terça-feira, 21 de janeiro de 2020

CATULO DA PAIXÃO CEARENSE - VI





O Presidente da República pediu silêncio aos convidados. Ele não queria perder um só verso do poeta. Ali, no meio da Baia da Guanabara, entre o azul do céu e o azul do mar, o dia parecia ainda mais esplendoroso, cheio de luz e claridade.  Na lancha, no meio daquela gente empoada, mulheres de vestidos longos, homens encasacados, o poeta declamava. Era já conhecido pelo povo, agora a elite compreendia por que a gente simples o adorava. E Catulo da  Paixão Cearense, homem de pouco mais de 45 anos, estava num dia de notável inspiração. O gesto do presidente constituía a melhor prova disso.  Discretamente, ele chamou um auxiliar e ordenou:
- mande parar as máquinas, assim poderemos ouvir Catulo sem nada que o perturbe.





Naquele primeiro decênio do século não era um capricho de Nilo Peçanha, sucessor de Afonso Pena, o recital de poesia durante um cruzeiro pela Baía da Guanabara. Nas grandes capitais, a poesia era uma paixão popular. Os poetas eram reconhecidos nas ruas; quando davam recitais havia certeza de casa cheia. Quem não conhecia um Olavo Bilac, um Alberto Guimarães, um Emílio de Menezes, um Catulo da Paixão Cearense?
Mais que todos, Catulo tinha tudo para ser adorado pela gente do povo. Conhecia métrica e podia fazer poemas no mesmo estilo dos outros. Já dera prova disso, assim que chegara ao Rio, em 1880, com apenas dezessete anos, em sua modinha AO LUAR:
“Vê que amenidade,/ que serenidade/ tem a noite, em meio, /Quando em branco enleio,/ vem lenir o seio,/ de algum trovador!”




Mas ele não vivia no Parnaso. As poesias que o povo admirava nele eram justamente aquelas com cheiro de terra, que falavam de amores e infortúnios da nossa cabocla, que reproduziam a nossa linguagem com seus defeitos, que viam o mundo e as coisas com uma sensibilidade nossa. Por isso o povo deu-lhe um busto em vida, reunindo tostão por tostão, para perpetuar no bronze a admiração por seu poeta.




Fonte: NOVA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
            ABRIL CULTURAL – 1978
Fotos: GOOGLE
Vídeos: YOUTUBE


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