O Impressionismo
ARTE E
SUGESTÃO
Em 1900, a música européia se viu em choque. O
longo debate entre wagnerianos e não wagnerianos resultara em impasse.
Questionava-se a possibilidade de criar algo realmente novo dentro do sistema
tonal, já tão explorado. Por tentarem encontrar uma saída, os alemães Gustav
Mahler (1860-1911) e Richard Strauss (1864-1949) foram considerados
"ultramodernos".
O russo Aleksander Scriabin (1872-1915) também
buscava soluções. Os acordes da harmonia convencional lhe pareciam gastos
demais. Idealizava uma música que "exalasse cheiro", "provocasse
visões" e "sugerisse côres".
Enquanto isso, quase ignorado por seus
contemporâneos, Claude Debussy (1862-1918) resolvia o problema com uma
concepção musical nova: O Impressionismo. Esteticamente, Debussy visava a uma
arte de nuanças, que sugerisse em vez de descrever. Para realizá-la,
desenvolveu uma técnica que consistia em explorar o encadeamento de acordes, os
quais sugeriam várias tonalidades. Seu contemporâneo Maurice Ravel (1875-1937)
não foi menos extraordinário. A obra que compôs - para piano, canto ou
orquestra - revela traços impressionistas. Contudo, Ravel está mais próximo de
Chabrier pela estética rigorosamente mantida no decorrer de seus trabalhos e à
qual limitou sua prodigiosa inspiração. Enquanto isto, uma nova onda
nacionalista se desencadeava em toda a Europa.
Na Rússia, surgiram Proskofieff (1891-1953),
Shostakovitch (1906), Kabalevsky (1904) e o armênio Khatchaturian (1903); na
Espanha, Albéniz (1860-1909), Granados (1867-1916) e De Falla (1876-1946); na
Itália, Respighi (1879-1936); e na Tchecoslováquia, Janacek (1854-1928).
O Modernismo
A ARTE REBELDE DO NOSSO TEMPO
As catástrofes sociais que abalaram o mundo na
primeira metade do século XX mostraram o quanto era falso continuar fazendo
música em termos de passado. Pesquisas rítmicas, o ressurgimento de formas
musicais antigas para resultados modernos, o uso de várias tonalidades
(politonalismo) ou de nenhuma (anatonalismo) não constituem mero exotismo.
Simplesmente refletem, com a força do real, a verdade da nossa época.
Quando Igor Stravinsky (1882) estreou a sua
Sagração da Primavera, a 29 de maio de 1913, foi um escândalo, mas o escândalo
passou e a influência do compositor cresceu sem cessar, a despeito de todos os
ataques da crítica.
Uma corrente agressivamente nacionalista
desenvolveu-se com Béla Bartók (1881-1967), na Hungria, fazendo com que os
compositores de todo o mundo volvessem sua atenção para o interior de suas
respectivas pátrias, revivificando o mesmo espírito que decênios antes levara à
formação do Grupo dos Cinco, na Rússia. Nos Estados Unidos, George Gershwin
(1898-1937) valeu-se do "jazz", em busca das fontes originais da
expressão musical de seu povo. Antes dele, Edward Alexander MacDowell
(1861-1908) pesquisaria o folclore indígena, estilizando-o em trabalhos de
nítida influência alemã. No Brasil, Heitor Villa-Lobos (1887-1959) também
buscou no folclore a inspiração para sua obra. Alexandre Levy (1864-1892),
Alberto Nepomuceno (1864-1934) e Ernesto Nazareth (1863-1934) se haviam
antecipado a ele, explorando os elementos indígenas, africanos e europeus que
originaram a nossa cultura. Contudo, foi Villa-Lobos quem fez com que a música
brasileira alcançasse sua expressão mais genuína, divulgando-se
internacionalmente.
Outra corrente da música contemporânea busca
inspiração nos barrocos ou nos clássicos, como Monteverdi, Pergolesi e outros.
É o Neoclassicismo ou o Neobarroco. Stravinsky passa por esta fase, em novo
momento de sua diversificada carreira. Erik Satie (1866-1925) contribuiu com um
movimento também anti-romântico, desenvolvendo, na mesma época de seu
compatriota Debussy, um idioma harmonicamente arrojado. Partindo de Satie,
reuniu-se na França o Grupo dos Seis - Francis Poulenc, Darius Milhaud, Arthur
Honegger, Louis Durey, Germaine Tailleferre e Georges Auric, aos quais coube a
implantação do Neo-Impressionismo, em termos de desligamento de Debussy.
Ao mesmo tempo, o alemão Paul Hindemith (1895-1963)
e Benjamin Britten (1913), na Inglaterra, empenhavam-se em reconquistar o
público, fazendo "música funcional", mais habilidosa e acessível.
DODECAFONISMO
As investidas feitas por Wagner contra o sistema
tonal foram retomadas por Arnold Schöemberg (1874-1951) para realizar radical
revolução. Schoenberg levou às últimas conseqüências o cromatismo wagneriano,
provocando a superação da tonalidade, levando a música à atonalidade.
Posteriormente, organizou um sistema para compor dentro da atonalidade: a
Teoria do Dodecafonismo que se baseia na escala dos Doze Sons (sete tons e
cinco semitons). Sua grande novidade é pretender dar a cada um deles a mesma
função numa obra musical. Vai formar novas séries ou escalas, empregando
livremente os Doze Sons da escala cromática.
A ANTIMÚSICA PARA SALVAR A MÚSICA
Os austríacos Alban Berg (1885-1935) e Anton von
Webern (1833-1945) foram os seguidores mais destacados da "Escola de
Schöenberg", deixando obras de extraordinária importância.
O francês Pierre Boulez, por seu turno, levou às
últimas consequências o Dodecafonismo, explorando-o sob os aspectos do ritmo,
da dinâmica, do timbre, etc. Em 1948, ainda na França, Pierre Schaeffer (1910)
introduz a Música Concreta. Esta se baseia na pesquisa de "sons
concretos", como o barulho do avião, o tilintar de vidros, o canto das
aves, etc., os quais são captados por gravadores e tratados em aparelhos
eletrônicos.
Como decorrência disto surge a Música Eletrônica,
que emprega sons tratados em laboratórios.
Ao lado da Música Aleatória, que é organizada à
medida que se processa a execução, esses gêneros constituem o fenômeno mais
recente e mais controvertido de toda a história da música.
Guiados pela moderna teoria da comunicação de
massas, e tendo como lema a "antimúsica para salvar a música", seus
cultores se permitem total liberdade para chocar ou divertir o público.
A fúria, o desgosto, o estarrecimento e o
entusiasmo provocados pelas apresentações dessa Música de Vanguarda refletem
com clareza o entrechoque de conceitos e a guerra de gerações que caracterizam
o momento atual.
É certo que a Música Contemporânea não se esgota
aqui. Os recursos hoje disponíveis para a criação sonora são muitos e variados.
Largos horizontes se abrem e o mundo dos sons ainda tem muito a oferecer.
Mas os rumos que a expressão musical seguirá são
imprevisíveis. Quanto a isso, não há dúvida.
12/01/2017
12/01/2017
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