No final do século XIX, a extração de borracha começou a se expandir na Amazônia devido à grande procura internacional. O Brasil tornou-se o maior produtor do mundo, e Manaus uma das cidades mais ricas do país. Belém, situada na desembocadura do rio Amazonas, teve grande desenvolvimento. Entre 1868 e 1872 sua população aumentou de 30 mil para 62 mil habitantes, e em 1920 a população já era de 236 mil habitantes. Mas a hegemonia brasileira no fornecimento da borracha começou a se enfraquecer quando os ingleses fizeram extensas plantações no Oriente. Por volta de 1914, a produção brasileira restringia-se à metade da demanda mundial. No final da década de 30, o Brasil contribuía com apenas 3 %. Retrata Vicente Salles em Música e Músicos do Pará: “desenvolveu-se então uma arte e literatura regionais bem definidas. Afirmou-se o teatro popular , talvez o mais típico produto cultural dessa sociedade arruinada economicamente antes de haver amadurecido suas potencialidades criadoras”. Nesse período sombrio surgiram compositores que sobressaíram como criadores de canções. É a geração de WALDEMAR HENRIQUE, GENTIL PUGET, NAYME OVALLE, IBERÊ LEMOS, MÁRIO NEVES, SÁTIRO DE MELO.
As onze canções que formam a série LENDAS AMAZÔNICAS de Waldemar Henrique constituem expressivo exemplo da força telúrica da região. As melodias muito simples mas extremamente expressivas, mais próximas da fala do que do canto, apoiam-se numa escrita pianística geralmente imitativa e rítmica, e possuem impressionante intensidade lírica. Sete delas foram editadas: FOI BOTO, SINHÁ! COBRA GRANDE, TAMBATAJÁ, MATINTAPERERA, UIRAPURU, CURUPIRA E MANHA-NUNGARA.
FOI BOTO SINHÁ e MATINTAPERERA têm versos de Antônio Tavernard; as palavras das demais são de Waldemar Henrique. NAYÁ, JAPIYM, PAHY-TUNA e UIARA conservam-se em manuscrito.
NAYÁ
RECITAL DE MESTRADO DE ISABELA DE FIGUEIREDO SANTOS - 2009 -UFMG
FOI BOTO SINHÁ! (às vezes chamada de TAJAPANEMA, em virtude de seu verso inicial), TAMBATAJÁ e UIRAPURU tornaram-se conhecidas por milhares de brasileiros, a partir do movimento em torno do canto orfeônico que transformou a maior parte das canções de Waldemar Henrique em arranjos corais largamente difundidos.
RECITAL DE MESTRADO DE ISABELA DE FIGUEIREDO SANTOS - 2009 - UFMG
FOI BOTO, SINHÁ!
Tajá-panema chorou no terreiro
Tajá-panema chorou no terreiro
E a virgem morena fugiu pro costeiro
Foi boto, sinhá
Foi boto, sinhô
Que veio tentá
E a moça levou
No tal dançará
Aquele doutô
Foi boto, sinhá
Foi boto, sinhô
Tajá-panema se pôs a chorar
Tajá-panema se pôs a chorar
Quem tem filha moça é bom vigiá!
Tajá-panema se pôs a chorar
Tajá-panema se pôs a chorar
Quem tem filha moça é bom vigiá!
O boto não dorme
No fundo do rio
Seu dom é enorme
Quem quer que o viu
Que diga, que informe
Se lhe resistiu
O boto não dorme
No fundo do rio...
A 15 de fevereiro de 1905, em Belém do Pará, nasceu Waldemar Henrique da Costa Pereira. No ano seguinte morreu sua mãe Dona Joana da Costa Pereira. O pai, Thiago Joaquim Pereira, pouco depois levou a família para o seu país de origem e, em 1911, na cidade portuguesa do Porto, Waldemar iniciou o curso primário. Voltando a Belém em 1917, continuou seus estudos no Colégio Pará e Amazonas.
Waldemar gostava de música desde menino e, aos treze anos, começou um curso de piano. O pai não consentiu, e dispensou a professora; o rapaz passou a estudar clandestinamente, inclusive com duas moças da alta sociedade local. Ao lado dessa formação clássica, Waldemar imbuía-se do folclore e cantigas populares nas viagens de férias que fazia à casa de parentes, em Manaus e no interior do Pará. Percorria os rios Amazonas e Tocantins, demorava-se nas ilhas de Marajó e do Mosqueiro.
-- Talvez a canção OLHOS VERDES -- busca Waldemar Henrique no fundo da memória – tenha sido minha primeira composição. Eu a fiz em Soure, nas férias, acompanhando-me ao violão. Devia ter uns catorze anos – nunca a esqueci, tanto que da melodia fiz a composição para piano que Arnaldo Rebelo gravou com o nome de VALSINHA DO MARAJÓ.
ILHA DE MARAJÓ
UIRAPURU
ANY LIMA ( fotos do Estado do Pará)
Certa vez de montaria,
Eu desci o paraná
E o caboclo que remava
Não parava de falar
Ah, ah, não parava de falar
Ah, ah, que caboclo falador!
Me contou do lobisomem,
Da mãe d'água e do tajá
E disse do jurutaí que se ri pro luar,
Ah, ah, que se ri pro luar
Ah, ah, que caboclo falador!
Que mangava de visagem
que matou surucucu
e jurou com pavulagem
que pegou o uirapuru
ah, ah, que pegou o uirapuru
Ah. ah ,que caboclo tentador
Caboclinho meu amor
Arranja um pra mim
Ando doida pra pegar
Unzinho assim
O danado foi-se embora
E não quis me dar
Vou juntar meu dinheirinho
Prá poder comprar
No dia que eu comprar
Esse danado vai sofrer
Vou desassossegar
O seu bem-querer
Ah, ah; seu bem-querer
Ah, ah; ora, deixa isso prá lá!
Fonte: NOVA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
ABRIL CULTURAL -1979
Imagens: GOOGLE
Vídeos: YOUTUBE
No final do século XIX, a extração de borracha começou a se expandir na Amazônia devido à grande procura internacional. O Brasil tornou-se o maior produtor do mundo, e Manaus uma das cidades mais ricas do país. Belém, situada na desembocadura do rio Amazonas, teve grande desenvolvimento. Entre 1868 e 1872 sua população aumentou de 30 mil para 62 mil habitantes, e em 1920 a população já era de 236 mil habitantes. Mas a hegemonia brasileira no fornecimento da borracha começou a se enfraquecer quando os ingleses fizeram extensas plantações no Oriente. Por volta de 1914, a produção brasileira restringia-se à metade da demanda mundial. No final da década de 30, o Brasil contribuía com apenas 3 %. Retrata Vicente Salles em Música e Músicos do Pará: “desenvolveu-se então uma arte e literatura regionais bem definidas. Afirmou-se o teatro popular , talvez o mais típico produto cultural dessa sociedade arruinada economicamente antes de haver amadurecido suas potencialidades criadoras”. Nesse período sombrio surgiram compositores que sobressaíram como criadores de canções. É a geração de WALDEMAR HENRIQUE, GENTIL PUGET, NAYME OVALLE, IBERÊ LEMOS, MÁRIO NEVES, SÁTIRO DE MELO.
As onze canções que formam a série LENDAS AMAZÔNICAS de Waldemar Henrique constituem expressivo exemplo da força telúrica da região. As melodias muito simples mas extremamente expressivas, mais próximas da fala do que do canto, apoiam-se numa escrita pianística geralmente imitativa e rítmica, e possuem impressionante intensidade lírica. Sete delas foram editadas: FOI BOTO, SINHÁ! COBRA GRANDE, TAMBATAJÁ, MATINTAPERERA, UIRAPURU, CURUPIRA E MANHA-NUNGARA.
FOI BOTO SINHÁ e MATINTAPERERA têm versos de Antônio Tavernard; as palavras das demais são de Waldemar Henrique. NAYÁ, JAPIYM, PAHY-TUNA e UIARA conservam-se em manuscrito.
NAYÁ
RECITAL DE MESTRADO DE ISABELA DE FIGUEIREDO SANTOS - 2009 -UFMG
FOI BOTO SINHÁ! (às vezes chamada de TAJAPANEMA, em virtude de seu verso inicial), TAMBATAJÁ e UIRAPURU tornaram-se conhecidas por milhares de brasileiros, a partir do movimento em torno do canto orfeônico que transformou a maior parte das canções de Waldemar Henrique em arranjos corais largamente difundidos.
RECITAL DE MESTRADO DE ISABELA DE FIGUEIREDO SANTOS - 2009 - UFMG
FOI BOTO, SINHÁ!
Tajá-panema chorou no terreiro
Tajá-panema chorou no terreiro
E a virgem morena fugiu pro costeiro
Foi boto, sinhá
Foi boto, sinhô
Que veio tentá
E a moça levou
No tal dançará
Aquele doutô
Foi boto, sinhá
Foi boto, sinhô
Tajá-panema se pôs a chorar
Tajá-panema se pôs a chorar
Quem tem filha moça é bom vigiá!
Tajá-panema se pôs a chorar
Tajá-panema se pôs a chorar
Quem tem filha moça é bom vigiá!
O boto não dorme
No fundo do rio
Seu dom é enorme
Quem quer que o viu
Que diga, que informe
Se lhe resistiu
O boto não dorme
No fundo do rio...
A 15 de fevereiro de 1905, em Belém do Pará, nasceu Waldemar Henrique da Costa Pereira. No ano seguinte morreu sua mãe Dona Joana da Costa Pereira. O pai, Thiago Joaquim Pereira, pouco depois levou a família para o seu país de origem e, em 1911, na cidade portuguesa do Porto, Waldemar iniciou o curso primário. Voltando a Belém em 1917, continuou seus estudos no Colégio Pará e Amazonas.
Waldemar gostava de música desde menino e, aos treze anos, começou um curso de piano. O pai não consentiu, e dispensou a professora; o rapaz passou a estudar clandestinamente, inclusive com duas moças da alta sociedade local. Ao lado dessa formação clássica, Waldemar imbuía-se do folclore e cantigas populares nas viagens de férias que fazia à casa de parentes, em Manaus e no interior do Pará. Percorria os rios Amazonas e Tocantins, demorava-se nas ilhas de Marajó e do Mosqueiro.
-- Talvez a canção OLHOS VERDES -- busca Waldemar Henrique no fundo da memória – tenha sido minha primeira composição. Eu a fiz em Soure, nas férias, acompanhando-me ao violão. Devia ter uns catorze anos – nunca a esqueci, tanto que da melodia fiz a composição para piano que Arnaldo Rebelo gravou com o nome de VALSINHA DO MARAJÓ.
ILHA DE MARAJÓ
UIRAPURU
ANY LIMA ( fotos do Estado do Pará)
Ah, ah, que se ri pro luar
UIRAPURU
ANY LIMA ( fotos do Estado do Pará)
Certa vez de montaria,
Eu desci o paraná
E o caboclo que remava
Não parava de falar
Ah, ah, não parava de falar
Ah, ah, que caboclo falador!
Me contou do lobisomem,
Da mãe d'água e do tajá
E disse do jurutaí que se ri pro luar,
Ah, ah, que caboclo falador!
Que mangava de visagem
que matou surucucu
e jurou com pavulagem
que pegou o uirapuru
ah, ah, que pegou o uirapuru
Ah. ah ,que caboclo tentador
Caboclinho meu amor
Arranja um pra mim
Ando doida pra pegar
Unzinho assim
O danado foi-se embora
E não quis me dar
Vou juntar meu dinheirinho
Prá poder comprar
No dia que eu comprar
Esse danado vai sofrer
Vou desassossegar
O seu bem-querer
Ah, ah; seu bem-querer
Ah, ah; ora, deixa isso prá lá!
Fonte: NOVA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
ABRIL CULTURAL -1979
Imagens: GOOGLE
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