KWORO KANGO (letra e vídeo) canto dos índios KAYAPÓ, vídeo MOACIR SILVEIRA
Música Indígena
Antes
da chegada dos portugueses havia no Brasil um universo indígena organizado em
nações e diferenciados na sua cultura, com suas histórias e migrações.
Juntamente com esse cenária existia uma música que representava suas diferenças
e que habitava o país de sul a norte e de leste à oeste
Com
o processo da colonização e do grande extermínio dos povos indígenas muito
desse universo musical desapareceu junto com seus criadores. Existem relatos de
portugueses, holandeses, ingleses que se deslumbraram da relação que o índio
tinha com a sua música e a maneira de interpretá-la. Um dos instrumentos de evangelização
que a igreja católica utilizou foi através do ensinamento da música e o papel
do índio como executante nos rituais.
Atualmente
ainda existe uma música indígena proporcional a existência de seus
artistas. Ela está presente e se nos
torna conhecida por intermédio de discos gravados em coleções de
etnomusicologia.
A
música indígena apesar de estar em nosso consciente coletivo como um arquétipo
fundamental ainda não está incorporada ao nosso universo sonoro do dia a dia.
Ao povo brasileiro, a música indígena soa como ao mesmo tempo familiar através
da memória coletiva, mas distante do referencial sonoro de seu hábito. As estruturas
de sua expressão têm parâmetros diferenciados da música europeia e africana,
nossas maiores influências. A música
indígena não apresenta um universo melódico com muitas alternativas; uma
riqueza rítmica e melódica como a música
africana nem o legado da música europeia.
A
música indígena ocupa um papel de extrema importância na sua sociedade. Ela não
é uma opção de lazer (podendo também o ser). Este ritmo está integrado no
universo social e cosmológico do povo indígena e presente em quase todas as
suas atividades, em ocasiões de maior ou menor importância: no acordar, nas
brincadeiras, nos rituais ( de passagem, funerários, etc.), nos jogos (lutas,
corridas, etc.), nos processos de cura e
possessão, na caça, na pescaria, no relato de suas histórias tradicionais, nos
discursos dos idosos, nas improvisações e saudações à visitantes, na preparação
para a guerra, etc. Dois grandes fatos contribuem para o distanciamento da
cultura brasileira em relação à música indígena:
O
primeiro se refere ao descobrimento resultante da falta de registros sonoros e
literatura sobre o assunto. Existem poucas gravações e estas, somente são
encontradas nos meios acadêmicos ou no circuito dos colecionadores de música. A
música indígena é mais conhecida no exterior onde desperta grande interesse por
parte de etnomusicólogos e de instituições de diversos países que produziram
algumas publicações e gravações a respeito.
O
segundo fato diz respeito aos mitos que cercam esse estilo musical, colocando-a
numa posição fora de seu eixo verdadeiro
e que não ajuda na sua compreensão.
Apoiando-nos
em análises do etnomusicólogo Anthony Seeger, a música indígena
NÃO
É:
1
– Arcaica, no sentido de ser arquetípica da música ocidental enquanto
anterioridade temporal. A música das sociedades indígenas é resultante de uma
história própria e milenar de seus povos, não existindo certezas de que ela
faça parte da pré-história da música ocidental.
2
– Naturalista, no sentido de ser uma imitação dos sons da natureza ( animais,
pássaros). A inspiração de seu universo sonoro é muito diverso e intimamente
ligado aos espíritos e seres sobrenaturais. Muitos de seus compositores têm o
poder de ouvir e entender a linguagem e a música dos espíritos dos homens e da
natureza.
3-
Simples, por seus cantos serem repetitivos, por usar poucos instrumentos, ter
ritmos semelhantes e muito pouca harmonia. Ao contrário, ela possuiu uma
variedade grande e diferenças sutis que
devem ser analisadas com outros referenciais.
4-
Tradicional, no sentido de não sofrer transformações. Os índios cantam as
canções tradicionais, mas sempre estão inventa ou improvisando canções novas ou
assimiladas do exterior, sendo apreciadores de músicas por outros ( aldeias
vizinhas ou visitantes não índios).
5-
Uma tradição sem importância, que se extinguirá com a diminuição das populações
indígenas. Pelo contrário, atualmente está havendo um movimento, tanto por
parte dos índios, no sentido de resgatar e conservar a cultura musical como
alicerce de sua identidade cultural, como também um interesse crescente por
parte de pesquisadores e apreciadores da música indígena.
Fonte:
Wilson Sá Brito – Canto Livre – Julho/agosto/ novembro/dezembro de 1997
Vídeo - Youtube - Moacir Silveira
fotos: Google - Wikipedia.
foto nr. 1 - índios Kamaiurá tocando uma flauta típica, Uruá.
foto nr. 2 - índios cantando no Kuarup
foto nr. 3 - danca Tupiniquim de protesto
fotos: Google - Wikipedia.
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