HEITOR
DOS PRAZERES
(RIO DE JANEIRO 23/9/1898-RIO DE JANEIRO 04/10/1966)
Uma
das mais completas figuras de criador das camadas populares foi o tocador de
cavaquinho, ritmista, compositor e pintor carioca Heitor dos Prazeres, filho de descendentes de baianos da Cidade
Nova, no Rio de Janeiro (o pai era o
clarinetista Eduardo Prazeres, da Banda Policial; a mãe, a costureira
Celestina).
Heitor
surgiu para a pintura e a música ainda na infância, dividido entre os desenhos
da Cartilha de Felisberto de Carvalho (que coloria com lápis) e o cavaquinho do
tio, que ele tirava às escondidas do prego que o prendia à parede. -Na sala
–lembrou mais tarde em seu depoimento no Museu da Imagem e do Som da Guanabara
o próprio Heitor – havia também um piano, mas esse só era aberto nos dias de
festa e aos sábados, para limpeza.
Após
uma infância típica de menino das classes populares do Rio de Janeiro do final
do século XIX (nasceu perto da Praça Onze de Junho, a 23 de setembro de 1898),
passou por várias escolas, sempre expulso, foi preso por vadiagem aos treze
anos e, “aprendiz de tudo”, trabalhou com tipógrafos, sapateiros e marceneiros,
tornando-se mestre nessa profissão.
Quando
podia largar a pua, Heitor pegava o cavaquinho e com outros rapazolas do tempo
– entre os quais Donga e Caninha –ia apreciar os sambas na casa
da baiana Tia Ciata, onde o maioral era o baiano criador dos primitivos ranchos
cariocas, Hilário Jovino Ferreira. Integrado nesse meio de
tiradores de samba de partido alto, Heitor (conhecido por MANO LINO, nas rodas de sambistas), saía de baiana no carnaval
tocando seu cavaquinho, e em 1932 já firmava seu nome, vencendo, com o samba
MULHER DE MALANDRO. Outro samba VOU TE ABANDONAR- surgiu logo após o carnaval de
1930 e mostrava forte emprego da
percussão.
Em 1933 fez a CANÇÃO DO JORNALEIRO, e a partir da letra autobiográfica deste tema, se iniciou uma campanha para financiar a construção da casa do PEQUENO JORNALEIRO, que abriu em 1940.
Olha A NOITE, Olha A NOITE
Eu sou um pobre jornaleiro
que não tenho paradeiro
Ai, ninguém vive assim.
vivo a cercar toda gente
As vezes triste e doente
Ninguém tem pena de mim.
Eu vivo sempre a sofrer
Oh! que destino é o meu
Eu vivo sempre jogado
e bem amargurado
Oh! que sorte Deus me deu.
Olha A NOITE, olha A NOITE
quando o sol vai se escondendo
eu vou me entristecendo
correndo pra redação
E lá venho carregado
com as folhas ao meu lado
Cumprindo a minha missão.
Quatro
anos depois, quando morre sua primeira mulher, Mano Lino escreve uns versos
sobre um pierrô apaixonado, que vivia só cantando, e de um encontro com NOEL
ROSA sob os Arcos, perto da Lapa, nasce o seu primeiro grande sucesso nacional:
a marcha PIERRÔ APAIXONADO.
Um
pierrô apaixonado
Que
vivia só cantando
Por
causa de uma colombina
Acabou chorando, acabou
chorando.
A
colombina entrou num botequim
Bebeu,
bebeu, saiu assim, assim
Dizendo:
pierrô cacete
Vai tomar sorvete com o
arlequim.
Um
grande amor tem sempre um triste fim
Com
o pierrô aconteceu assim
Levando
esse grande chute
Foi tomar vermute com
amendoim.
É então que Heitor começa fazer desenhos para
ilustrar as partituras de suas músicas, lançando-se a experiências com pintura
a óleo em 1936. Em menos de dez anos teria a honra de ver um dos seus quadros
incluído na mostra de arte brasileira em Londres, para a venda em benefício da
Royal Air Force. Era a tela A FESTA DE SÃO JOÃO, diante da qual a Rainha
Elizabeth perguntou: -
QUEM É ESSE
PINTOR EXTRAORDINÁRIO?
Premiado
na I Bienal de São Paulo em 1951 com seu quadro MOENDA, o sambista-pintor (a esta
altura contínuo do Ministério da Educação, por influência do poeta Carlos
Drummond de Andrade), ainda tinha tempo para assinar o ponto na Rádio Nacional
–cujo coro dirigia havia vinte anos –e para apresentar-se em shows com seu
grupo de mulatas passistas intitulado HEITOR E SUA GENTE.
Na 2ª Bienal em 1953 teve uma sala reservada para a exposição de sua obra. Criou cenário e figurinos para o balé do 4º Centenário da de São Paulo.
PIERRÔ - Heitor dos Prazeres
Foi assim que a morte
por câncer o encontrou no primeiro minuto da madrugada de 4 de outubro de 1964,
atirado afinal, depois de toda uma vida de cores, ritmo e poesia como ele mesmo
definiu – “sobre um leito branco como uma negra bandeira”.
Fonte:
Nova História da Música Popular Brasileira
Abril Cultural – 1978
Fotos: Google
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