quinta-feira, 13 de setembro de 2012

VELHOS E NOVOS DA MÚSICA CAIPIRA - CORNÉLIO PIRES


Segundo Cornélio Pires (1884- 1958) – o primeiro a ir buscar em seu habitat o homem do campo genuíno -, a qualificação “caipira” deve ser motivo de orgulho. Já em 1912 o “Bandeirante do Folclore Paulista” ensinava na prática, numa apresentação no Colégio Mackenzie, em São Paulo, como se realiza um verdadeiro velório caipira, com seus cantos e costumes tradicionais. O êxito dessa demonstração obrigou-o a dar outra aula de brasilidade, no dia seguinte, quando reuniu ombro-a-ombro diretores, professores, alunos, serventes e faxineiros.
Em 1929, ele é o primeiro a levar a música caipira autêntica ao disco. A gravação da Colúmbia, de rótulo vermelho (série 20 000), foi o marco que dividiu a música do campo. Antes ela era composta por citadinos (maestros e poetas ilustres, em sua maioria) e apenas inspirada em motivos sertanejos. Era como um trabalho de laboratório, feito especialmente para casas de diversões; saía do teatro ou do circo para o disco, penetrando depois pelos rincões de nossa terra.
A Série CORNÉLIO PIRES significou um retrato sem retoque da arte da gente da roça. Para que o fenômeno acontecesse, Cornélio custeou todas as despesas, trazendo de Piracicaba sua primeira turma caipira e comprando ele próprio todos os discos, para vendê-los depois nas cidades onde proferia suas “Palestras Caipiras Cornélio Pires” em cines-teatros e clubes. E nos casarões de abastados fazendeiros, que (naqueles bons tempos) não trocavam a cachaça de alambique pelo uísque, nem a moda de viola pelo rock.

CAPITÃO FURTADO

Fonte: Nova História da Música Popular Brasileira
Abril Cultural 1978

CORNELIO PIRES

Cornélio Pires nasceu em 13 de Julho de 1884, em Tietê —SPe faleceu em 17 de fevereiro de 1958. Foi Jornalista, escritor, folclorista e espírita brasileiro. Foi ainda um importante etnógrafo da cultura caipira e do dialeto caipira.

Nota: O dialeto caipira surgiu no século XVIII quando a língua geral foi proibida pela Coroa portuguesa e passou-se a falar português com sotaque nheengatu, como é o caso de "muié", "cuié", "zóio", "orêia", "falá", "dizê","comê", dado que o nheengatu estranhava os infinitivos dos verbos e as consoantes duplas. A fala caipira não é um erro de linguagem, é um dialeto, uma legítima variante da língua portuguesa.

Iniciou a sua carreira viajando pelas cidades do interior do estado de São Paulo e outros, como humorista caipira.
Em 1910, Cornélio Pires, apresentou no Colégio Mackenzie hoje Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, um espetáculo que reuniu catireiros, cururueiros, e duplas de cantadores do interior.
O Colégio Mackenzie foi fundado e sempre mantido pela Igreja Presbiteriana, à qual Cornélio Pires pertencia. Ambicionando cursar a Faculdade de Fármacia, deslocou-se de Tietê para a cidade de São Paulo, a fim de prestar concurso de admissão. Não tendo obtido sucesso em seu intento, conseguiu empregar-se na redação do jornal “O Comércio de São Paulo”, e depois trabalhou no jornal  “O Estado de São Paulo, onde desempenhou a função de revisor. A partir de 1914, passou a trabalhar no periódico " O Pirralho”. Foi autor de mais de vinte livros, nos quais procurou registrar o vocabulário, as músicas, os termos e expressões usadas pelos caipiras. No livro "Conversas ao Pé do Fogo", Cornélio Pires faz uma descrição detalhada dos diversos tipos de caipiras e, ainda no mesmo livro, ele publica o seu "Dicionário do Caipira". Na obra "Sambas e Cateretês" recolhe inúmeras letras de composições populares, muitas das quais hoje teriam caído no esquecimento se não tivessem sido registradas nesse livro. A importância de sua pesquisa começa a ser reconhecida nos meios acadêmicos no uso e nas citações que de sua obra faz Antônio Cândido, professor na Universidade de São Paulo, o nosso maior estudioso da sociedade e da cultura caipira, especialmente no livro “Os Parceiros de Rio Bonito”.
Foi o primeiro a conseguir que a indústria fonográfica brasileira lançasse, em 1928, em discos de 78 rpm, a música caipira. Segundo José de Souza Martins, Cornélio Pires foi o criador da música sertaneja, mediante a adaptação da música caipira ao formato fonográfico e à natureza do espetáculo circense, já que a música caipira é originalmente música litúrgica do catolicismo popular, presente nas folias do divino, no cateretê e na catira (dança ritual indígena durante muito tempo vedada às mulheres, catolicizada no século XVI pelos padres jesuítas), no cururu (dança indígena que os missionários transformaram na dança de Santa Cruz, ainda hoje dançada no terreiro da igreja da Aldeia de Carapicuíba, em São Paulo, por descendentes dos antigos índios aldeados, nos primeiros dias de maio, na Festa de Santa Cruz, a mais caipira das festas rurais de São Paulo).
A criação de Cornélio Pires permitiu à nascente música caipira comercial, que chegou aos discos 78 rpm libertar-se da antiga música caipira original, ganhar vida própria e diversificar seu estilo. Atualmente a música caipira é chamada de música raiz para se diferenciar da música sertaneja. A música caipira dos discos 78 rpm nasce, no final da década, como o último episódio de afirmação de uma identidade paulista após a abolição da escravatura, em 1888, que teve seu primeiro grande episódio na pintura, especialmente a do Ituano "Almeida Junior”, expressa em obras como  "Caipira picando fumo",  "Amolação Interrompida", dentre outras. A ironia e a crítica social da música sertaneja originalmente proposta por Cornélio Pires, situa-se na formação do nosso pensamento conservador, que se difundiu como crítica da modernidade urbana. O melhor exemplo disso é a  "moda do bonde camarão, uma das primeiras músicas sertanejas e uma ferina ironia sobre o mundo moderno.
Após encerrar a sua carreira jornalística, Cornélio Pires organizou o "Teatro Ambulante Cornélio Pires", viajando com o mesmo de cidade em cidade, aplaudido por onde passava.
(Cornélio Pires é primo dos escritores Elsie Lessa, Orígenes Lessa, Ivan Lessa, Juliana Foster e Sergio Pinheiro Lopes).
CORNELIO PIRES E O ESPIRITISMO
Cornélio Pires pertencia a uma extensa família de presbiterianos e, na juventude, frequentava as reuniões da igreja com os seus familiares.
Durante as suas viagens pelo interior do país, teve contato com vários fenômenos mediúnicos, particularmente algumas comunicações do  espírito Emílio de Menezes, que muito o impressionaram. A partir de então passou a estudar as obras espíritas principalmente as de Allan Kardeck,  Léon Denis, Albert de Rochas e alguns livros psicografados pelo então jovem médium  Francisco Cândido Xavier. A partir de então dedicou-se ao Espiritismo, com particular interesse pelos fenômenos de efeitos físicos. Nos anos de  1944 a  1947 escreveu os livros " Coisas do Outro Mundo " e "Onde estás, ó Morte", tendo falecido quando se dedicava à redação da obra  " Coletânea Espírita".
Pouco antes de falecer, retornou à sua cidade natal, onde adquiriu uma  chácara, tendo fundado a instituição Granja de Jesus, um lar para crianças desamparadas, que não teve a oportunidade de ver implantado. Foi tio do jornalista espírita José Herculano Pires, tradutor e estudioso das obras de  Allan Kardec,  e associado à corrente científica do Espiritismo brasileiro.



ROLANDO BOLDRIN DECLAMA TEXTO PSICOGRAFADO DE CORNÉLIO PIRES -
PROGRAMA SR. BRASIL 30/6/2011


Fonte: Enciclopédia Wikepédia
Vídeo: Youtube





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