quarta-feira, 2 de maio de 2012

100 ANOS DE LUIZ GONZAGA - PARTE III

O BAIÃO E SUA ORIGEM



Eu vou mostrá pra vocês
como se dança um baião
e quem quiser aprender
é favor prestar atenção
morena chega pra cá
bem junto ao meu coração
agora é só me seguir
pois eu vou dançar o baião

eu já dancei balanceio
chamego, samba e xerém
mais o baião tem um quê
que as outras danças não têm
quem quiser é só dizer
pois eu com satisfação
vou dançar cantando o baião

eu já dancei no Pará
toquei sanfona em Belém
cantei lá no Ceará
e sei o que me convém
Por isso eu quero afirmá
com toda convicção
que sou loco pelo baião


Um casal dança no meio da assistência fazendo uso de palmas, sapateados, castanholas e estala os dedos com os braços abertos. Em seguida, dirige-se a outro casal e aplica-lhe uma umbigada. É sinal de que este novo par deve substituí-lo no centro da roda, demonstrando sua habilidade nos pés e velocidade nos movimentos do corpo.
Isto é, o baião ou baiano (por ser característico dos Estados Nordestinos, da Bahia para cima), dança mestiça, de origem africana, transformada quase numa dança típica do interior de Pernambuco.
Depois dos improvisos dos dançarinos, começa o desafio poético entre os participantes. Afirma o folclorista Luis da Câmara Cascudo que os cantadores sertanejos chama de baião ou rojão a breve introdução musical executada antes do desafio.
Em sua forma original, os instrumentos empregados na execução do baião foram a viola, o pandeiro e a rabeca. Com a urbanização e estilização realizadas por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira o ritmo nordestino chegou até mesmo às grandes orquestras.
Para o maestro Júlio Medaglia há um aspecto muito curioso no baião: sua utilização de modos medievais ao lado do sistema tonal, comum a quase toda a música popular urbana ocidental. O sistema tonal resume-se, primitivamente, num encadeamento básico de acordes que o acompanhador executa de acordo com as exigências da melodia, os quais caracterizam o tom no qual a música se baseia – os famosos dó maior, si menor, mi bemol maior, etc.
O sistema acústico modal (de origem grega)  é anterior ao tonal e era comum na Idade Média. Possui um encadeamento melódico diferente que pode ser observado no canto gregoriano. Os modos baseavam-se numa série de escalas (espécie de tons da nossa época), cada uma com características diferentes e com nomes próprios.
O baião Juazeiro, por exemplo, é baseado no modo medieval mixolídio. Ele assemelha-se a uma escala tonal de dó maior, mas com si bemol, isto é, com a sétima nota da escala abaixada. 
“Juazeiro velho amigo”: a sílaba “vê” é cantada no sétimo grau da escala, abaixado.
É difícil identificar na colonização brasileira qual é exatamente o fenômeno que originou o uso de modos medievais na composição popular. Provavelmente é uma consequência da catequese dos padres carmelitas e franciscanos, assim como o contato com os beneditinos, que se espalharam pelo norte do Brasil e eram os principais praticantes do canto medieval codificado por são Gregório.
Luiz, na época do baião (1948-1954) instalou seu quartel-general em São Paulo, onde era obrigado a cantar sobre marquises de edifícios ou instalar alto-falantes na rua, pois os auditórios não comportavam o público que queria ouvi-lo. De São Paulo viajava para todo o Brasil
A fase de grande sucesso do baião nas cidades do sul prolongou-se até meados dos anos 50. Nessa época, as mudanças ocorridas na música popular brasileira, levando ao público novos padrões, contribuíram para o declínio do baião e do êxito de Luiz Gonzaga nas grandes paradas.  Mas ele ainda era ouvido e muito nas pequenas cidades do interior, principalmente no nordeste.
As novas gerações dos grandes centros, contudo, poucos sabiam sobre o trabalho musical realizado por Luiz Gonzaga. O ostracismo a que foi condenado por boa parte da indústria cultural pode ser avaliado por um episódio ocorrido num momento em que a música jovem era a grande fonte de lucros da televisão e do rádio:
- Uma vez eu procurei um disc-jockey conhecido, e pedi pra ele tocar uma música minha no seu programa. E sabe o que ele me respondeu?
-Gonzaga, você tem que compreender que agora é a juventude, você já era, isso já passou; me desculpe a franqueza”.
- Aí, eu botei minha viola no saco e fui me esconder no meu pé de serra, pensando mesmo que já tinha acabado.
No entanto, foi a própria juventude a principal responsável pelo retorno e pela revalorização de Luiz Gonzaga, pelo reconhecimento de sua expressiva contribuição à música popular brasileira.
Tudo começou quando Carlos Imperial- que já apontara a semelhança da música dos Beatles com a música nordestina – lançou o boato de que o conjunto inglês ia gravar Asa Branca. A notícia estourou como uma bomba e, graças a isso, o Rei do Baião voltou a ser discutido e convidado a participar de programas de televisão.
Essa redescoberta do velho Lua assumiu maior significado quando os novos compositores brasileiros da década de 60, principalmente os tropicalistas, afirmaram haver encontrado em sua música uma das fontes de inspiração.
- eu nem conhecia Gilberto Gil, Caetano, e não conhecia a moçada – lembra Luiz Gonzaga. – De repente, começaram a dizer que eu era o
“pai da criança”.
A identificação de Luiz Gonzaga com os jovens compositores concretizou-se pela primeira vez num LP em que ele cantava músicas de Edu Lobo, Caetano, Gil, Vandré, Capinam. O disco significou para ele uma experiência nova e uma homenagem aos meninos – isso num momento político em que muitos dos homenageados estavam preferindo ou precisando deixar o país.
O reencontro de Luiz Gonzaga com a plateia urbana, contudo, já estava evidenciado.  Nesse sentido teve papel decisivo seu show realizado em março de 72, no Teatro Teresa Raquel. Os laços com o novo público  estreitaram-se também pelo grande número de shows universitário. É por essa época que ele volta às paradas de sucesso com Ovo de Codorna, uma “receita de afrodisíaco” de autoria do compositor nordestino Severino Ramos. Essa nova fase da carreira do Rei do Baião culmina com regravações de Asa Branca, por Caetano Veloso e, depois, Luiz Gonzaga Jr. Ambos recriaram a antiga composição, conferindo-lhe um caráter original.
Apesar do repetido sucesso de Asa Branca, essa não era a música preferida de Gonzaga. A maior parte de seu carinho volta-se para A Triste Partida, canção de autoria de Patativa de Assaré que descreve a longa e árdua jornada de um nordestino em direção à cidade grande. Gonzaga a considerava “ o assunto mais sério que já gravei”.
Luiz Gonzaga sempre foi apegado às coisas de seu “pé de serra”.Não perdia nenhuma oportunidade de visitar Exu, para rever os amigos e o velho pai.
Com 35 anos de vida profissional, e com cerca de oitocentas músicas gravadas, Luiz Gonzaga começou a instalar em Exu, o “Museu Luiz Gonzaga, contando com a assessoria de sua mulher, Helena. Roupas de apresentações, instrumentos musicais, partituras – enfim, tudo o que se refere à longa carreira artística de Luiz Gonzaga.
- Nada mais justo do que instalar o museu na minha terra, disse Luiz Gonzaga. Na verdade, eu nunca saí de lá, sempre estive ligado sentimentalmente ao meu pé de serra.
Luiz Gonzaga era Maçon e é o compositor, juntamente com Orlando Silveira, da música "Acácia Amarela". Luiz Gonzaga foi iniciado na Loja Paranapuan, Ilha do Governador em 03/04/1971.  
Luiz Gonzaga sofria de osteoporose há alguns anos. Morreu vítima de parada cardiorrespiratória no Hospital Santa Joana, em Recife, no dia 2 de agosto de 1989.



COMPOSIÇÕES E GRAVAÇÕES DE LUIZ GONZAGA

  • A dança da moda, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1950)
  • A feira de Caruaru, Onildo Almeida (1957)
  • A letra I, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1953)
  • A morte do vaqueiro, Luiz Gonzaga e Nelson Barbalho (1963)
  • A triste partida, Patativa do Assaré (1964)
  • A vida do viajante, Hervé Cordovil e Luiz Gonzaga (1953)
  • Acauã, Zé Dantas (1952)
  • Adeus, Iracema, Zé Dantas (1962)
  • Á-bê-cê do sertão, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1953)
  • Adeus, Pernambuco, Hervé Cordovil e Manezinho Araújo (1952)
  • Algodão, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1953)
  • Amanhã eu vou, Beduíno e Luiz Gonzaga (1951)
  • Amor da minha vida, Benil Santos e Raul Sampaio (1960)
  • Asa-branca, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1947)
  • Assum-preto, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1950)
  • Ave-maria sertaneja, Júlio Ricardo e O. de Oliveira (1964)
  • Baião, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1946)
  • Baião da Penha, David Nasser e Guio de Morais (1951)
  • Beata Mocinha, Manezinho Araújo e Zé Renato (1952)
  • Boi bumbá, Gonzaguinha e Luiz Gonzaga (1965)
  • Boiadeiro, Armando Cavalcanti e Klécius Caldas (1950)
  • Cacimba Nova, José Marcolino e Luiz Gonzaga (1964)
  • Calango da lacraia, Jeová Portela e Luiz Gonzaga (1946)
  • O Cheiro de Carolina, - Sua Sanfona e Sua Simpatia - Amorim Roxo e Zé Gonzaga (1998)
  • Chofer de praça, Evaldo Ruy e Fernando Lobo (1950)
  • Cigarro de paia, Armando Cavalcanti e Klécius Caldas (1951)
  • Cintura fina, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1950)
  • Cortando pano, Jeová Portela, Luiz Gonzaga e Miguel Lima (1945)
  • De Fiá Pavi (João Silva/Oseinha) (1987)
  • Dezessete légua e meia, Carlos Barroso e Humberto Teixeira (1950)
  • Feira de gado, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1954)
  • Firim, firim, firim, Alcebíades Nogueira e Luiz Gonzaga (1948)
  • Fogo sem fuzil, José Marcolino e Luiz Gonzaga (1965)
  • Fole gemedor, Luiz Gonzaga (1964)
  • Forró de Mané Vito, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1950)
  • Forró de Zé Antão, Zé Dantas (1962)
  • Forró de Zé do Baile, Severino Ramos (1964)
  • Forró de Zé Tatu, Jorge de Castro e Zé Ramos (1955)
  • Forró no escuro, Luiz Gonzaga (1957)
  • Fuga da África, Luiz Gonzaga (1944)
  • Hora do adeus, Luiz Queiroga e Onildo Almeida (1967)
  • Imbalança, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1952)
  • Jardim da saudade, Alcides Gonçalves e Lupicínio Rodrigues (1952)
  • Juca, Lupicínio Rodrigues (1952)
  • Lascando o cano, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1954)
  • Légua tirana, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1949)
  • Lembrança de primavera, Gonzaguinha (1964)
  • Liforme instravagante, Raimundo Granjeiro (1963)
  • Lorota boa, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1949)
  • Moda da mula preta, Raul Torres (1948)
  • Moreninha tentação, Sylvio Moacyr de Araújo e Luiz Gonzaga (1953)
  • No Ceará não tem disso, não, Guio de Morais (1950)
  • No meu pé de serra, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1947)
  • Noites brasileiras, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1954)
  • Numa sala de reboco, José Marcolino e Luiz Gonzaga (1964)
  • O maior tocador, Luiz Guimarães (1965)
  • O xote das meninas, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1953)
  • Ô véio macho, Rosil Cavalcanti (1962)
  • Obrigado, João Paulo, Luiz Gonzaga e Padre Gothardo (1981)
  • O fole roncou, Luiz Gonzaga e Nelson Valença (1973)
  • Óia eu aqui de novo, Antônio Barros (1967)
  • Olha pro céu, Luiz Gonzaga e Peterpan (1951)
  • Ou casa, ou morre, Elias Soares (1967)
  • Ovo azul, Miguel Lima e Paraguaçu (1946)
  • Padroeira do Brasil, Luiz Gonzaga e Raimundo Granjeiro (1955)
  • Pão-duro, Assis Valente e Luiz Gonzaga (1946)
  • Pássaro carão, José Marcolino e Luiz Gonzaga (1962)
  • Pau-de-arara, Guio de Morais e Luiz Gonzaga (1952)
  • Paulo Afonso, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1955)
  • Pé de serra, Luiz Gonzaga (1942)
  • Penerô xerém, Luiz Gonzaga e Miguel Lima (1945)
  • Perpétua, Luiz Gonzaga e Miguel Lima (1946)
  • Piauí, Sylvio Moacyr de Araújo (1952)
  • Piriri, Albuquerque e João Silva (1965)
  • Quase maluco, Luiz Gonzaga e Victor Simon (1950)
  • Quer ir mais eu?, Luiz Gonzaga e Miguel Lima (1947)
  • Quero chá, José Marcolino e Luiz Gonzaga (1965)
  • Padre sertanejo, Helena Gonzaga e Pantaleão (1964)
  • Respeita Januário, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1950)
  • Retrato de Um Forró,Luiz Ramalho e Luiz Gonzaga (1974)
  • Riacho do Navio, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1955)
  • Sabiá, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1951)
  • Sanfona do povo, Luiz Gonzaga e Luiz Guimarães (1964)
  • Sanfoneiro Zé Tatu, Onildo Almeida (1962)
  • São-joão na roça, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1952)
  • Siri jogando bola, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1956)
  • Tropeiros da Borborema, Raimundo Asfora / Rosil Cavalcante
  • Vem, morena, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1950)
  • Vira-e-mexe, Luiz Gonzaga (1941)
  • Xanduzinha, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1950)
  • Xote dos cabeludos, José Clementino e Luiz Gonzaga (1967)


Fonte:Nova História da Música Popular Brasileira
Abril Cultural -2ª edição -1977
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 QUI NEM JILÓ - LUIZ GONZAGA- HUMBERTO TEIXEIRA



IMBALANÇA - LUIZ GONZAGA- ZÉ DANTAS

FONTE: youtube

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