O
primeiro sucesso de Chiquinha Gonzaga aconteceu em 1877, quando se aproximava
dos 35 anos. Estatura baixa (mesmo para a média das brasileiras da época), mas
cheínha de corpo como pedia a estética algo renascentista do século XIX
brasileiro, Chiquinha atingia então o ponto culminante da sua libertação dos
preconceitos vigentes. Tendo desistido
das experiências duradouras, a atraente professora de piano e compositora de
choros passara a adotar pioneiramente o conceito do amor livre, aceitando a
simpatia de quem mais lhe agradasse, na verdadeira legião de candidatos às
descomprometidas graças dos seus encantos.
Pois
foi numa dessas reuniões entre amigos – e nas quais muitas vezes ela figurava
como a única mulher – que Chiquinha Gonzaga teve a oportunidade de revelar pela
primeira vez o seu talento de compositora popular. Segundo sua biógrafa Mariza
Lira, isso se deu numa tarde de 1877. Chiquinha fora cumprimentar o compositor
Henrique de Mesquita, criador do tango brasileiro, por ter sido agraciado pelo
governo de Portugal com a comenda de São Tiago. A maestrina teria ouvido
durante um sonho, na noite anterior, o esboço de uma melodia que, ao acordar,
continuava a lhe ressoar no ouvido. Assim, durante a reunião de homenagem a Henrique
de Mesquita na sua casa da Rua Formosa (hoje General Caldwell), e na qual se
encontrava presente o famoso flautista Joaquim Antonio da Silva Callado,
Chiquinha Gonzaga sentou-se ao piano e começou a desenvolver de improviso a melodia sonhada. Era uma polca de ritmo sincopado, e logo após os primeiros acordes, esboçada a linha melódica, cada músico presente, contaminado pela graça saltitante da composição, entrou acompanhando com seu instrumento, o que transformou de maneira inesperada a primeira execução da polca na improvisação coletiva de um choro. Essa polca logo famosa, intitulada ATRAENTE estava destinada porém a não permitir que Chiquinha Gonzaga provasse do sucesso sem o acompanhamento de um desgosto.
Chiquinha Gonzaga sentou-se ao piano e começou a desenvolver de improviso a melodia sonhada. Era uma polca de ritmo sincopado, e logo após os primeiros acordes, esboçada a linha melódica, cada músico presente, contaminado pela graça saltitante da composição, entrou acompanhando com seu instrumento, o que transformou de maneira inesperada a primeira execução da polca na improvisação coletiva de um choro. Essa polca logo famosa, intitulada ATRAENTE estava destinada porém a não permitir que Chiquinha Gonzaga provasse do sucesso sem o acompanhamento de um desgosto.
Impressa
pelo Imperial Estabelecimento de Pianos e Músicas de Narciso A. Napoleão e
Miguez, com bela capa desenhada por Bordalo Pinheiro, a polca Atraente, ao ganhar nas ruas as glórias
do assobio anônimo, acabou recebendo também uma letra em que a autora era
citada, de maneira ferina, pela facilidade com que se tornava atraente para os homens.
ATRAENTE ( Imagens do Rio Antigo)
A
partir da repercussão da sua primeira composição impressa, Chiquinha Gonzaga
(que a esta altura aperfeiçoava os conhecimentos de música com o Maestro Arthur
Napoleão), sentiu que poderia se lançar a um novo campo da criação musical: o
teatro de variedades, centralizado na famosa Praça Tiradentes, no Rio de
Janeiro. Na verdade, para um bom músico da segunda metade do século
passado - quando ainda não se pensava no disco e não se
imaginava o rádio - , o melhor campo de trabalho e as mais amplas oportunidades
de criação estavam nas operetas, revistas e burletas, que Arthur Azevedo se
encarregara de transformar no espetáculo predileto da nascente classe média
moderna, a partir da década de 1870.
Mais
uma vez, entretanto, a compositora Chiquinha Gonzaga ia esbarrar num
preconceito: até 1885, quando finalmente consegue estrear compondo a música da
opereta de costumes A CORTE NA ROÇA, jamais
se concebera uma mulher entre músicos e artistas, nos bastidores de um teatro.
Ainda uma vez, porém, a valente Chiquinha Gonzaga imporia a sua vontade, depois
de quase ser preciso lutar fisicamente contra a resistência dos músicos. Conforme
relata Mariza Lira, o responsável pela Companhia Portuguesa Souza Bastos estava
na Europa, e os músicos portugueses que ensaiavam a partitura de A Corte na
Roça tentaram passar sobre a autoridade da autora da música, imprimindo
andamentos diferentes dos indicados, o que levou Chiquinha Gonzaga a investir
em fúria contra um dos instrumentistas:
-
Alto lá, quem escreveu essa música fui eu, e não o senhor. Respeite o meu
pensamento!
Vencidas as primeiras
barreiras, ia ser afinal nesse movimentado mundo do teatro musicado que a
compositora da polca Atraente melhor
se realizaria. Desse ano de 1885 até 1934, quando aos 87 anos escreveu a
partitura da opereta MARIA, a pedido de Viriato Correia, Chiquinha
comporia a música de 77 peças teatrais (das quais apenas cinco ficaram
inéditas), tornando-se responsável, no total, por cerca de duas mil
composições: polcas, valsas, tangos, lundus, maxixes, fados, quadrilhas,
gavotas, barcarolas, mazurcas, habaneras, choros e serenatas.
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