NA COMPLETA SURDEZ, ABATIMENTO E DESILUSÃO
Pouco
depois, toda a Europa entra em fase de contra-revolução; o congresso de Viena
(1814) restaura as monarquias derrotadas por Napoleão e ocasiona a volta dos
antigos privilégios feudais. Beethoven se desiludira com Napoleão, mas seus
ideais de liberdade, igualdade e fraternidade continuam vivos. A Europa da
Santa Aliança, dominada pelo conservadorismo político e religioso, não é aquela
que seu republicanismo convicto esperava ver realizada.
Sobre esse sombrio pano
de fundo, delineiam-se novos infortúnios familiares. O irmão Karl falece em
1815 e lhe deixa recomendações para que se torne tutor do filho, então com nove
nãos de idade. Segue-se uma longa e desgastante disputa judicial com a mãe do menino, que Beethoven só
consegue vencer em 1820. Afeiçoa-se profundamente ao sobrinho e transfere para
ele seus sentimentos paternais. Em
troca, só desgostos. O jovem Karl passa a explorar a disputa entre a mãe e o
tio, cria problemas e expressa publicamente a falta de afeto em relação ao
compositor. Deixando tudo mais triste, a surdez torna-se absoluta ao findar a
segunda década do século. Beethoven não escuta mais nada. No lugar da música, o
silêncio. E vê-se obrigado a usar pequenos cadernos de conversação, onde os
amigos fazem perguntas e observações, que ele lê para depois responder
oralmente. Envelhecido e doente, nem o
êxito retumbante de suas composições em toda a Europa serve para lhe despertar
qualquer emoção de júbilo.
O
fim se aproxima. Os problemas com o sobrinho chegam ao auge no verão de 1826.
Karl tenta o suicídio e põe a culpa no compositor: “tornei-me pior porque meu tio queria me
tornar melhor”. Os amigos de Beethoven o
aconselham a se desfazer da tutela do sobrinho – e ele concorda, com profunda tristeza.
Em dezembro, do mesmo ano, contrai a pneumonia dupla, que não mais o deixará,
complicando-se com cirrose hepática e hidropisia. Em março do ano seguinte, seu
estado torna-se desesperador. No dia 23, diz a Stephan Breuning, velho amigo
desde os tempos da adolescência em Bonn:
“Plaudite amici, comoedia finita est” - “Aplaudi, amigos, a
comédia terminou). A 26, expira. Três
dias depois, seu funeral é acompanhado por uma multidão de vinte mil pessoas.
Franz Grillparzer, o maior dramaturgo austríaco da época, faz a oração fúnebre.
E Schubert carrega uma tocha.
A Natureza esteve sempre presente na vida de
Beethoven, até seus últimos anos. Com frequência, o compositor se refugiava nos
arredores de Viena, onde encontrava paisagens campestres que lhe reconfortavam
o espírito. Por isso mesmo, a natureza lhe inspirou algumas de suas
composições, entre as quais o exemplo mais conhecido é a Sinfonia “Pastoral”.
Beethoven, porém, fazia questão de frisar que não pretendia pintar a natureza,
mas expressar os sentimentos despertados por ela.
“ O
fim último da verdadeira música é a expressão da essência das coisas. Penetrar
profundamente a essência íntima das coisas, até extrair-lhe um raio de luz,
isto é, penetrar, em seu íntimo significado, as paixões do coração humano e as
maravilhas da natureza – esse foi o objetivo do nosso grande Beethoven e sua
obra.” – RICHARD WAGNER.
FONTE: MESTRES DA MÚSICA ABRIL CULTURAL– 2ª EDIÇÃO – 1982 IMAGENS: GOOGLE
Nenhum comentário:
Postar um comentário