segunda-feira, 13 de julho de 2015

A MÚSICA INDÍGENA (BRASIL)



KWORO KANGO (letra e vídeo) canto dos índios KAYAPÓ, vídeo MOACIR SILVEIRA
  
Música Indígena

Antes da chegada dos portugueses havia no Brasil um universo indígena organizado em nações e diferenciados na sua cultura, com suas histórias e migrações. Juntamente com esse cenária existia uma música que representava suas diferenças e que habitava o país de sul a norte e de leste à oeste
Com o processo da colonização e do grande extermínio dos povos indígenas muito desse universo musical desapareceu junto com seus criadores. Existem relatos de portugueses, holandeses, ingleses que se deslumbraram da relação que o índio tinha com a sua música e a maneira de interpretá-la. Um dos instrumentos de evangelização que a igreja católica utilizou foi através do ensinamento da música e o papel do índio   como executante nos rituais.
Atualmente ainda existe uma música indígena proporcional a existência de seus artistas.  Ela está presente e se nos torna conhecida por intermédio de discos gravados em coleções de etnomusicologia.
A música indígena apesar de estar em nosso consciente coletivo como um arquétipo fundamental ainda não está incorporada ao nosso universo sonoro do dia a dia. Ao povo brasileiro, a música indígena soa como ao mesmo tempo familiar através da memória coletiva, mas distante do referencial sonoro de seu hábito. As estruturas de sua expressão têm parâmetros diferenciados da música europeia e africana, nossas maiores influências.  A música indígena não apresenta um universo melódico com muitas alternativas; uma riqueza  rítmica e melódica como a música africana nem o legado da música europeia.
A música indígena ocupa um papel de extrema importância na sua sociedade. Ela não é uma opção de lazer (podendo também o ser). Este ritmo está integrado no universo social e cosmológico do povo indígena e presente em quase todas as suas atividades, em ocasiões de maior ou menor importância: no acordar, nas brincadeiras, nos rituais ( de passagem, funerários, etc.), nos jogos (lutas, corridas, etc.),  nos processos de cura e possessão, na caça, na pescaria, no relato de suas histórias tradicionais, nos discursos dos idosos, nas improvisações e saudações à visitantes, na preparação para a guerra, etc. Dois grandes fatos contribuem para o distanciamento da cultura brasileira em relação à música indígena:
O primeiro se refere ao descobrimento resultante da falta de registros sonoros e literatura sobre o assunto. Existem poucas gravações e estas, somente são encontradas nos meios acadêmicos ou no circuito dos colecionadores de música. A música indígena é mais conhecida no exterior onde desperta grande interesse por parte de etnomusicólogos e de instituições de diversos países que produziram algumas publicações e gravações a respeito. 
O segundo fato diz respeito aos mitos que cercam esse estilo musical, colocando-a numa posição fora de seu eixo  verdadeiro e que não ajuda na sua compreensão.
Apoiando-nos em análises do etnomusicólogo Anthony Seeger, a música indígena
NÃO É:

1 – Arcaica, no sentido de ser arquetípica da música ocidental enquanto anterioridade temporal. A música das sociedades indígenas é resultante de uma história própria e milenar de seus povos, não existindo certezas de que ela faça parte da pré-história da música ocidental.
2 – Naturalista, no sentido de ser uma imitação dos sons da natureza ( animais, pássaros). A inspiração de seu universo sonoro é muito diverso e intimamente ligado aos espíritos e seres sobrenaturais. Muitos de seus compositores têm o poder de ouvir e entender a linguagem e a música dos espíritos dos homens e da natureza.
3- Simples, por seus cantos serem repetitivos, por usar poucos instrumentos, ter ritmos semelhantes e muito pouca harmonia. Ao contrário, ela possuiu uma variedade grande  e diferenças sutis que devem ser analisadas com outros referenciais.
4- Tradicional, no sentido de não sofrer transformações. Os índios cantam as canções tradicionais, mas sempre estão inventa ou improvisando canções novas ou assimiladas do exterior, sendo apreciadores de músicas por outros ( aldeias vizinhas ou visitantes não índios).
5- Uma tradição sem importância, que se extinguirá com a diminuição das populações indígenas. Pelo contrário, atualmente está havendo um movimento, tanto por parte dos índios, no sentido de resgatar e conservar a cultura musical como alicerce de sua identidade cultural, como também um interesse crescente por parte de pesquisadores e apreciadores da música indígena.

Fonte: Wilson Sá Brito – Canto Livre – Julho/agosto/ novembro/dezembro de 1997
            Vídeo - Youtube - Moacir Silveira
             fotos: Google - Wikipedia.
 

 foto nr. 1 - índios Kamaiurá tocando uma flauta típica, Uruá.
 foto nr. 2 - índios cantando no Kuarup
 foto nr. 3 - danca Tupiniquim de protesto



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