quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

BEETHOVEN - 250 ANOS - PARTE II

 

UM SEGUNDO MOZART NA CRIAÇÃO MUSICAL

Beethoven foi batizado a 17 de dezembro de 1770. A data exata do nascimento não foi registrada, mas é quase certo que veio à luz um ou dois dias antes. Pelo lado paterno, sua família era flamenga, proveniente de Mechelen (Malines, em francês), cidade belga a poucos quilômetros de Bruxelas. O avô  que também se chamava Ludwig, foi o primeiro músico da família, iniciando sua carreira como cantor do coro Sanctum Sanctorum, em Louvain. Posteriormente, tornou-se músico  da Corte. Mudando para Bonn, em 1733, ascendeu ao cargo de mestre-de-capela do Arcebispo Eleitor de Colônia, Clemente-Augusto, o Faustoso. Estava próximo dos sessenta anos quando Beethoven nasceu.  Embora não se tenha destacado muito como compositor, era um dos poucos músicos cultos de seu tempo. Possuía a cultura  e o espírito liberal da época, cantava em italiano e francês e também falava essas duas línguas. O neto se ligara tão fortemente ao avô que, muitos anos após sua morte, continuava a falar dele com a maior ternura. E um retrato do avô, de autoria de Radoux, pintor oficial da Corte, foi o único objeto que o compositor fez vir de Bonn, quando fixou residência definitiva em Viena.

Johann van Beethoven, o pai do compositor, nasceu em 1740, em Bonn, e também foi músico, como o velho Ludwig. Mas não tinha as mesmas qualidades e deixou marcas extremamente negativas no menino. Nos primeiros anos de seu casamento, comportou-se relativamente bem, como chefe de família, garantindo o sustento da casa. Mas, com a morte do velho Ludwig, em 1773, entregou-se à bebida.

A mãe de Beethoven, Maria-Magdalena Kewerich, era mulher de origem humilde. Filha do cozinheiro do Príncipe Eleitor de Trier, servia na mesma casa como camareira e casou-se com um dos lacaios do príncipe, aos dezesseis anos de idade. Dois anos depois enviuvou e, um mês antes de completar 21 anos, casou-se com Johann van Beethoven. Testemunhas da época descrevem-na como mulher bonita, delgada, rosto fino, olhos grandes e vivos -  mas que jamais sorria. Quieta e parcimoniosa sabia como equilibrar o orçamento doméstico e todos a estimavam e respeitavam. Embora o sogro se opusesse ao casamento, soube conquistá-lo aos poucos, com sua natureza bondosa, doce, delicada e melancólica.  Beethoven  amou-a profunda e ternamente. Quando a perdeu em 1781, escreveria a um amigo: “Era tão boa para mim, tão meiga de amor, minha melhor amiga”.

Os pais de Beethoven tiveram sete filhos. O primogênito morreu horas depois do parto; o segundo foi o compositor. A ele seguiram-se mais três meninos e duas meninas. Se Beethoven não foi o filho que mais sofreu com os infortúnios da família, foi, certamente, aquele em quem o sofrimento teve consequências mais profundas.  Desde o momento em que seu pai descobriu sua vocação, forçou-o, muitas vezes por meio de castigos físicos, a estudar piano.  Queria fazer dele um menino prodígio como Mozart e resolver, assim, seus problemas financeiros. Aos sete anos de idade, o pequeno Ldwig era apresentado em concertos públicos como se tivesse apenas quatro. Beethoven, no entanto, não era um prodígio pianístico e o plano do pai fracassou.

Nem tudo, entretanto foi negativo nesses primeiros anos. Muitas vezes, um amigo do pai – beberrão como ele mas boa alma – dava ao menino lições de composição. Chamava-se Tobias Pfeiffer. Muitos anos depois, Beethoven lhe enviaria dinheiro de Viena, demonstrando, assim sua gratidão pelos conhecimentos que recebera.

Importantes também foram as lições de Egidius van Eeden, organista da Corte. No órgão do claustro franciscano da cidade, tomou contato com a música de Bach e Haendel e, em pouco tempo, adquiriu a habilidade necessária para encarregar-se, sozinho, da missa matinal. No teatro, ouvia Gluck e Mozart. Esses estudos, no entanto, foram muito desordenados. Somente na adolescência Beethoven conseguiria orientação sistemática e poderia canalizar seu enorme talento criativo para a composição.

                                          ANOS DE TRANQUILIDADE AFETIVA



O ano de 1782, quando o compositor contava doze anos de idade, foi particularmente importante em sua vida:  tornou-se músico da Corte, encontrou um verdadeiro mestre e ganhou  a afeição de uma família amiga, que lhe proporcionaria tranquilidade por muitos anos.

Desfeito o sonho de ganhar fortuna com o suposto prodígio do filho, um dia o pai levou-o  para fazer um teste na orquestra da Corte. Por acaso, o príncipe ali se encontrava e ouviu o menino tocar uma fuga de sua própria autoria. Impressionado com seu talento, deu ordem ao organista-chefe para que “ fizesse da educação desse menino uma questão de importância especial”. Alguns meses depois, leu num relatório oficial: “ Um filho de Beethoven (...) não recebe salário, mas tomou conta do órgão durante a ausência do organista, é muito capaz, ainda jovem, de bom comportamento e é pobre”. O príncipe não teve dúvidas: ordenou que se pagasse ao menino cem táleres por ano – a metade do que recebia o pai depois de tanto tempo de serviço.  Nesse mesmo ano, o príncipe contratou novo organista para a Corte, Christian Gottlob Neefe, conhecido como grande mestre do lied e do singspiel. Homem de grande sensibilidade, conhecedor do Iluminismo, Neefe imediatamente reconheceu o talento e o gênio de Beethoven, prognosticando que o menino estava mesmo destinado a ser um segundo Mozart, não como menino prodígio, como queria o pai, mas como compositor.

Com as sonatas de Carl Philipp Emanuel Bach, Neefe iniciou-o na música “expressiva” – aquela que exprime sentimentos e estados psicológicos; ao mesmo tempo, fê-lo estudar o Cravo Bem Temperado de Johann Sebastian Bach, desenvolvendo em Beethoven o gosto pela polifonia, que, depois de longa maturação, brilharia intensamente em suas últimas composições. Fazendo-o seu auxiliar na direção da orquestra do teatro, introduziu-o nos segredos da instrumentação e levou-o a apreciar a música ligada à literatura. O próprio Neefe musicara poemas de Klopstock, autor que Beethoven lia cotidianamente, assim como Shakespeare e Schiller, dramaturgos frequentemente encenados no teatro de Bonn.  Grétry, Cimarosa, Paisiello e sobretudo Mozart eram os compositores que Beethoven executava sob a competente direção de Neefe. Foi também Neefe o responsável pela primeira publicação de uma obra sua, as NOVE VARIAÇÕES PARA CRAVO, EM DÓ MENOR, sobre uma Marcha de Dressier (1783).


FONTE:  MESTRES DA MÚSICA                                                                              ABRIL CULTURAL– 2ª EDIÇÃO – 1982                                                              IMAGENS: GOOGLE              


 

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