Gilda Abreu - 1937
Mas
nem só de operetas vivia o tenor. Sempre que podia, fazia suas gravações que
até 1926 eram mecânicas; - a gente gravava num funil. Na ponta desse funil
tinha um diafragma e a potência da voz é que fazia o diafragma cortar a cera.
Se a gente cantasse mal e perdesse a cera, o pessoal da fábrica quase nos
matava...
Depois
o patrimônio da Casa Edison passou para a Odeon, e o acervo incluía Vicente
Celestino. Lá não havia mesa de controle e os técnicos assustados com aquele vozeirão mandavam
Vicente recuar 20 metros e dar as costas ao microfone para não partir o
cristal. O resultado ele jamais esqueceria:
- minha voz parecia um eco, e não se entendiam
as palavras. Escrevi para o tenor Martinelli, nos Estados Unidos, e ele me
informou que gravava a 1 metro do microfone. Foi assim que consegui chegar mais
perto e ser melhor gravado-.
Depois
Vicente foi para a Columbia (que depois
se tornou Continental), de onde logo saiu, irritado com a péssima qualidade da
gravação de CABOCLA SERRANA (Cândido “Índio” das Neves”). Foi para a RCA VITOR
(1935), onde ficaria para o resto da vida.
A
partir da união com Gilda, parece que o potencial de Vicente começou a ser
melhor aproveitado – há mesmo quem diga que foi ela a “cabeça” artística e
comercial da dupla. O tenor, que já vinha há algum tempo fazendo tentativas de
composição (conseguira gravar uma, em 1930, na Odeon: a canção QUANDO EU TE VI, entra no ramo em 1935, com o tango-canção OUVINDO-TE. Na gravação RCA, a orquestra
era regida pelo companheiro de infância Alfredo da Rocha Viana Jr., o
Pixinguinha.
Ainda
naquele ano, Vicente escreve mais duas canções AMO-TE e PATATIVA, que
seria sucesso em 1936 e 1937, e canta com Gilda, LUCIA DI LAMMERMOOR, de Donizetti , no Teatro São Pedro.
De
1936 é a canção que mais renderia, em
lucros e prestígio, a Vicente Celestino: O ÉBRIO.
A música fez tanto sucesso que Vicente a transformou em peça teatral, estreada em São Paulo em 1942. E quatro anos mais tarde Gilda Abreu, uma das primeiras mulheres a dirigir filmes no Brasil (BONEQUINHA DE SEDA, 1935), transpôs O ÉBRIO para o cinema. A tragédia do Dr. Gilberto, transformado em alcoólatra pelo amor de uma mulher, emocionou gerações e fez vibrar os mais remotos cinemas do país. A popularidade de O ÉBRIO foi tanta que o personagem chegou a ser identificado com seu criador (Vicente detestava isso, pois orgulhava-se de ser abstêmio). Mas, com todo esse sucesso, O ÉBRIO não chegou a enriquecer Vicente.
A música fez tanto sucesso que Vicente a transformou em peça teatral, estreada em São Paulo em 1942. E quatro anos mais tarde Gilda Abreu, uma das primeiras mulheres a dirigir filmes no Brasil (BONEQUINHA DE SEDA, 1935), transpôs O ÉBRIO para o cinema. A tragédia do Dr. Gilberto, transformado em alcoólatra pelo amor de uma mulher, emocionou gerações e fez vibrar os mais remotos cinemas do país. A popularidade de O ÉBRIO foi tanta que o personagem chegou a ser identificado com seu criador (Vicente detestava isso, pois orgulhava-se de ser abstêmio). Mas, com todo esse sucesso, O ÉBRIO não chegou a enriquecer Vicente.
A
carreira do grande ídolo estava consolidada. Mas Vicente Celestino prosseguia:
o trágico tango-canção CORAÇÃO MATERNO (1937)
é transformado em peça teatral em 1947, para chegar ao cinema, sempre
arrancando muitas lágrimas, em 1951. Paralelamente a isso, o tenor ia marcando
a música popular brasileira com suas composições; SERENATA, MATEI (1940), ENQUANTO
OS LÍRIOS FLORESCEM (1943), MIA
GIOCONDA (1945), PORTA ABERTA, ALTAR
DE LAMA ( 1946), ENCANTAMENTO
(1952) e muitas outras.
Quando
morreu, em 23 de agosto de 1968, Antônio Vicente Filipe Celestino podia se
orgulhar de ter dado seu recado a três gerações.
Em
abril de 1977 estreava no Cine Paissandu, no Rio de Janeiro, o curta-metragem
(17 minutos) CANÇÃO DE AMOR, dirigido
por Gilda Abreu e produzido pela Cinédia. Usando fotografias antigas, trechos
dos outros filmes estrelados por Vicente Celestino (O Ébrio
e Coração Materno) e algumas tomadas da residência da viúva, o
documentário esboça uma pequena biografia do cantor, compositor e ator. Segundo
Gilda Abreu: “ Canção de Amor tenta
ser uma visão pessoal do homem com quem convivi durante 34 anos. Um filme
piegas e nostálgico – como eu”.
VICENTE CELESTINO
Nasceu para cumprir a linda missão que lhe foi dada
por Deus:
a de cantar
até o último dia de sua vida.
Durante 65 dos 74 anos que viveu,
fez ouvir pela terra que tanto amou
o milagre vivo de sua garganta privilegiada.
Posso assegurar que sua maior alegria
- ele era um homem do povo –
foi ter proporcionado à sua gente
momentos de felicidade com suas canções.
GILDA ABREU
Boa
parte da fama e do sucesso de Vicente Celestino deve-se à imagem de casal feliz
e unido que ele e Gilda Abreu cultivaram durante mais de 50 anos. Unidos na profissão e no amor desde aquele
inesquecível dia 25 de setembro de 1933, Gilda e Vicente só se separariam no dia da morte do cantor, numa fria noite de
agosto, em São Paulo. Gilda conheceu Vicente espreitando-o pela porta do gabinete de sua mãe, cantora e
professora de canto. Sem saber o tenor era espiado por aquela que mais de dez anos depois a ele
se declararia a meia voz, em plena cena. Gilda era francesa: nascera em Paris
em 1904, e aos quatro anos viera para o Brasil. Cedo seguiu os passos de Dona
Nícia Silva Abreu, podendo encontrar-se profissionalmente com Vicente Celestino
em 1933, durante a revista musical A CANÇÃO BRASILEIRA. O casamento foi no dia 25 de setembro daquele
ano. Casaram-se de manhã, e à noite, durante a apresentação, num quadro em que
Gilda aparecia de noiva, foi usado o mesmo vestido da cerimônia. E, entre os
sons da marcha nupcial e uma romântica revoada de pombos, repetiram, agora já
com sabor de glória, a emoção do casamento.
Fonte:
Nova História da Música Popular Brasileira
Abril
Cultural - 1977
Fotos:
Google
Nenhum comentário:
Postar um comentário