O
romantismo dos poemas de Cândido logo chamou a atenção dos grandes cantores da
época. Em sua casa da Rua Torres de Oliveira, na Piedade (subúrbio onde também
morou Catulo),ele recebia Orlando silva, Silvio Caldas, Almirante, Vicente
Celestino, o cronista Vagalume. Muitos compositores iam lá saber sua opinião
sobre uma música, outros queriam que ele corrigisse uma peça. Nessas reuniões,
Índio fazia muito versos e, generoso, dava-os aos amigos.
Ele
era atração não apenas nas audições dos teatros do Rio, mas também nas serestas
das cidades perdidas pelo interior. Conta Henrique de Melo Moraes que, uma vez,
ele e Cândido das Neves fizeram uma grande serenata na festa religiosa de
Congonhas do Campo, Minas, para a qual afluíam então milhares de pessoas das
cidades vizinhas. Eles foram a pé da
estação de Lafaiete até Congonhas, cantando sempre, cercados pelo carinho do
povo que os acompanhava.
Nessa
época, Cândido era agente da Central do Brasil na estação de Coronel Cardoso,
Minas. A estada na cidade foi fatal: naquele frio, ele pegou logo um resfriado
que lhe afetou a garganta, deixando-o quase mudo. Desde que se casara pela
segunda vez, em 1932, havia mudado muito: raramente ia a serestas ou festivais, que eram
realizados em homenagem a um ou outro
artista, por um pretexto qualquer. Ao voltar de Minas, onde passou um ano, ele
foi morar na Casa 6 da Vila da Rua Dr. Bulhões, 117, no Engenho de Dentro,
subúrbio onde Catulo terminou seus dias. Nem Melo Moraes, advogado, seu
compadre, percebeu o que havia com Índio. No dia do batizado do pequeno
Eduardo, Cândido não apareceu. Melo Moraes ficou aborrecido, quis saber a
razão. Dona Débora explicou:
-
ele está encabulado, com uma rouquidão tremenda. Nem pode falar.
Melo
Moraes percebeu que não era coisa simples. A 13 de novembro de 1934, Cândido
morreu. Matou-o uma tuberculose galopante na laringe.
Além
da família, pouca gente foi ao enterro: o Dr Melo Moraes, o criminalista Hugo
Baldessarini, o compositor Bororó, autor de Da Cor do Pecado.
Alguns
meses depois começava a imortalidade de Cândido das Neves: Orlando Silva
gravava em 1935 LÁGRIMAS e ÚLTIMA
ESTROFE no disco Victor 33975, que
durante muito tempo foi disputado a peso de ouro, como uma preciosidade, nos
sebos de discos. ÚLTIMA ESTROFE teve gravações também de Castro Barbosa (a primeira), Vicente
Celestino, Nelson Gonçalves e Silvio Caldas.
ORLANDO SILVA - ÚLTIMA ESTROFE
Índio
não suspeitaria que muitos anos depois, em 1971, um cantor moderno, Tito Madi,
pudesse cantar diariamente na Bierklause, casa noturna do Rio, uma canção de
sua autoria.
A posteridade teria
dado razão a Orestes Barbosa? Este grande da seresta costuma dizer que só houve
três cancioneiros fortes na nossa música popular Índio das Neves, Hermes Fontes
e Catulo da Paixão Cearense. E ao primeiro fazia este elogio: - ÍNDIO DAS NEVES É UM GÊNIO.
EDUARDO DAS NEVES
Eduardo
das Neves deixou uma modinha dedicada a seu filho ÍNDIO DAS NEVES, autor de “
Noite Alta, Céu Risonho”, na qual há
estrofes assim:
“Não
nego, pois faço alarde
E
tenho pressentimento
De
que ele será mais tarde
Brasileiro
de talento”.
Não
se enganou.
Índio das Neves é um
cultor do gênero que sagrou o grande carioca que Eduardo foi.
ORESTES BARBOSA, em seu
livro SAMBA (1933).
NOITE CHEIA DE ESTRELAS - VICENTE CELESTINO
Fonte: Nova História da Música Popular Brasileira
Abril Cultural - 1978
Fotos: Google
Vídeos: Youtube
Abril Cultural - 1978
Fotos: Google
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