terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
CARNAVAL - PARTE II
Na virada do século, o Carnaval explodia com muita alegria, música e cores em todo o país. No Recife, o frevo; na Bahia, o samba gingado dos negros; no Rio de Janeiro, o samba de Noel Rosa, Lamartine Babo, Ari Barroso, Herivelto Martins, Zé Keti, Heitor dos Prazeres, João de Barro , Assis Valente, Ataulfo Alves, Joubert de Carvalho, os irmãos Valença e outros.
Carmen Miranda - a " Brasilian Bombshell", nascida em Portugal, passou a ser símbolo não só da alegria e da descontração brasileira, mas do próprio Carnaval verde-amarelo, com sua graça e charme de baiana estilizada. Foi a artista brasileira que maior sucesso fez no exterior.
Pode ser considerada a legítima precursora do " Tropicalismo" , movimento cultural desenvolvido por Caetano Veloso, Gilberto Gil e o grupo dos baianos, a partir do fim dos anos 60. Foi a primeira cantora a gravar " Taí " de Joubert de Carvalho, tendo sido este um de seus primeiros sucessos.
TAÍ
Joubert de Carvalho - Marcha 1930
Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ai, meu bem, não faz assim comigo, não
Você tem, você tem que me dar seu coração.
Esta estória de gostar de alguém
Já é mania que as pessoas têm
Se me ajudasse Nosso Senhor
Eu não pensaria mais em amor
Para avaliar a alma e o espírito de nosso povo, nada melhor que a transcrição de algumas das letras românticas de sambas e marchinhas de Carnaval, sem a malícia e o erotismo dos tempos de hoje:
O TEU CABELO NÃO NEGA
Lamartine Babo - Marcha - 1932
O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata,
Mulata eu quero o teu amor.
LINDA LOURINHA
João de Barro - Marcha 1934
Lourinha, Lourinha
Dos olhos claros de cristal;
Desta vez, em vez da moreninha
Serás a rainha do meu Carnaval
Loura boneca
Que vens de outra terra
Que vens da Inglaterra
Que vens de Paris
Quero te dar
O meu amor mais quente
Do que o sol ardente
Deste meu país.
PIERRÔ APAIXONADO
Noel Rosa e Heitor dos Prazeres - marcha 1936
Um pierrô apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma colombina
Acabou chorando, acabou chorando.
CAMISA LISTADA
Assis Valente - samba 1938
Vestiu uma caimsa listada
E saiu por aí
Em vez de tomar chá com torrada
Ele bebeu parati
Levava um canivete no cinto
E um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia:
- sossega leão! sossega leão!
Tirou o seu anel de doutor
Para não dar o que falar
E saiu dizendo: - eu quero mamar
Mamãe eu quero mamar.
JARDINEIRA
Benedito Lacerda - Marcha -1939
Ó jardineira por que estás tão triste
Mas o que foi que te aconteceu?
Foi a camélia que caiu do galho
Deu dois suspiros e depois morreu.
Vem Jardineira,
Vem meu amor,
Não fique triste que este mundo é todo teu
Tu és muito mais bonita
Que a camélia que morreu.
AURORA
Mario Lago e Roberto Roberti - marcha - 1941
Se você fosse sincera
Ô ô ô ô, Aurora
Veja só que bom que era
Ô ô ô ô, Aurora
Um lindo apartamento
Com porteiro e elevador
E ar refrigerado
Para os dias de calor.
Madame antes do nome
Você teria agora
Ô ô ô ô, Aurora.
CHIQUITA BACANA
João de Barro e Alberto Ribeiro - marcha - 1949
Chiquita bacana
Lá da Martinica
Se veste com uma casca
De banana nanica
Não usa vestido
Não usa calção
Inverno pra ela
É pleno verão
Existencialista com toda razão
Só faz o que mandao o seu coração
DAQUI NÃO SAIO
Paquito e Romeu Gentil - marcha - 1950
Daqui não saio
Daqui ninguém me tira
Onde é que eu vou morar
O senhor tem paciência de esperar
Ainda mais com quatro filhos
Onde é que eu vou parar...
CONFETE
David Nasser e Jota Junior - marcha - 1952
Confete.
Pedacinho de saudade
Ai, ai, ai, ai
Ao te ver na fantasia que usei
Confete, confesso que chorei.
SACA-ROLHA
Zilda do Zé e Valdir Machado - marcha - 1954
As águas vão rolar,
Garrafa cheia eu não quero ver sobrar
Eu passo a mão no saca-saca-saca-rolha
E bebo até me afogar.
Deixe as águas rolar.
Se a polícia por acaso me prender
E na última hora me soltar
Eu passo a mão no saca-saca-saca-rolha
E bebo até o sol raiar.
Deixe as águas rolar.
Em seguida, as letras de três marchas-rancho, pelas quais o autor do texto acima Paulo José da Costa jr.
declarou nutrir especial amor, em razão do embalo gosto da música e das palavras sentidas da letra.
PASTORINHAS
Noel Rosa e João de Barro - 1938
A Estrela Dalva no céu desponta
E a lua anda tonta com tamanho esplendor
E as pastorinhas pra consolo da lua
Vão cantando na rua lindos versos de amor.
Linda Pastora, morena da cor de Madalena
Tu não tens pena de mim
Que vivo tonto com o teu olhar
Linda Criança, tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre, sempre te amar
BANDEIRA BRANCA
Max Nunes e Laércio Alves
Bandeira Branca, amor,
Não posso mais,
Pela saudade que invade
Eu peço paz,
Saudade - mal de amor, de amor
Saudade - dor que dói demais
Vem, meu amor,
Bandeira Branca,
Eu peço paz!
MÁSCARA NEGRA
Zé Keti - 1967
Tanto riso, oh, tanta alegria
mais de mil palhaços no salão
Arlequim está chorando
Pelo amor da colombina
No meio da multidão.
Foi bom te ver outra vez,
tá fazendo um ano,
Foi no carnaval que passou,
Eu sou aquele pierrô
Que te abraçou,
Que te beijou, meu amor,
A mesma máscara negra
Esconde o teu rosto
E eu quero matar a saudade
Vou beijar-te agora,
Não me leve a mal,
Hoje é Carnaval.
Para encerrar este documentário sobre o Carnaval, segue o texto de Cassiano Ricardo:
CARNAVAL
Todas as árvores que moram na floresta ficaram surdas com tamanha festa.Numa algazarra enorme, os papagaios endomingados em seus fraques verdes, gritam coisas absurdas.Sapos, intanhas, pererecas, rãs e pipas tocam matracas pararacas. Um araponga louca dá o sinal para o começo do Carnaval.
E eis que começa de improviso a dança do tangará - pula pra lá, pula pra cá, pra lá, pra cá, pra lá, pra cá.
Um punhado de insetos multicores brilha numa clareira, em meio dos bambus, com um confete esplendido de luz, jogado pelo sol ao cabelo das árvores.Bate o vento no bumbo oco das porungas...Todo o chão da floresta é uma batalha de flores - trepadeiras azuis, presas de galho em galho, vão de uma fronde às outras, onde parasitas são laçarotes de fita.
O dia calvo em gargalhadas de ouro se explode. Um morro cheio de cupins, com o pente móvel do vento louco, está penteando os longos fios de sua barba de bode.No alto, uma planta caricata, de grande efeito pictórcio, nasce por cima de outras plantas e parece rodar como um carro alegórico que movelmente se desata numa chuva de prata.
Mas para terdes uma idéia exata desse estranho Carnaval, lembrai-vos que os cipós são serpentinas verdes numa trama infernal, e que a lua, por trás das trepadeiras, é uma cabeça arlequinal, que espia o Carnaval.
fonte: Meu São Paulo?... Nunca Mais! - Paulo José da Costa Jr. - Carnavais de outrora
fotos: Google
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