quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

BEETHOVEN - 250 ANOS - PARTE III

  

O terceiro fato importante ocorrido em 1782 foi o início das relações com a família Breuning, por iniciativa de um dos maiores amigos de sua vida, o jovem Franz Gerhard Wegeler, então com dezessete anos de idade. A senhora Breuning, mulher doce e afetuosa, era viúva de um conselheiro da Corte e dedicava-se a educar com muito carinhos seus três filhos (Christoph, Stephan e Lenz e uma filha Eleonore). Era uma família alegre e cultivada; todos liam os poetas da época, principalmente Klopstock, e faziam seus próprios ensaios poéticos. Beethoven dava lições de cravo para Eleonore e Lenz, fazia improvisos musicais e era tratado como se fosse da família.

A maior parte do dia, e frequentemente da noite, Beethoven passava na casa dos Breuning. Esse convívio estendeu-se por todos os anos de sua adolescência, até a partida definitiva para Viena, em 1792.  Ao contrário da infância, foram anos de relativa tranquilidade afetiva e de desenvolvimento musical. Fez tão grandes progressos como músico da Corte que o Príncipe Eleitor resolveu enviá-lo a Viena, a fim de estudar com Mozart, o maior nome da música da época. Esse contato, no entanto, duraria pouco, pois logo após chegar a Viena, em 1787, sua mãe faleceu e ele teve que retornar a Bonn. Mesmo assim, o contato foi suficiente para Mozart declarar a alguns amigos: “ Este jovem vai dar o que falar”.

Voltando a Bonn, chocado pela morte da mãe, Beethoven teve de se encarregar, sozinho, da subsistência e da educação de dois irmãos mais jovens, Karl e Johann, enquanto o pai consumia-se na bebida. Apesar disso, ou por isso mesmo, Beethoven não cessava de dar aulas e compor. Suas duas primeiras obras importantes são desses anos: CANTATA PELA MORTE DE JOSÉ II, imperador da Áustria, e outra para celebrar a ascensão de Leopoldo II ao trono austríaco. Haydn, em rápida passagem por Bonn, leu a partitura de uma dessas obras e elogiou-a, colocando-se à disposição do jovem para lhe dar aulas.

A 14 de maio de 1789, antes mesmo de compor a primeira dessas duas cantatas, Beethoven ingressou na Universidade de Bonn, onde assistiu às aulas de Literatura Alemã, dadas por Euloge Schneider, e procurou pôr alguma ordem em sua formação intelectual. Na universidade, as ideias revolucionárias fervilhavam, sobretudo entre os estudantes, e Beethoven, provavelmente, participou com entusiasmo da comemoração da queda da Bastilha.

Outra relação importante desses anos de adolescência foi a que manteve com o Conde Ferdinand von Waldstein, grande amante da música. Waldstein conheceu o compositor na casa da família Breuning, no ano de 1788, e logo tornou-se seu grande admirador. Foi ele que sugeriu a Beethoven que compusesse as cantatas em homenagem a José II e Leopoldo II. Quando o compositor, em 1792, deixou a cidade natal para fixar-se definitivamente em Viena, Waldstein escreveu em seu álbum de recordações: “ [...] receba o espírito de Mozart das mãos de Haydn”. O conselho era, ao mesmo tempo, uma profecia.




A EXPLOSÃO DE UM ESPÍRITO RENOVADOR

A partir do ano em que Beethoven se instalou em Viena (1792), os biógrafos costumam distinguir três períodos em sua vida. O primeiro estende-se até os dois primeiros anos do século XIX, época em que chegou à conclusão de que sua surdez era incurável, escreveu o famoso “ TESTAMENTO  DE HEILIGENSTADT” e concluiu  a SEGUNDA SINFONIA (1802).  O limite final do segundo pode ser situado em 1812, quando, provavelmente, redigiu outro documento famoso – a  “ CARTA À BEM-AMADA IMORTAL”-, concluiu  a SÉTIMA SINFONIA  e encontrou-se com Goethe. O terceiro corresponde a seus últimos anos – de 1812 a 1827.

Ao se iniciar o primeiro período, Francisco II ascende ao trono, no qual permanece até o fim da vida do compositor. Durante seu reinado, a Áustria tronou-se obscurantista e policial; a Igreja Católica era todo-poderosa; os jornais, raros; os livros, proibidos. Tentava-se impedir, desse modo, a livre circulação das ideias revolucionárias que agitavam o resto da Europa. O prazer, no entanto era tolerado – e a rainha das artes era a música.  Em Viena, todos – de uma forma ou de outra – dedicavam-se a ela: na Corte, nos palácios, no teatro de ópera, nas reuniões familiares. Beethoven detestava a falta de liberdade política e intelectual imperante na cidade, mas seu modo de expressão era a música, e lugar algum do mundo proporcionava tão boas condições para os intérpretes e compositores quanto a capital austríaca. Nesse quadro favorável, do ponto de vista estritamente profissional, Beethoven aprofundou seus estudos de composição, fez carreira como intérprete e criou grande número de obras.

Ao contrário do que programara ao sair de Bonn, os estudos não foram feitos apenas com Haydn. Bem cedo percebeu que o famoso compositor não era o mestre ideal para ele. Suas relações continuaram cordiais, mas, secretamente, Beethoven procurou  orientação de Johann Georg Albrechtsberger, organista da Catedral de Santo Estêvão, compositor e um dos maiores conhecedores, na época, da técnica do contraponto. Ao mesmo tempo, estudava composição vocal com Antonio Salieri, compositor e diretor da Ópera de Viena.

Como intérprete, Beethoven obteve grande sucesso em sua primeira apresentação na capital austríaca (1795), tocando seu CONCERTO PARA PIANO E ORQUESTRA Nº 2,  OPUS 19.  A esse recital, seguiram-se vários outros, inclusive em Berlim e Praga, sempre apresentando, ao lado das obras de compositores como Mozart e Haydn, as de sua autoria. Estas, com exceção das duas primeiras sinfonias e dos dois primeiros concertos para piano, são todas composições de câmara. a maior parte baseada em seu próprio instrumento, o piano.  Em geral, são obras ainda ligadas ao classicismo musical da segunda metade do século XVIII, com marcada influência de Haydn e Mozart. A esse período (1792 a 1802) pertencem, entre as mais importantes, os três TRIOS PARA VIOLONCELO, VIOLINO E PIANO, OPUS I, o TRIO DE CORDAS, OPUS 3, os três TRIOS DE CORDAS, OPUS 9, a SONATA OPUS 13 (“PATÉTICA”), os SEIS QUARTETOS DE CORDAS, OPUS 18, o SEPTETO, OPUS 20, e a PRIMEIRA E SEGUNDA SINFONIAS.

Nos primeiros anos desse período, a vida pessoal de Beethoven transcorreu sem maiores problemas. Até 1794, recebia anualmente um subsídio do Príncipe Eleitor de Bonn, que, juntamente com o que conseguia ganhar dando aulas, permitia-lhe viver com relativa tranquilidade.  Naquele mesmo ano, devido à queda de Bonn diante das tropas francesas, o subsídio foi suspenso, mas o Príncipe Lichnowsky garantiu-lhe casa e comida. Beethoven, durante toda a vida, recebeu subsídios de nobres da época – Príncipes Lobkowitz e Kinsky, Arquiduque Rodolfo e outros -,  o que poderia parecer em contradição com seus ideais. Na verdade, Beethoven jamais se submeteu a esses protetores;  eles simplesmente admiravam o gênio do compositor - quase  todos era músicos amadores -, e este nunca foi obrigado a lhes dar algo em troca dos benefícios concedidos.


FONTE:  MESTRES DA MÚSICA                                                                              ABRIL CULTURAL– 2ª EDIÇÃO – 1982                                                              IMAGENS: GOOGLE              

 

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