transversa.
Alguns compositores, como Mozart e Bach, escreveram sonatas e concertos especialmente para flauta.

FLAUTIM


É o instrumento mais agudo da orquestra moderna. Pertence à família da flauta. Seus sons mais agudos, altos e firmes, servem especialmente para descrever cenas fantásticas, barulhentas, movimentadas.


OBOÉ



Diferente da flauta e de outros instrumentos de sopro, por possuir palheta dupla. Sua origem é antiga, e alguns de seus modelos primitivos aparecem desenhados em monumentos egípcios. Nos  séculos XVII e XVIII, era usado para animar danças. Seu volume de som e seu timbre fizeram com que fosse muito adotado em óperas e em algumas obras de Bach e Haendel. Desde Schumann, é um dos instrumentos preferidos pelos compositores.


CORNE INGLÊS

É uma variedade de oboé. Seu mecanismo é igual ao deste, mas tem tubo mais comprido e largo. Incluído excepcionalmente em orquestras sinfônicas, quase sempre em solo.
Berlioz considerava-o o melhor dos instrumentos de sopro, para comover ou evocar imagens do passado.

CLARINETE



Consta que foi inventado por Denner, de Nuremberg, entre os anos de 1670 e 1700, tendo sido um aperfeiçoamento da antiga charamela usada pelos pastores. A partir de 1750, começou a ser incluído nas sinfônicas. Há varios modelos deste instrumento.
Mozart foi o primeiro compositor a aproveitar todos os recursos que ele oferece. Beethoven empregou-o na maior parte de suas composições e Berlioz deu-lhe um papel importante em   " Queda de Tróia". A "Valsa de Chopin" utiliza 24 clarinetes.
Existe também o instrumento de metal ( hoje, quase todos os de sopro são feitos nos dois materiais), mais adotados nas bandas militares.



                                                 Clarineta de Metal


CLARINETE BAIXO



É uma das variações do instrumento e produz tons mais graves que o anterior. Diz-se que foi criado pelo italiano Papalini, embora muitos achem que quem o inventou foi o alemão Greuser em 1793. Geralmente é usado em orquestras grandes e obras modernas.

FAGOTE


O fagote possuiu palheta dupla e é parecido com o oboé, no modo de soprar. Tem grande força de expressão, nos tons mais baixos, enquanto os mais altos podem produzir um efeito cômico.
Começou a participar das orquestras a partir do século XVII.

CONTRAFAGOTE


Com um tom mais baixo do que o fagote, é semelhante a este instrumento, mas aparece principalmente em orquestras grandes e obras modernas. A princípio, só utilizavam em bandas militares, na Inglaterra.

SAXOFONES


( soprano, alto, tenor e baixo): foram inventados pelo belga Adolphe Sax, em 1838 e tiveram grande aceitação por parte de Berlioz, mas não conseguiram um lugar de destaque na orquestra sinfônica, e quando aparecem é em geral como solistas.
Foram introduzidos com sucesso no jazz, sendo um de seus instrumentos principais. Firmaram-se também nas bandas militares de vários países. Seu manejo é semelhante ao do clarinete.


Instrumentos de sopro de metal: Trompa, Trombeta, Trombone, Tuba

TROMPA



de latão, bronze, cobre, prata ou outro metal - como a maioria de instrumentos de sopro feitos desse material - ela é formada por uma boquilha e um tubo enrolado, que termina num pavilhão aberto. Seu mecanismo de pistões permite que emita todos os graus da escala de sons. Descendente da trompa de caça, esta versão moderna tem um som belíssimo e é importantíssima na orquestra.
Haydn e Mozart deram-lhe destaques em vários de seus concertos e sinfonias, mas quem a utilizou com brilhantismo foi Wagner.


TROMBETA


Existe desde a antiguidade, quando era feita de cornos de animais, conchas ou tubos vegetais. Atualmente, com um sistema de pistões, emite todas as notas da escala o que lhe possibilita muitas variações.
Importante na orquestra, foi incluída nesta depois do século XVI.

TROMBONE



Geralmente de cobre, é formado por um tubo cilíndrico e varas corrediças, que transformam a altura dos sons. É um instrumento muito antigo, que tem sonoridade nobre e potente, mas também pode ser doce.
Há três tipos: o trombone contralto, o baixo e o tenor. Este último é o mais usado. Existe ainda o trombone de pistões ( estes substituem as varas).

TUBA



O maior instrumento de sopro; o de som mais grave e profundo. Existia no tempo dos antigos romanos, mas não na forma atual. Era, então, comprida e reta. A forma que tem hoje data do século XIX.
Wagner mandou construir um quarteto de tubas, com modificações, para suas representações em Bayreuth. Ficaram conhecidas como  as " tubas de Wagner."


Instrumentos de Percussão: Bombo, Pratos, Tambor, Timbales, Triângulos e outros

BOMBO




um tambor imenso, que produz os sons sob o impacto da batida de uma ou duas baquetas ( varas) de madeira. Já existia na antiguidade, em proporções ainda maiores. O instrumento era tão grande que exigia duas pessoas para tocá-lo: uma carregava-o nas costas e a outra dava os golpes com as baquetas.
Alguns autores afirma que foi Rossini quem o introduziu na orquestra; outros dizem que foi Spontini.

PRATOS





Este instrumento também chamado de Címbalo, nasceu no Oriente, e é formado por dois discos de metal ( liga de bronze e estanho). Quanto mais grossos seus pratos, mais agudo seu som;  quanto maior seu diâmetro, mais grave a sonoridade. Os pratos são tocados com uma baqueta ( pequena vara de madeira) de tambor.
Em a "Queda de Tróia", Berlioz conseguiu um efeito surpreendente, comovedor, com tremidos de címbalos.

TAMBOR


Bem menor do que o bumbo, este instrumento de percussão é tocado com dois pauzinhos, que ao baterem numa membrana de pele produzem as vibrações.
Originário do Oriente, apareceu na Europa em fins da Idade Média, mas desde a antiguidade já era conhecido.

TÍMBALES



conhecidos desde a antiguidade, são formados por uma caixa semi-esférica de cobre, com a parte de cima revestida de pele de animal. Sempre são usados dois ou três deles. Podem ser afinados com exatidão e de várias maneiras, durante a execução - o que não ocorre com os outros instrumentos de percussão.

TRIÃNGULO


composto por uma vara de aço, dobrada em forma triangular, com um dos ângulos aberto. É tocado com um pequeno martelo de metal.  O triângulo-  assim como os pratos, o gongo, as castanholas e outros instrumentos de percussão - é usado para a produção de efeitos especiais, sem altura definida de som.



FONTE: Suplemento Feminino - O Estado de São Paulo (4-7-1982)
fotos: Google -images