OS
CHORÕES E O TEATRO
PEDRO
GALDINO (?)
PAULINO
SACRAMENTO (1880-1926)
PEDRO SÁ PEREIRA ( PORTO ALEGRE- 25/11/1892 RIO DE JANEIRO 4/7/1955)
A
partir do início do século XX, os velhos chorões tocadores de valsas,
schottisches e polcas nas festas de casa de família passaram a encontrar mais
facilmente oportunidades de se tornarem profissionais.
Em
1902 começaram a ser gravados discos de gramofone, e o teatro de revista, que
vinha crescendo desde fins do século XIX, cada vez mais pedia músicos para suas
orquestras e mais composições para animar os quadros de musicados das peças
alusivas a temas da atualidade.
PEDRO
GALDINO
Entre
esses músicos de choro, que chegaram a ver perpetuadas em discos algumas das
melhores provas do seu talento, estava PEDRO GALDINO, operário de uma fábrica
de tecidos do bairro carioca de Vila Isabel. Nascido na segunda metade do
século passado, Pedro Galdino – preto de origem popular urbana inequívoca, como
revela sua condição de operário têxtil – aprendeu a tocar flauta no auge da influência
de Calado, o que significa dizer que era um virtuosista, preocupado em
dificultar nos solos, o acompanhamento improvisado dos violões e do cavaquinho.
Os
dados pessoais sobre Pedro Galdino são muito poucos. Ary Vasconcelos afirma em
seu livro Panorama da Música Popular
Brasileira que foi mestre da banda da Fábrica Confiança de tecidos, de Vila
Isabel, e que vinha de uma família de músicos. Mas as poucas músicas que chegou
a deixar gravadas em discos da Casa Faulhaber explicam perfeitamente a razão do
seu prestígio entre os chorões cariocas dos primeiros vinte anos do século XX.
Ary
Vasconcelos aponta como a mais famosa das composições de Pedro Galdino a música
MEU PENSAMENTO, transformada, depois de receber letra de Tuttemberg Cruz, na
canção OLHOS DE VELUDO. Em disco Falhauber, porém Pedro Galdino gravou
schottisches como ADÉLIA, valsas como PASTORINHA e polcas como FLAUSINA e
JOCOSA.
PAULINO
DO SACRAMENTO
Um
pouco mais novo que Pedro Galdino, o pistonista PAULINO DO SACRAMENTO
(1880-1926), também músico de banda, alcançaria um degrau a mais na carreira:
além de conseguir gravar algumas de suas músicas, pôde atingir o estágio de
profissionalização, tornando-se maestro de orquestra do teatro de revista
carioca. Contemporâneo e companheiro do Maestro Francisco Braga no Colégio dos
Meninos Desvalidos, em cuja banda
tocaram juntos. O início da carreira do jovem Paulino do Sacramento ia ficar
ligado ao do grande maestro: quando Braga, já regente da banda do colégio,
ganhou uma bolsa para especializar-se em teoria em Paris, foi Paulino o
indicado para substituí-lo.
Como
o teatro de revista estava, no início do século, precisando de músicos capazes
de escrever na pauta (a falta de maestros brasileiros obrigava o teatro
musicado a servir-se de estrangeiros como o português Gomes Cardim e o espanhol
Júlio Cristóbal), Paulino do Sacramento pôde transferir-se para as orquestras
de polo de teatro.
A partir da revista O Rio Civiliza-se, em 1912
(ao que tudo indica sua primeira contribuição para o teatro musicado), o nome
de Paulino do Sacramento não deixa mais de figurar nos cartazes da Praça
Tiradentes, produzindo partituras para revistas, operetas e burletas até 1926,
quando morre a 9 de março.
O
ano da morte de Paulino do Sacramento marca por coincidência, o momento de
glória de outro músico de orquestra de teatro de revista, seu contemporâneo o maestro
PEDRO DE SÁ PEREIRA.
Temperamento romântico (era, com seu
1,60 m de altura, muito tímido e franzino), especializara-se no gênero que a
partir da década de 20 se convencionara chamar de CANÇÃO SERTANEJA.
A
influência da poesia de Catulo da Paixão
Cearense chegara também ao teatro de revista, onde as figuras idealizadas
dos caboclos começavam a queixar-se do desprezo das morenas com uma insistência
que contaminou irremediavelmente a música popular brasileira seguramente até a
década de 40. Pois foi ao compor uma dessas canções para a revista COMIDAS, MEU SANTO!, estreada no Teatro
São José, a 1º de setembro pela
companhia da atriz Margarida Max, que SÁ
PEREIRA ia conseguir lançar seu nome muito além dos palcos do teatro
musicado.
A canção-modinha (como
dizia a partitura), cantada na revista pelo barítono Roberto Vilmar, foi a
célebre CHUÁ-CHUÁ cuja letra era do revistógrafo Ari Pavão, e que ainda hoje é lembrada pelo seu estribilho:
“E A FONTE A CANTÁ
CHUÁ, CHUÁ...
E AS ÁGUA A CORRÊ...
CHUÊ,
CHUÊ...”
Quando, a partir da década de 30, uma profusão de
sambas e de marchas invadiu o teatro de revista com SINHÔ e toda uma geração de compositores das camadas mais populares
do Rio, Sá Pereira –silenciosamente,
como era seu feitio –retirou-se com o repertório das suas canções debaixo do
braço e foi tocar o seu Chuá,Chuá para os passageiros dos navios da Companhia
de Navegação Costeira, como pianista de bordo.
CHUÁ, CHUA
(Pedro
Sá Pereira e Ary Pavão)
Deixa a cidade, formosa morena,
Linda pequena e volta ao sertão
Beber a água da fonte que canta
Que se levanta do meio do chão
Se tu nasceste cabocla cheirosa
Cheirando a rosa do peito da terra
Volta pra vida serena da roça
Daquela palhoça
Do
alto da serra
E a fonte a cantar
Chuá, chuá
E as água a correr
Chuê, Chuê,
Parece que alguém
Que cheio de mágoa
Deixasse – que há de dizer –
A saudade
No meio das águas
Rolando
também.
A lua branca de luz prateada
Faz a jornada no alto dos céus
Como se fosse uma sombra altaneira
Da cachoeira
Fazendo escarcéus
Quando essa luz lá na altura distante
Loira, ofegante
No poente a cair
Dá-me essa torva que o pinho descerra
Que eu volto pra serra
Que
eu quero partir.
Fonte:
Nova História da Música Popular Brasileira
Abril
Cultural - 1978
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