LEOPOLDO
HEKEL TAVARES nasceu no interior de
Alagoas, no munícipio de Satúba, no dia 16 de setembro de 1896, filho do Comendador José Tavares da Costa e de dona Elisa. Teve uma infância privilegiada, entre os
requintes de uma casa abastada e a alegria simples das festas populares. Criado
na capital do Estado, no bairro de Bebedouro, onde a fortuna do pai permitia
uma residência oficial, o menino escapava da casa austera para as festas
populares nas praças de Maceió: vaquejadas, cantadores de versos longos,
desafios, repentes. Buscava o encanto da
música e do ritmo de sua terra.
Desse
convívio resultaria seu interesse pela harmônica e pelo cavaquinho. Depois
viria o piano, em cujas teclas ele teimava, incentivado por uma tia paterna.
Contudo não eram notas musicais que o Comendador queria para o filho, a quem
destinara uma vida no comércio. Quando chegou a idade escolar, Hekel passou a
frequentar o Colégio dos Irmãos Maristas, em Maceió.
Em
1920, o comendador viu-se falido, e Hekel
trocou o retiro de Maceió pela euforia leve que predominava no sul.
Levou para o Rio de Janeiro o encanto pelas canções de Alagoas, que reproduzia
ao piano. Nesses anos todos de teimosia, Hekel
conseguiu uma base musical alicerçada no autodidatismo, que aliada ao
talento e inspirada nos temas de sua terra, possibilitou seus primeiros
arroubos de compositor. Além disso, a vida cultural do Rio de Janeiro – regada
a óperas e companhias teatrais estrangeiras – contribuiu para que Hekel delimitasse
seu espaço entre as músicas folclórica e erudita. Ele traçava planos, estudava possibilidades.
Queria iniciar uma atividade que lhe permitisse viver exclusivamente da música.
Enquanto isso vendia calculadoras e máquinas de escrever, porque a mesada era
magra e a sobrevivência difícil.
A
primeira oportunidade de trabalhar com música surgiu em 1926, quando Hekel
encontrou outro alagoano, o poeta José Maria Goulart de Andrade (conhecido na
época sob o pseudônimo de Zé Expedito). Dono de boas relações no meio intelectual do
Rio de Janeiro, Goulart vivia num ambiente requintado e queria experimentar uma
espécie de revista – fantasia literária - dirigida ao público mais sofisticado
que começava a surgir dos bairros da Zona Sul, em direção à Cinelândia e à
Praça Tiradentes. Juntos elaboraram então a revista carnavalesca STÁ NA
HORA, que estreou em janeiro de 1926, no
Teatro Glória. No elenco destacava-se Sylvio Vieira, um dos cantores líricos
nacionais mais conhecidos na época.
Enquanto
se lançava na vida artística, Hekel procurava aprimorar seus conhecimentos
musicais, estudando com João Otaviano e Francisco Braga (harmonia, composição,
contraponto, fuga e instrumentação), com Oscar Borgerth (violino) e com Souza
Lima (piano).
A
segunda revista assinada por Zé Expedito e Hekel Tavares, PLUS ULTRA, estreou em abril do mesmo ano também
no Teatro Glória. Nela Hekel apresentou uma novidade de orquestração,
acrescentando o oboé, instrumento ainda inédito em teatro musicado.
Na
terceira revista, BOM QUE DÓI, entre
alguns charlestons, muito ao gosto da época, ele incluiu um cateretê de sua
autoria: EU VI A LAGARTIXA. A composição foi gravada ainda em 1926 pelo
tenor J. Gomes Júnior com o selo Odeon.
Originada do folclore nordestino essa composição teve grande aceitação e foi
muito difundida. No final do ano, o
Teatro Cassino levava a revista MIRAGEM, com música de Hekel e texto de Max Mix (pseudônimo de Gilberto de
Andrade). Essa parceria se repetiu na revista MIÇANGAS e depois em MEXERICOS
que contou também com a participação de Luiz Peixoto no roteiro.
A
presença de Hekel na montagem de cinco musicais em apenas um ano valeu-lhe
grande popularidade. E esse sucesso trouxe alguma recompensa financeira,
permitindo-lhe realizar um sonho que na época pareceu excentricidade: construir
no alto da Gávea um tajupar (espécie de cabana rústica) estilizado,
inspirando-se nos modelos alagoanos.
Era
sua “casa de caboclo”, de onde podia ver o verde se derramando pela serra.
Em
1927, Hekel dedicou-se menos às revistas, fez DONDOCA, com Joracy Camargo e Léo
D’Ávila, e SOMBRINHAS, com Joracy, porque
empreendeu ao lado de Álvaro Moreyra, outra aventura de palco: o Teatro
de Brinquedo, que estreou com a peça ADÃO E EVA
E OS OUTROS MEMBROS DA FAMÍLIA,
incluindo músicas dessa nova parceria MAMÃZINHA QUE ESTÁIS NO CÉU, A MENINA QUER SABER, REALEJO e BAHIA. Foi uma curta experiência, pois, como teatro
ligeiro e elegante, era dirigido à alta classe média e não encontrou no Rio de
Janeiro da época, um público que o sustentasse. Assim pouco depois Hekel viu-se obrigado a voltar às revistas e
aos teatros da Praça Tiradentes.
LEILÃO - HECKEL TAVARES E JORACY CAMARGO
GRAVADA EM 1933
Fonte: Nova História da Música Popular BrasileiraAbril Cultural - 1979
Fotos: Google
Músicas: Youtube