terça-feira, 3 de setembro de 2019

JACOB DO BANDOLIM E O CHORO - I

O CHORO 

TEXTO DO MAESTRO BAPTISTA SIQUEIRA



JACOB DO BANDOLIM
MÚSICA: ANDRÉ DE SAPATO NOVO
COMPOSITOR: ANDRÉ VICTOR CORREIA


A mais antiga referência ao termo “choro” entendido como toque expressivo nos instrumentos de cordas parece ser aquela registrada no início da segunda metade do século XIX. Teria ocorrido quando Manuel Joaquim Maria compôs a polca-lundu Chora Pitanga! Esse título repete uma expressão popular que nasceu quando o violoncelista Casimiro Lúcio de Souza Pitanga, ao executar em 1857, no Salão do Congresso Fluminense, uma Fantasia em Adágio, se ouve com tamanha expressividade no vibrar das cordas que, da plateia,  alguém gritou entusiasmado: - Chora, Pitanga!
O dito invadiu a cidade e a polca-lundu Chora, Pitanga, várias vezes editada e até incluída na peça “Orfeu na Roça” (1868), acabou conhecida também como a A Polca do Grito. Desde o fim do século XVIII o adjetivo “chorado” vinha sendo empregado  no sentido de “plangente”. Em “Obras Poéticas” (1801), Nicolau Tolentino de Almeida faz referência ao londum chorado, isto é , o lundu tocado expressivamente na guitarra.
Muito tempo depois, coube a Ernesto Nazareth relacionar o termo “choro” a um instrumento muito popular no Brasil , o cavaquinho, aproveitando a forma da polca-de-serenata a que deu o nome de Cavaquinho, porque choras?
Verifica-se por outro lado,  que tanto em Portugal quanto no Brasil, era comum o uso de expressões como “chorar no pinho” , significando o modo plangente de tocar os instrumentos de cordas dedilhadas.
A fixação popular do termo “choro”  com referência ao conjunto característico da terra carioca ocorreu quando Chiquinha Gonzaga compôs o tango brasileiro de nome  Só no Choro (1889).
A organização original do grupo de choro carioca era composta de flauta transversa, cavaquinho e violões. Coincide, portanto, com aquilo que praticavam os músicos populares do gênero, no tempo do Império. O Rio de Janeiro era então o centro mais evoluído do país, em matéria de flautistas, violonistas e exímios tocadores de cavaquinho. Isso foi a causa primordial do enlevo da alma humana que a fez defender a essência que deu vida ao choro carioca. Não era um terceto, um quarteto, etc., mas um conjunto autêntico  de características próprias. Quando o grupo era variado, ou seja, quando apareciam clarinetas, saxofones ou trompetes substituindo  a flauta na execução  da melodia, empregava-se a expressão  genérica “grupo” para aludir à presença do sax-horn (instrumento oriundo da pequena banda de música).
O choro começou a existir quando, nos intervalos dos bailes, saraus e serenatas, o tocador de cavaquinho, a um canto, dedilhava a melodia da polca da moda, a que os violonistas acompanhavam heterofonicamente (de ouvido), guiando-se pelas estruturas regulares das músicas dançantes: valsas, polcas, tangos, etc. Formava-se assistência curiosa em torno do grupo e os aplausos repetiam-se animados. Nesses prélitos virtuosísticos cessavam cantos e danças: a música pura dominava. No choro prevalecia o conceito de música absoluta, ao gosto dos executores, que, assim, buscavam fugir do predomínio constante do ato de dançar.
Num caderno escrito a lápis que pertenceu à família de Joaquim Antonio da Silva Calado Júnior (1848-1880) e que hoje está em nosso arquivo, encontram-se duas polcas que eram executadas continuadamente como choro. Trata-se da peça nº 1, em dó maior, cujas modulações surpreendentes sugerem o ambiente dos choros; e da nº 2, a polca-de-serenata Perigosa, ainda hoje considerada genérica pelos chorões. Ambas trazem aquela destinação auspiciosa que consistia em “apanhar” o cavaquinho que, errando na modulação, “caía” na passagem tangenciada. Daí, provavelmente, a origem da polca de Viriato Figueira Caiu, não disse! a  que dá Ernesto Nazareth resposta pilhérica: Não Caio Noutra.
Mas como interpretar, por exemplo, a presença do nome “choro” na obra pianística de Ernesto Nazareth? O piano, apesar de instrumento polifônico, não é componente ideal do choro. O mecanismo particular desse instrumento, onde martelos movidos por teclas fazem vibrar cordas soltas (que não têm possibilidade de reproduzir os denominados “sons plangentes”) retira qualquer autenticidade a seu emprego  no grupo característico a que estamos nos referindo. Em Nazareth o choro é, pois, uma referência, uma interpretação de imagens sonoras peculiares.

JACOB DO BANDOLIM E O CHORO




Jacob Pick Bittencourt, mais conhecido como Jacob do Bandolim (Rio de Janeiro, 14 de fevereiro de 1918 — Rio de Janeiro, 13 de agosto de 1969) foi um músico, compositor e bandolinista brasileiro de choros. Filho do capixaba Francisco Gomes Bittencourt e da judia polonesa Raquel Pick nascida na cidade de Łódź, morou durante a infância no bairro da Lapa, à Rua Joaquim Silva 97, no Rio de Janeiro. Posteriormente, morou em uma casa avarandada com jardim em Jacarepaguá (Rio de Janeiro), rodeado pelas rodas de choro e de grandes amigos chorões. Apesar de não ser um entusiasta do carnaval, gostava do frevo. Estudou em escolas tradicionais, como no Colégio Cruzeiro (escola referencial da comunidade alemã) e no Colégio Anglo-Americano e serviu no CPOR. Trabalhou no arquivo do Ministério da Guerra, quando já tocava bandolim. Por fim, Jacob fez carreira como serventuário da justiça no Rio de janeiro, chegando a escrivão de uma das varas criminais da capital.
Entre seus ídolos estavam Almirante (compositor), Orestes Barbosa, Noel Rosa, Nonô (pianista, tio de Ciro Monteiro e parente do cantor Cauby Peixoto), Bonfiglio de Oliveira, Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Sinhô, Paulo Tapajós, João Pernambuco, Capiba e Luiz Vieira.
Em 1968 foi realizado um espetáculo no Teatro João Caetano (Rio de Janeiro) em benefício do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, com Jacob do Bandolim, a divina Elizeth Cardoso, Zimbo Trio e o Época de Ouro. A apresentação de Jacob tocando a música Chega de Saudade (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) foi antológica. Foi lançado álbum com dois longplays (LP) da gravação original do espetáculo, em edição limitada.
Teve um casal de filhos, sendo que um deles, era o jornalista polêmico (O Globo, Última Hora) e compositor Sérgio Bittencourt, que era hemofílico e faleceu com apenas 38 anos em 1979. A sua filha Elena Bittencourt, cirurgiã dentista, que fundou e presidiu o Instituto Jacob do Bandolim, faleceu em 2011, por problemas cardíacos.
Jacob passou sua última tarde, no bairro de Ramos, em visita a seu amigo compositor e maestro Pixinguinha. Ao chegar à varanda da sua casa cansado e esbaforido, caiu nos braços de sua esposa Adília, já sem vida.
São de sua autoria clássicos do choro como Vibrações, Doce de Coco, Noites Cariocas, Assanhado e Receita de Samba.  Alcançou popularidade ao montar o conjunto ÉPOCA DE OURO,  conjunto regional de choro fundado por Jacob do Bandolim em 1964. Foi organizado definitivamente em 1966 e teve grande importância no movimento de resistência do choro na década de 1960, época em que a bossa nova reinava quase absoluta.




                      Época de Ouro se apresentando durante a premiação do Festival de Música
                                                    Rádios MEC e  Nacional 2016.


A formação atual do conjunto é: Celsinho Silva (pandeiro), Jorge Filho (cavaquinho), Ronaldo do Bandolim, Antonio Rocha (flauta), João Camarero (violão de sete cordas) e Luiz Flavio Alcofra (violão).
(WIKIPEDIA)



NAQUELA MESA 
HOMENAGEM DE  SERGIO BITTENCOURT 
A SEU PAI JACOB DO BANDOLIM
GRAVAÇÃO DE NELSON GONÇALVES

Fonte: Nova história da Música Popular Brasileira
Abril Cultural  - 1978
Imagens: Google
Vídeo: Youtube









                         



Nenhum comentário:

Postar um comentário