sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

A VALSA BRASILEIRA - I - UM POUCO DE SUA HISTÓRIA







Muito mais do que um gênero musical ou uma dança, a valsa é um estado de espírito.
Entre nós, a valsa ganhou características próprias para distingui-las da valsa francesa, nascida nos fins do século XVI.
A valsa chegou ao Brasil em 1837 e os primeiros executantes procuraram tocá-la dentro do figurino original. A partir de 1870, quando surge o choro, os músicos brasileiros começam a tocá-las com jeito todo nosso. Esse comportamento novo, “made in Brasil”, será maior ou menor nos muitos compositores de valsas, como:
Juca Kalut (Camponesas, Sonhar Dormindo, Irene);
Viúva Guerreiro (Quando Penso em Ti, Amando até Morrer, Recordações do Passado);
Alfredo da  Rocha Viana, pai de Pixinguinha, (Serenata);
Alexandre G. de Almeida (Alice, Orgulhosa, Sedutora);
Azevedo Lemos (Amor e Lágrimas, Dilacerando Corações, Lírios e Rosas);
Costinha (Feliz com o teu Amor, Momento de Felicidade);
Artur Camilo (Ondas de Ouro, Souvenir du Bal);
Mário Álvares (Adelina, Eulália, Julieta);
Ernesto Nazareth  (Confidências, Genial, Julieta, Noêmia, Iolanda, Expasiva);
Luís de Souza (Missa de Amor, Georgina);
Anacleto de Medeiros (Farrula, Carolina, Predileta);
Pedro de Alcântara (Valmira, Amour et Progrès);
J. Garcia de Cristo (Estou amando, Como Elas Amam);
Alfredo Gama (Valsa dos que Sofrem, Valsa da Saudade);
Cupertino de Menezes (Rio de Janeiro);
Santos Coelho (Esfolhada, Lídia) e com Domingos Corrêa - Flor do Mal)
Irineu de Almeida (Bem te Quero, Cartolinha, Ruth);
Aurélio Cavalcanti (Altiva, 1915, Predileta);
Albertino Pimentel (Guilhermina, Mimansinha);
J. Ferreira Torres (Amor sem Medo, Manola, Narcotizadora);
Mário Penaforte (Baiser Suprème – com que o autor venceu um concurso     internacional de valsas realizado em Paris no ano de 1914);
Corujinha (Cora, Morrer por Ti);
Candinho Silva (Adozinda, Celina, Dalva).
Oscar A. Ferreira ( Clube XV)
Archibald Joyce ( Sonho de Outono)
Paraguassu (Manhã de Sol)
Freire Jr. (Revendo o Passado)
O. Rielli - J. Fernandes (Anel de Noivado)
Canhoto - (Abismo de Rosas)

A valsa sofreu a influência da modinha, embora conservando suas características rítmicas, tornou-se também uma forma de canção sentimental.  A partir de 1902, os cantores da Casa Edison gravam valsas: Mário Pinheiro , por exemplo, leva à cera, entre 1904 e 1909, Albertina de autor desconhecido (Odeon 40100) ;  Amorosa, versão de autor desconhecido da famosa valsa francesa Amoureuse, de Rodolpho Berger (Odeon 40486); e Clélia, melodia de Luís de Souza, com versos de Catulo da Paixão Cearense, reintitulada  Ao Desfraldar da Vela (Odeon 40490). Baiano grava entre 1913 e 1916, a valsa Despedida em lágrimas, música de J. Carvalho de Bulhões, letra de Alfredo Cândido (Odeon 120270), e a versão de Guttemberg Cruz da valsa Suplication, de W.J. Paans, reintitulada Último Beijo (Odeon 120984).
Em 1926, sai em disco, na voz de Pedro Celestino, a valsa de Erotides de Campos, versos de Jonas Neves – Ave Maria, composta dois anos antes em Pirassununga, Estado de São Paulo. Francisco  Alves começa a gravar valsas em 1927 com Suspirando, de Costinha (Odeon 10168-B) e nesse mesmo ano, grava Fim de Romance, de Bequinho (Odeon 10182-A). Em 1928, saem Quanto Sofri! (Pedro Sá Pereira); Olhos Japoneses (Freire Jr); Casanova  (P. Mimac); Castelo de Lua (Joubert de Carvalho); Amanhã (Oswaldo Cardoso de Meneses); Eu vivo assim (Eduardo Souto) e Falsidade (Careca).
Entram em moda, divulgadas pelo cinema, valsas americanas, e Chico Alves começa a gravá-las, entre 1928 e 1929. É a época de Arlete, Chiquita, Marion, Angelina. O surto da valsa parece arrefecer entre 1930 e 1931, mas já em 1932, Lamartine Babo faz uma versão de Dancing with tears in my eyes, gravada por Chico Alves  com o título de Dançando com lágrimas nos olhos. 
E chegamos a 1934, ano em que se inicia a fase de ouro da valsa no Brasil, período virtualmente encerrado em 1946. É em 1934 que se forma a primeira grande dupla de compositores do gênero: Francisco Alves e Orestes Barbosa.  E o próprio Rei da Voz, vai lançando valsas em discos inesquecíveis:  Dona de minha Vontade, Por teu Amor, Romance, A mulher que ficou na Taça (esta já designada valsa-canção). Em 1936, surge a dupla José Maria de Abreu e Francisco Matoso, de quem Francisco Alves gravaria Boa Noite Amor, Sevilhana, Napolitana, Barcarola;  e Orlando Silva, Horas iguais.
Em pouco tempo, a maioria dos grandes compositores havia aderido ao gênero: Cândido das Neves, Joubert de Carvalho (que já fazia valsas desde 1913), Lamartine Babo, Pixinguinha, Nelson Ferreira, Saint-Clair Senna, Ary Barroso, Alcir Pires Vermelho e as duplas J. Cascata-Leonel Azevedo, Pedro Caetano-Claudionor Cruz, Georges Moran-Cristóvão de Alencar, Paulo Barbosa– Osvaldo Santiago, Newton Teixeira- Jorge Faraj, Custódio Mesquita-Sadi Cabral, Nássara-J. Rui. Foi essa, sem duvida a fase mais romântica vivida pela música popular brasileira.
Praticamente esquecida durante muitos anos, a valsa foi relançada em 1971 por Vinicius de Morais e Chico Buarque com a maravilhosa Valsinha, que Chico incluiu em seu LP Construção (Philips 6349017).


  TORTURANTE IRONIA
(ORESTES BARBOSA - SILVIO CALDAS)
(gravação de Silvio Caldas e acompanhamento do Regional  de Benedito Lacerda em 78 rpm (Odeon 11241) lançado em março de 1935.

Que mágoa neste abandono
Que ânsia, perdi o sono
E vim, tristonho, cantar
Porque a canção mais aflita
É a forma que há mais bonita
Da gente poder chorar.

Tu sobes este barranco
Sujando o vestido branco
Pisando as pedras do chão
Mas sem saber, na verdade
Que desde lá na cidade
Tu pisas meu coração
Por ser do morro e moreno
É que eu soluço, é que eu peno
Bebendo o meu amargor.
Porque me negam, querida
Essa alegria da vida
De possuir teu amor.

Que torturante ironia
O amor com categoria
Eu amo e não posso amar
Porque a mulher que eu adoro
Não mora aqui onde eu moro
Deixem-me então soluçar.


Fonte: Nova História da Música Popular Brasileira-1978- Abril Cultural
Imagens: Google



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