O
Presidente da República pediu silêncio aos convidados. Ele não queria perder um
só verso do poeta. Ali, no meio da Baia da Guanabara, entre o azul do céu e o
azul do mar, o dia parecia ainda mais esplendoroso, cheio de luz e
claridade. Na lancha, no meio daquela
gente empoada, mulheres de vestidos longos, homens encasacados, o poeta
declamava. Era já conhecido pelo povo, agora a elite compreendia por que a
gente simples o adorava. E Catulo da
Paixão Cearense, homem de pouco mais de 45 anos, estava num dia de
notável inspiração. O gesto do presidente constituía a melhor prova disso. Discretamente, ele chamou um auxiliar e
ordenou:
-
mande parar as máquinas, assim poderemos ouvir Catulo sem nada que o perturbe.
Naquele
primeiro decênio do século não era um capricho de Nilo Peçanha, sucessor de
Afonso Pena, o recital de poesia durante um cruzeiro pela Baía da Guanabara.
Nas grandes capitais, a poesia era uma paixão popular. Os poetas eram
reconhecidos nas ruas; quando davam recitais havia certeza de casa cheia. Quem
não conhecia um Olavo Bilac, um Alberto Guimarães, um Emílio de Menezes, um
Catulo da Paixão Cearense?
Mais que todos, Catulo
tinha tudo para ser adorado pela gente do povo. Conhecia métrica e podia fazer
poemas no mesmo estilo dos outros. Já dera prova disso, assim que chegara ao
Rio, em 1880, com apenas dezessete anos, em sua modinha AO LUAR:
“Vê
que amenidade,/ que serenidade/ tem a noite, em meio, /Quando em branco
enleio,/ vem lenir o seio,/ de algum trovador!”
Mas ele não vivia no
Parnaso. As poesias que o povo admirava nele eram justamente aquelas com cheiro
de terra, que falavam de amores e infortúnios da nossa cabocla, que reproduziam
a nossa linguagem com seus defeitos, que viam o mundo e as coisas com uma
sensibilidade nossa. Por isso o povo deu-lhe um busto em vida, reunindo tostão
por tostão, para perpetuar no bronze a admiração por seu poeta.
Fonte:
NOVA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
ABRIL CULTURAL – 1978
Fotos:
GOOGLE
Vídeos: YOUTUBE
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