A
notoriedade que a condição de maestrina de teatro agora lhe garantia (os
maestros capazes de escrever arranjos para vários instrumentos eram muito
poucos, daí o prestígio dos músicos da Praça Tiradentes) permitiu a Chiquinha
Gonzaga desdobrar sua personalidade nas mais diferentes atividades. Dois anos
depois de sua estreia no Teatro Príncipe Imperial (depois São José), a
maestrina promove no Teatro São Pedro um concerto de cem violões, para provar a
superioridade da música popular brasileira. E como estava no auge a campanha
pela libertação dos escravos, Chiquinha Gonzaga oferece apoio a José do
Patrocínio, e sai às ruas vendendo partituras de suas músicas, de porta em
porta, em benefício do fundo de manumissão de escravos da Confederação
Libertadora.
JOSÉ DO PATROCÍNIO
Já a esta altura
reconhecida como uma mulher original (era ela quem idealizava e costurava os
seus vestidos cheios de invenção, o que lhe conferia uma marca de
excentricidade), Chiquinha passa a transformar-se em notícia com frequência. Em
1894 é homenageada a bordo do navio francês
Duquésne, capitânia da Division Navale de l’ Atlantique, sob o comando
do Almirante Fournier, recebendo, diante da guarnição formada no convés, um
broche com as notas dos primeiros compassos da sua valsa VALQUÍRIA cinzeladas em ouro. Em 1888 antecipa-se
à Lei Áurea, comprando a liberdade do escravo músico José Flauta apenas com a
venda de partituras da sua composição CARAMURU, que dedicara à Princesa Isabel.
Em 1889 tem seu nome ligado aos
combatentes da República. Em 1902, 1904 e 1906/10 viaja pela Europa, quando se
exibe no Salão Neuparth, de Lisboa (1904),
e surpreende o prior da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica,
fazendo variações ao órgão em torno de temas da ópera O TROVADOR, de Verdi, sem
que os fiéis percebessem que se tratava de música profana.Nessa
estada de quatro anos em Portugal, a compositora brasileira escreve músicas
para várias peças de autores portugueses entre elas As três Graças e a Bota do
Diabo.
Ao voltar para o Brasil, vai
colher o maior sucesso da sua carreira com a opereta em três atos de Luiz
Peixoto e Carlos Bittencourt intitulada FORROBODÓ.
Antes dessa peça de 1912, que vale por um verdadeiro retrato dos
costumes populares da zona pobre do Rio de Janeiro da primeira década do
século, Chiquinha Gonzaga já havia lançado para o sucesso, a partir do teatro,
muitas de suas composições, sem contar com a marcha Ó ABRE ALAS, composta em 1899 a pedido dos componentes do
cordão carnavalesco Rosa de Ouro (e que seria a música obrigatória e única dos
carnavais dos primeiros anos do século XX). O Abre-Alas foi o primeiro grande
sucesso carnavalesco do Brasil; essa marcha
constituiu a maior atração do carnaval de 1899 e se manteve nos cinco
anos seguintes como campeã absoluta desse festejo popular.
Ó Abre alas
Que eu quero passar
Ó abre alas
Que eu quero passar
Eu sou da Lira
Não posso negar
Ó abre alas
Que eu quero passar
Ó abre alas
Que eu quero passar
Rosa de Ouro
É quem vai ganhar
A
maestrina ainda fizera todo o Brasil dançar em 1897 uma estilização da dança
rural corta-jaca, sob a forma do tango GAÚCHO.
A música lançada na peça ZIZINHA MAXIXE, de Machado Careca, transformara o ritmo estilizado do corta-jaca num sucesso sem precedentes, ilustrando a dança sertaneja chamada de corta-jaca.
Em 1901, quase quatro anos depois de composta, os artistas de variedades do Eldorado, no bairro boêmio da Lapa, dançavam o Gaúcho, sob a forma de maxixe, para a delirante plateia de gente simples. O agrado era tanto, que o ator Machado Careca (famoso pelo seu jeito de dançar O Gaúcho, enroscando-se todo na melhor parceira nesse número, Maria Lino), tratou de providenciar uma letra que passou a intitular de Dueto do Corta-jaca: “Neste mundo de misérias, quem impera”, cantava Machado Careca, “é quem mais é folgazão,/ é quem sabe cortar jaca nos requebros/ de suprema perfeição”, após o que, atracava-se com Maria Lino, cantando os dois em coro o estribilho que se encarregavam de tornar malicioso com o roçar de umbigo e as descaídas da dança acrobática do maxixe: “ Ai! Como é bom dançar! Ai/ corta jaca assim...assim...assim...”.
A música lançada na peça ZIZINHA MAXIXE, de Machado Careca, transformara o ritmo estilizado do corta-jaca num sucesso sem precedentes, ilustrando a dança sertaneja chamada de corta-jaca.
Em 1901, quase quatro anos depois de composta, os artistas de variedades do Eldorado, no bairro boêmio da Lapa, dançavam o Gaúcho, sob a forma de maxixe, para a delirante plateia de gente simples. O agrado era tanto, que o ator Machado Careca (famoso pelo seu jeito de dançar O Gaúcho, enroscando-se todo na melhor parceira nesse número, Maria Lino), tratou de providenciar uma letra que passou a intitular de Dueto do Corta-jaca: “Neste mundo de misérias, quem impera”, cantava Machado Careca, “é quem mais é folgazão,/ é quem sabe cortar jaca nos requebros/ de suprema perfeição”, após o que, atracava-se com Maria Lino, cantando os dois em coro o estribilho que se encarregavam de tornar malicioso com o roçar de umbigo e as descaídas da dança acrobática do maxixe: “ Ai! Como é bom dançar! Ai/ corta jaca assim...assim...assim...”.
E
continuando o sucesso do “tango brasileiro”, com a sua inclusão em 1904 na revista luso-brasileira CÁ E LÁ, o
GAÚCHO adquiriu tanta popularidade que chegou à França e à Alemanha. O
compositor francês Darius Milhaud, no fim da década de 1910, usou o tema para
um balé intitulado Le Boeuf sur le toit,
totalmente inspirado e formado por motivos brasileiros. Seria esse o número que Dona Nair de Tefé,
esposa do Marechal Hermes da Fonseca, presidente da República, iria escolher em 1914 para tocar ao violão
nos jardins do Palácio do Catete, para escândalo nacional e glória de Chiquinha
Gonzaga.
Mas foi de fato com a opereta Forrobodó que a famosa compositora atingiu o ponto culminante da sua longa carreira.
Fonte: Nova História da Música Popular Brasileira
Abril Cultural - 1977
Imagens: Google
Mas foi de fato com a opereta Forrobodó que a famosa compositora atingiu o ponto culminante da sua longa carreira.
Fonte: Nova História da Música Popular Brasileira
Abril Cultural - 1977
Imagens: Google
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