Apesar
de sua intensa produção popular, Hekel sempre ansiou ao erudito. Nesse sentido,
foi incentivado por Martha Dutra (sua mulher desde 1934). Martha foi autora do
argumento da fantasia infantil O SAPO DOURADO, musicada por Hekel e Waldemar
Henrique e gravada em 1934 pela RCA. A partir daí ele abandonou gradativamente
a canção, passando a moldar sua tendência nacionalista em painéis sinfônicos.
No entanto, sua atitude não agradou aos companheiros, nem foi bem aceita pela
crítica: em certo momento ele se sentiu desacreditado. Acabou vendendo seu tajupar
para custear a edição de suas obras sinfônicas.
Após
o Sapo Dourado, Hekel Tavares gravou na Odeon a novela O GAÚCHO, com versos de
Vargas Neto; e finalmente, em 1935, ganhou seu espaço entre os eruditos com o
poema sinfônico ANDRÉ DE LEÃO E O DEMÔNIO DO CABELO ENCARNADO, baseado em
versos de Cassiano Ricardo (1895-1974) sobre um bandeirante (André) às voltas
com Curupira.
Hekel
Tavares viajou muito pelo Brasil, recolhendo farto material folclórico que
utilizou em algumas de suas composições, como o poema sinfônico O ANHANGUERA,
para orquestra, coro misto, solistas e
coros infantis. O argumento é de Martha
Dutra; os versos, de Murillo Araújo. Percorre a obra um intenso clima de
lirismo e religiosidade, enriquecido por instrumentos de percussão dos índios
tucunas (do alto Solimões) e poemas dos índios aritis como (Coza quereare
cootiene taiquaêna – “ O velho arco quebrou-se”). O Anhanguera foi gravado em 1954.
Voltado
apenas para a música erudita, Hekel Tavares afastara-se definitivamente das
canções. Mas jamais abandonou o espírito e os motivos da música regional.
Embora tenha até negado seu cancioneiro – chegou a excluir a maior parte de
suas canções ao idealizar a edição de suas obras completas, esse foi um gesto
inútil, pois em cada uma de suas partituras eruditas há traços nítidos do
estilo que o caracterizou como compositor de canções. Ali está despejada toda
sua alma, ali o sentimento prevaleceu sobre a teoria, a emoção sobre a técnica.
RAPSODIA NORDESTINA
Em
1968 Hekel Tavares empenhava-se na composição de uma Rapsódia Nordestina e
procurava entre colecionadores e pesquisadores uma sanfona “de fole gasto e som
roufenho”, como ele mesmo dizia, do tipo usado pelos cegos cantadores das
feiras do interior. No entanto, morreu no dia 8 de agosto de 1969, no Rio de
Janeiro, deixando a peça inacabada. E morreu, sem nunca ter saído do Brasil:
recusava todos os convites vindos do exterior. E, no entanto gostava de viajar,
não importava o desconforto a que fosse submetido por longas estradas – de
trem, de jipe, de jumento -, embrenhando-se pelo que há de mais Brasil. Dormia
onde pudesse, comia o que houvesse. Queria mesmo era viver com seu povo,
conhecer o que lhe ia no peito e expressar em música essas mágoas, essas
alegrias.
O concerto para piano e
orquestra em formas brasileiras, Opus 105 n.2 é a mais conhecida obra sinfônica
de Hekel Tavares. Sempre incluído no repertório de grandes regentes e intérpretes
brasileiros, esse concerto teve sua primeira audição em 1944, na cidade paulista de Santos, e
contou com a participação da pianista Guiomar Novaes.
“ eu nunca tinha visto
o diabo. Ouvia falar. Gostava dele, por isso , agora vi. Ninguém me tira da cabeça que é Hekel
Tavares. É o diabo! Não o diabo das óperas, barítono, de topete vermelho, de
cavanhaque, que faz ruindades. O diabo bom, aquele que foi menino desconfiado,
esse que é homem de braços abertos... Hekel Tavares...Brasileiro. Do Norte.
Carrega no coração todas as toadas do Brasil, a música que andava solta nos
rios, nas florestas, nas montanhas, nas nuvens, nas crianças, nos pobres das
feiras, nos pobres dos terreiros, em todos os pobres. Hekel Tavares mergulha a
cabeça no coração para escutar. Escuta, E então conta” ( Álvaro Moreyra).
Com a retirada da educação musical das escolas (1960) ficaram desconhecidos bons e importantes músicos que fizeram o brilhante passado de nossa música.
Fonte: Nova História da Música Popular Brasileira
Abril Cultural - 1979
Fotos: Google
Músicas: Youtube
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