sexta-feira, 29 de abril de 2011

MITOLOGIA: ORFEU E EURÍDICE: UM TRÁGICO DESTINO



Ao som de sua cítara as feras tornavam-se mansas e se deitavam a seus pés, os pássaros juntavam-se nas árvores em torno dele, os ventos dirigiam-se para a melodia, os rios paravam para ouvir – isso, e muito mais, era o que os poetas diziam de ORFEU, filho do rei da Trácia,  Éagro, e de sua musa Calíope.
Após a sua educação na Trácia, ele foi para o Egito, a fim de ser iniciado nos mistérios de Osíris. Não era fácil ser aceito no templo da Esfinge, mas ele conseguiu esse feito. Percorreu todas as etapas, superou todas as provas, até o dia em que o sumo sacerdote, conduzindo-o ao mais secreto recanto do templo, deu-lhe a conhecer o grande Arcano ou, como se dizia então, tirou-lhe a venda das trevas e deu-lhe a luz.
Voltando à pátria, utilizou-se da cítara, não para amansar as feras, mas para tocar o coração dos homens e iniciá-los, gradualmente, nos mistérios que Dioniso já introduzira na Hélade.
“Órficos”, então, foram chamados em sua honra esses mistérios dionisíacos nos quais eram revelados os segredos do além-túmulo e ensinava-se a expiar os crimes como condição necessária para entrar, purificados, no reino dos mortos.
Ao voltar da Cólquida com o Tosão de Ouro conquistado por Jasão, Orfeu superou no canto as fascinantes e perigosas Sereias, salvando assim toda a tripulação do navio.
Depois divulgou na Grécia o culto de Dioniso e de Perséfone: não comia carne e sobretudo abstinha-se de comer ovos, porque aprendera no Egito que o ovo é o princípio de tudo o que vive; conhecia a estreita analogia entre o ovo, o homem e o mundo.
Graças a ele o povo grego tornava-se cada vez mais consciente das forças e das leis que governam o reino dos vivos e dos mortos, evoluía interiormente, começando a colocar os primeiros e grandes “ porquês” sobre a vida dos deuses e do homem,  reconhecendo na música uma linguagem universal,  inteligível pelos mortais e pelos eternos.
Mas o nome de Orfeu está também ligado ao de Eurídice num trágico destino.
Eurídice era uma ninfa (ou a alma de Orfeu?) por quem ele se apaixonou, casando-se com ela. No dia das bodas, para subtrair-se ao desejo de Aristeu, filho de Apolo, a ninfa fugiu ao longo da margem de um rio. Estava descalça, e uma serpente, provavelmente uma víbora, mordeu-lhe o pé. Eurídice morreu.
Então Orfeu, para quem o reino dos mortos não era desconhecido, pois sua iniciação nos mistérios de Dioniso ensinara-lhe a conhecer o além-túmulo,desceu ao inferno para recuperar a jovem esposa, isto é, para ter conhecimento de todas as encarnações de sua alma.  Com o suavíssimo  som de sua cítara, conseguiu de Hades e Pérsefone a permissão para reconduzir Eurídice à terra como uma sombra, e que ele não se virasse para olhá-la até  chegarem em casa. Ao sair dos ínferos, Orfeu não resistiu à tentação de rever a esposa amada; virou-se, e ela desapareceu para sempre.
Talvez, em sua dor inconsolável, Orfeu tenha falado do mundo subterrâneo, dos meios e modos usados por ele para chegar à presença das divindades infernais – ele traiu, provavelmente, os segredos da passagem da vida para a morte e da morte para um novo nascimento, isto é, os mistérios de Elêusis, guardados pelas Mênades nos templos de Dioniso; e as Mênades, enfurecidas, mataram-no e partiram-no em pedaços.
Mas as Musas recolheram os membros dispersos do grande cantor e os sepultaram na Piéria com todas as honras. Sua Cítara, confiada ao rio Hebro, desceu até o mar, alcançando a ilha de Lesbos, onde depois nasceram muitos poetas.
A Orfeu foi erguido um templo, confiado aos cuidados de seus discípulos, os “órficos”, e Dioniso, pela boca de seu hierofante, anunciou que Orfeu, o querido aluno de Apolo e das Musas, tornara-se um deus.

Pequeno Dicionário
Calíope – filha de Zeus com Mnemósine ( a  Memória) – uma das nove musas.  Calíope ( de bela voz)  preside a poesia épica e a eloqüência.
Dioniso ( ou  Baco, romano) – filho de Zeus e Sêmele – Dioniso é o fogo divino que inflama e exalta o espírito  e a ação.
Jasão – filho de Éson, rei de Iolco, na Tessália, criado pelo centauro Quíron.
Sereias – seres fabulosos com busto de mulher e corpo de peixe: moravam na costa da Sicília e atraiam com seu mágico canto os viajantes que passavam por aqueles lugares.
Perséfone – filha de Zeus e Deméter- raptada por Hades, irmão de Zeus e senhor do reino das trevas eternas,  deusa do reino dos infernos.
Elêusis – cidade distante de Atenas, cerca de 4 horas.
Mênades – ou possuídas eram as sacerdotisas arrebatadas pelo deus Dioniso, isto é bêbadas de vinho, também conhecidas como bacantes.
Musas - filhas de Zeus e Mnemósine- São elas: Clio, Euterpe, Melpômene, Talia, Érato, Polímnia, Terpsícore, Urânia, Calíope.
Fonte: Mitologia: O primeiro  encontro – Bruno Nardini





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