domingo, 28 de junho de 2020

MORAES MOREIRA E OS NOVOS BAIANOS - III


  


Os Novos Baianos alugam um sítio na Estrada dos Bandeirantes, na zona industrial de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, que foi apelidado de “Cantinho da Vivó” e viu-se tomado por fanzocas exaltados, amigos de longa data, curiosos e, algumas inesperadas vezes, policiais.
Começa um roteiro extensivo de excursões pelo país, a reboque da imensa repercussão de Acabou Chorare. Como era de se esperar, os Novos Baianos mudam, mais uma vez, de gravadora. Numa espécie de consagração de seu alter ego favorito, gravam na Som Livre N.B. Futebol Club, um disco intimista, pessoal, como se refletiria no show seguinte, com o palco enfeitado de bandeirolas de São João e repleto de filhos dos membros do grupo e de seus acólitos.
A essa altura o sítio de Jacarepaguá já havia sido tomado por pessoas completamente estranhas ao grupo.
A convite de um executivo da Continental, os Novos Baianos vão morar em uma fazenda em São Paulo, onde gravam seu terceiro álbum, ALUNTI. Joãozinho Trepidação (ex-Galvão) explica o título: - é tudo que não tem explicação, que está pra lá de alucinação.
Talvez pela capa feia, de cores berrantes, talvez pela má divulgação da Continental, Alunti não chega a vender tanto quanto seus predecessores. O grupo se desentende com a gravadora, seguindo a tradição de contratos a curto prazo e estrepolias com seus contratantes. 
 - Uma vez – conta Pepeu -, a gravadora não nos tinha pago e estávamos no estúdio para gravar. Nossa reação foi deitar no chão do estúdio  e dizer que iríamos dormir lá, porque nosso aluguel já tinha vencido e a grana não tinha pintado.
E vem a crise. Na procura de seus caminhos próprios e inconformado com a despropositada estagnação musical do grupo, Moraes Moreira sai dos Novos Baianos para fazer carreira solo. Desfalcados de um compositor, os Baianos encarregam Pepeu de compor, dando-lhe carta branca para redirecionar o grupo.
Praticamente no mesmo período, Dadi deixa os Novos Baianos, aparentemente sem planos de trabalho individual.
– Dai saiu no dia de um show na Bahia, e tive que chamar meu irmão Didi para substituir Dadi. Não foi uma grande mudança: só trocamos o A pelo I. O pobre do Didi teve que aprender quinze músicas em menos de 24 horas.
O público está curioso. A crítica desorientada. Seria esse o final dos Novos Baianos? Muitos viam em Moraes a figura do líder, do leme da bainave.
Sublime surpresa quando em 1975, Moraes lança seu primeiro disco, com um estilo completamente diverso do padrão NB de brasilidade, apoiado por um trio que seria o embrião do hoje próspero COR DO SOM: Dadi no baixo, Gustavo na bateria e Armandinho nas guitarras, no bandolim e no cavaquinho. Inicia-se um profundo envolvimento  de Moraes com o Trio Elétrico de Dodô e Osmar, a começar pelo uso de Armandinho e Aroldo, filhos de Osmar, em gravações e espetáculos e, mais tarde, iniciando uma série de LPs com o Trio Elétrico, como produtor, compositor, cantor e músico: O Jubileu de prata do trio elétrico, em 75,  e É a massa, no começo de 77, justamente durante o carnaval.
E os Novos Baianos, por onde andavam? Por dedução, poderia ser o ocaso, o fim. Mas como todo malandro joga bem com seu melhor elemento, a surpresa, os NB lançam, no fim de 76, novo LP em nova gravadora, a Tapecar, com a qual assinaram  o maior contrato de suas vidas: dois anos. Caia na Estrada e perigas ver traz o grupo revitalizado e totalmente nas mãos vulcânicas e irrequietas de Pepeu. Músicas desenfreadas no ritmo, de um pique de locomotiva. Os NB-safra 76 estão mais energizados do que nunca, adrenalina pura. Pepeu roncando feroz sua guitarra, Jorginho e Didi indo atrás e o grupo faiscando.



Em 1977 duas novidades, postas no mercado quase simultaneamente: os LPs Praga de Baiano, dos NB, e Cara e Coração, de Moraes Moreira. Cada vez mais os NB eram de Pepeu. Quase todo instrumental, Praga de Baiano  traz a primeira gravação do Trio Elétrico dos Novos Baianos, que ocupa 85% do disco, dando pouco espaço às vozes de Baby e Paulinho.
Cara e Coração mostra um Moraes Moreira amadurecido, uma integrada Cor do Som.
(Pepeu já havia cedido o nome ao grupo, que ganhara Mu, irmão de Dadi nos teclados e Ari na percussão). Moraes começa a se apresentar com o Trio Elétrico, mostrando seu pouco conhecido lado de “freveiro”. Os Novos Baianos reduzem o número de seus espetáculos, ficando praticamente incomunicáveis com o público, que passa a se indagar sobre a dissolução do grupo. A ausência é justificada por Pepeu: - Os Novos Baianos nunca acabaram. O que houve é que cada um começou a tratar de seu projeto individual, coisa pouco feita aqui no Brasil e que, por isso, gera boatos de fim do grupo.
O primeiro passo desses projetos é do próprio Pepeu, que gravou um álbum Geração de Som PELA CBS, “de nível”, como desejava, com os músicos que escolheu – Márcio Montarroyos, Ed Maciel, Jorginho, seu irmão – e, usando recursos de estúdio que não conseguia com os Novos Baianos, como o Aphex Aural Exciter, uma maravilha eletrônica que consegue recriar no disco o “ambiente musical, a atmosfera” que se perde nas paredes estéreis do estúdio.
Baby também prepara um disco seu, pela WEA, e Paulinho Boca-de-Cantor faz uma triagem para escolher sua etiqueta. Galvão reúne material para um livro. Moraes segue sua carreira, gravando novo disco, Alto-Falante, que recria a parceria Moraes-Galvão em uma faixa.
Para 1979, os NB preparam – pela CBS – um álbum comemorativo de seus dez anos, e a presença de Moraes está confirmada. Um disco de camaradagem, checando velhos pontos. Os rumores são falsos – os NB não acabaram, e provam que  “quem nasceu para Barra Lúcifer/ Não foge/Nunca some” (Barra Lúcifer).





Fonte: NOVA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
           ABRIL CULTURAL - 1978
Fotos: GOOGLE
Vídeos: YOUTUBE


MORAES MOREIRA E O PÚBLICO INFANTIL

Em 1975, Moreira saiu do grupo para se lançar em carreira solo.  
Em 1980, no LP Bazar Brasileiro em parceria com Jorge Mautner lança a“LENDA DO PÉGASO”, fábula mitológica: Um passarinho feio que vivia a sonhar em ser o que não era e virou Pégaso, o cavalo voador.
No projeto de  Vinicius de Moraes em parceria com Toquinho, Moreira participou do  musical “A Arca de Noé” incluindo  a gravação dos dois LPs.     
 No  álbum “ Casa de Brinquedos” (1983) de Toquinho,  interpretou  A Bola.  


13 DE ABRIL 2020 – MORRE NO RIO DE JANEIRO , AOS 72 ANOS DE IDADE, MORAES MOREIRA.


LENDA DO PÉGASO


Era uma vez, vejam vocês, um passarinho feio
Que não sabia o que era, nem de onde veio
Então vivia, vivia a sonhar em ser o que não era
Voando, voando com as asas, asas da quimera 

Sonhava ser uma gaivota porque ela é linda e todo mundo nota
E naquela de pretensão queria ser um gavião
E quando estava feliz, feliz, ser a misteriosa perdiz
E vejam, então, que vergonha quando quis ser a sagrada cegonha

E com a vontade esparsa sonhava ser uma linda garça
E num instante de desengano queria apenas ser um tucano
E foi aquele, aquele ti-ti-ti quando quis ser um colibri
Por isso lhe pisaram o calo e aí então cantou de galo

Sonhava com a casa de barro, a do joão-de-barro, e ficava triste
Tão triste assim como tu, querendo ser o sinistro urubu
E quando queria causar estorvo então imitava o sombrio corvo
E até hoje ainda se discute se é mesmo verdade que virou abutre

E quando já estava querendo aquela paz dos sabiás
Cansado de viver na sombra, voar, revoar feito a linda pomba
E ao sentir a falta de um grande carinho então cantava feito um canarinho
E assim o passarinho feio quis ser até pombo-correio

 Aí então Deus chegou e disse:  
Pegue as mágoas e apague-as, tenha o orgulho das águias
Deus disse ainda: é tudo azul, e o passarinho feio
Virou o cavalo voador, esse tal de Pégaso.




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