O
CHORO
JACOB DO BANDOLIM
MÚSICA: ANDRÉ DE SAPATO NOVO
COMPOSITOR: ANDRÉ VICTOR CORREIA
A
mais antiga referência ao termo “choro” entendido como toque expressivo nos
instrumentos de cordas parece ser aquela registrada no início da segunda metade
do século XIX. Teria ocorrido quando Manuel Joaquim Maria compôs a polca-lundu
Chora Pitanga! Esse título repete uma expressão popular que nasceu quando o
violoncelista Casimiro Lúcio de Souza Pitanga, ao executar em 1857, no Salão do Congresso Fluminense, uma
Fantasia em Adágio, se ouve com tamanha expressividade no vibrar das cordas
que, da plateia, alguém gritou
entusiasmado: - Chora, Pitanga!
O
dito invadiu a cidade e a polca-lundu Chora,
Pitanga, várias vezes editada e até incluída na peça “Orfeu na Roça”
(1868), acabou conhecida também como a “A Polca do Grito”. Desde o fim
do século XVIII o adjetivo “chorado” vinha sendo empregado no sentido de “plangente”. Em “Obras
Poéticas” (1801), Nicolau Tolentino de Almeida faz referência ao londum chorado, isto é , o lundu tocado
expressivamente na guitarra.
Muito
tempo depois, coube a Ernesto Nazareth relacionar o termo “choro” a um
instrumento muito popular no Brasil , o cavaquinho, aproveitando a forma da
polca-de-serenata a que deu o nome de Cavaquinho, porque choras?
Verifica-se
por outro lado, que tanto em Portugal
quanto no Brasil, era comum o uso de expressões como “chorar no pinho” ,
significando o modo plangente de tocar os instrumentos de cordas dedilhadas.
A
fixação popular do termo “choro” com
referência ao conjunto característico da terra carioca ocorreu quando Chiquinha
Gonzaga compôs o tango brasileiro de nome Só no Choro (1889).
A
organização original do grupo de choro carioca era composta de flauta
transversa, cavaquinho e violões. Coincide, portanto, com aquilo que praticavam
os músicos populares do gênero, no tempo do Império. O Rio de Janeiro era então
o centro mais evoluído do país, em matéria de flautistas, violonistas e exímios
tocadores de cavaquinho. Isso foi a causa primordial do enlevo da alma humana
que a fez defender a essência que deu vida ao choro carioca. Não era um
terceto, um quarteto, etc., mas um conjunto autêntico de características próprias. Quando o grupo
era variado, ou seja, quando apareciam clarinetas, saxofones ou trompetes
substituindo a flauta na execução da melodia, empregava-se a expressão genérica “grupo” para aludir à presença do
sax-horn (instrumento oriundo da pequena banda de música).
O choro começou a
existir quando, nos intervalos dos bailes, saraus e serenatas, o tocador de
cavaquinho, a um canto, dedilhava a melodia da polca da moda, a que os violonistas
acompanhavam heterofonicamente (de ouvido), guiando-se pelas estruturas
regulares das músicas dançantes: valsas, polcas, tangos, etc. Formava-se
assistência curiosa em torno do grupo e os aplausos repetiam-se animados.
Nesses prélitos virtuosísticos cessavam cantos e danças: a música pura dominava.
No choro prevalecia o conceito de música absoluta, ao gosto dos executores,
que, assim, buscavam fugir do predomínio constante do ato de dançar.
Num
caderno escrito a lápis que pertenceu à família de Joaquim Antonio da Silva
Calado Júnior (1848-1880) e que hoje está em nosso arquivo, encontram-se duas
polcas que eram executadas continuadamente como choro. Trata-se da peça
nº 1, em dó maior, cujas modulações surpreendentes sugerem o ambiente dos
choros; e da nº 2, a polca-de-serenata Perigosa, ainda hoje considerada
genérica pelos chorões. Ambas trazem aquela destinação auspiciosa que consistia
em “apanhar” o cavaquinho que, errando na modulação, “caía” na passagem
tangenciada. Daí, provavelmente, a origem da polca de Viriato Figueira Caiu, não disse! a que dá Ernesto Nazareth
resposta pilhérica: Não Caio Noutra.
Mas
como interpretar, por exemplo, a presença do nome “choro” na obra pianística de
Ernesto Nazareth? O piano, apesar de instrumento polifônico, não é componente
ideal do choro. O mecanismo particular desse instrumento, onde martelos movidos
por teclas fazem vibrar cordas soltas (que não têm possibilidade de reproduzir
os denominados “sons plangentes”) retira qualquer autenticidade a seu
emprego no grupo característico a que
estamos nos referindo. Em Nazareth o choro é, pois, uma referência, uma
interpretação de imagens sonoras peculiares.
JACOB DO BANDOLIM E O CHORO
Jacob
Pick Bittencourt, mais conhecido como Jacob do Bandolim (Rio de Janeiro, 14 de
fevereiro de 1918 — Rio de Janeiro, 13 de agosto de 1969) foi um músico,
compositor e bandolinista brasileiro de choros. Filho do capixaba Francisco
Gomes Bittencourt e da judia polonesa Raquel Pick nascida na cidade de Łódź,
morou durante a infância no bairro da Lapa, à Rua Joaquim Silva 97, no Rio de
Janeiro. Posteriormente, morou em uma casa avarandada com jardim em Jacarepaguá
(Rio de Janeiro), rodeado pelas rodas de choro e de grandes amigos chorões.
Apesar de não ser um entusiasta do carnaval, gostava do frevo. Estudou em
escolas tradicionais, como no Colégio Cruzeiro (escola referencial da
comunidade alemã) e no Colégio Anglo-Americano e serviu no CPOR. Trabalhou no
arquivo do Ministério da Guerra, quando já tocava bandolim. Por fim, Jacob fez
carreira como serventuário da justiça no Rio de janeiro, chegando a escrivão de
uma das varas criminais da capital.
Entre
seus ídolos estavam Almirante (compositor), Orestes Barbosa, Noel Rosa, Nonô
(pianista, tio de Ciro Monteiro e parente do cantor Cauby Peixoto), Bonfiglio
de Oliveira, Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Sinhô, Paulo Tapajós, João
Pernambuco, Capiba e Luiz Vieira.
Em
1968 foi realizado um espetáculo no Teatro João Caetano (Rio de Janeiro) em
benefício do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, com Jacob do Bandolim,
a divina Elizeth Cardoso, Zimbo Trio e o Época de Ouro. A apresentação de Jacob
tocando a música Chega de Saudade (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) foi
antológica. Foi lançado álbum com dois longplays (LP) da gravação original do
espetáculo, em edição limitada.
Teve
um casal de filhos, sendo que um deles, era o jornalista polêmico (O Globo,
Última Hora) e compositor Sérgio Bittencourt, que era hemofílico e faleceu com
apenas 38 anos em 1979. A sua filha Elena Bittencourt, cirurgiã dentista, que
fundou e presidiu o Instituto Jacob do Bandolim, faleceu em 2011, por problemas
cardíacos.
Jacob
passou sua última tarde, no bairro de Ramos, em visita a seu amigo compositor e
maestro Pixinguinha. Ao chegar à varanda da sua casa cansado e esbaforido, caiu
nos braços de sua esposa Adília, já sem vida.
São de sua autoria
clássicos do choro como Vibrações, Doce de Coco, Noites Cariocas, Assanhado e Receita de Samba. Alcançou popularidade
ao montar o conjunto ÉPOCA DE OURO, conjunto regional de choro fundado por Jacob
do Bandolim em 1964. Foi organizado definitivamente em 1966 e teve grande
importância no movimento de resistência do choro na década de 1960, época em
que a bossa nova reinava quase absoluta.Época de Ouro se apresentando durante a premiação do Festival de Música
Rádios MEC e Nacional 2016.
A formação atual do conjunto é: Celsinho Silva (pandeiro), Jorge Filho (cavaquinho), Ronaldo do Bandolim, Antonio Rocha (flauta), João Camarero (violão de sete cordas) e Luiz Flavio Alcofra (violão).
(WIKIPEDIA)
NAQUELA MESA
HOMENAGEM DE SERGIO BITTENCOURT
A SEU PAI JACOB DO BANDOLIM
GRAVAÇÃO DE NELSON GONÇALVES
Fonte:
Nova história da Música Popular Brasileira
Abril
Cultural - 1978
Imagens: Google
Vídeo: Youtube
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