DERRUBA,
CAVAQUINHO,
TODA A MÁGOA NUM
CHORINHO.
FLAUTA QUERIDA,
ASSOPRA ESPERANÇA NA VIDA.
“Jacob
Bittencourt, bandolinista consagrado, estudioso e pesquisador renitente do
populário nacional, compositor de mérito, é um homem para quem o crime
compensa. E isto explica-se: Jacob não é apenas músico, mas também o escrivão
da 19ª Vara Criminal. Mora em Jacarepaguá, tem
um fabuloso arquivo musical e é fotógrafo amador.” Assim, o saudoso Sérgio Porto, o Stanislaw
Ponte Preta, iniciava na extinta Revista de Música Popular, comentário sobre a
discografia de Jacob Pick Bittencourt, ou melhor, de Jacob do Bandolim, o homem
que seria, durante muito tempo, um dos responsáveis pela manutenção da
gramática do choro.
Essa
rápida pincelada biográfica esboçada por Sérgio Porto chama atenção para a
diversidade de atividades exercidas por aquele que foi um de nossos maiores
bandolinistas e, talvez, o responsável pela popularização desse
instrumento. De fato, Jacob procurou
nunca viver exclusivamente de música (daí ter-se tornado escrivão), e seu apego
e dedicação a nossa música popular deixou uma inestimável herança: a Sala Jacob
do Bandolim, no Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro, local que abriga o
rico arquivo deixado pelo bandolinista
ao morrer. Nesse acervo, encontram-se arquivados
cem livros, 6 mil partituras (muitas delas grafadas pelo próprio Jacob), mil
revistas, quinze fichários, 1400 discos de 78, 45 e 33 rotações e 120 fitas
gravadas, entre outras coisas de excepcional valia, principalmente para quem se
preocupa em desvendar os segredos do chorinho.
Os
primeiros passos musicais daquele menino nascido nas Laranjeiras, em 14 de
fevereiro de 1918, não foram nada prazerosos. Como prêmio por sua inédita
tentativa de fazer um arranjo musical, um contracanto no coro do Hino Nacional,
ficou de castigo até a noite na escola. Mais tarde, seus colegas de turma na
British American School divertiam-se com os sons que o garoto dos Bittencourt
extraía de uma gaita, demonstrando uma tendência estranha à família, que não se
lembrava sequer de um antepassado com dotes musicais. Mas o que parecia
tendência acabaria se revelando vocação.
Aos
doze anos, Jacob ganhou seu primeiro instrumento, um violino que receberia uma
maneira toda especial de execução. Sem
uma adequada instrução de como tocar aquele instrumento, e considerando o arco
desnecessário e incômodo, ele passou a traduzir valas e canções da época num
particular pizzicato, valendo-se dos
grampos de cabelo de sua mãe. Este era o divertimento principal do menino que
morava na Lapa boêmia e musical. Mas
como as cordas do violino viviam arrebentando, Jacob, aconselhado por uma amiga
de sua mãe, abraçou pela primeira vez o instrumento ao qual ficaria unido
intimamente pelo resto da vida – tão intimamente que incorporaria o nome do
instrumento ao seu. O primeiro bandolim que possuiu era um modelo napolitano, chamado
de “cuia” ou “saúva” e adquirido na loja “Guitarra de Prata”, por 80 mil-réis.
A partir daí, Jacob encontrou melhores condições para exercer seu profundo
sentido musical, embora continuasse sem métodos nem professores.
A
data considerada como a da primeira exibição de Jacob do Bandolim é 20 de
dezembro de 1933. Empurrado por amigos e acompanhado por três deles, executou o
choro Aguenta Calunga, de Attílio Grany, no programa Hora do Amador Unisal, da
Rádio Guanabara. O resultado da apresentação frustrou bastante as exigências do
jovem Jacob, que contava então quinze anos. Mas o primeiro êxito da incipiente
carreira do bandolinista aconteceria em 27 de maio de 1934, depois de duas
apresentações realizadas dias antes (uma no programa Horas Luso-Brasileiras, da
Rádio Educadora; outra, no Clube Ginástico Português, ambas tocando violão,
instrumento que por pouco não seduz Jacob). Participando de um concurso promovido pelo jornal “O
Radical”, no Programa dos Novos, da Rádio Guanabara, ele conseguiu o segundo lugar
na preferência dos ouvintes, que enviavam seus votos pelo cupom extraído da
coluna de Silvio da Fonseca, no “ O Radical”. O resultado, porém, não era
definitivo: o júri (que lhe conferiu unanimemente os 10 pontos) – composto por
Orestes Barbosa, Francisco Alves, Benedito Lacerda, Cristóvão de Alencar,
Eratóstenes Frazão, Alberto Manes (diretor da rádio), Oscar Pamplona e sua
filha, a professora Maria Pamplona – outorgou-lhe o primeiro prêmio. O grupo
(Jacob mais Carlos Gil, cavaquinho; Osmar Menezes, violão; Valério Farias, o
“Roxinho”, violão; Manoel Gil, pandeiro; e Natalino Gil, ritmista) foi batizado
por Frazão de “Jacob e sua Gente”, passando a revezar com o Benedito Lacerda e
sua Gente do Morro no acompanhamento dos cantores da Rádio Guanabara. Noel Rosa, por exemplo, foi um dos cantores
que o novo regional acompanhou. A virtuose do bandolim de Jacob, ainda que por
poucos instantes, nas pausas da voz de algum cantor, principiava a encontrar
suas primeiras “vibrações”.
JACOB DO BANDOLIM - BENZINHO
Até a década de 20, nem
o bandolim nem o cavaquinho eram, geralmente, propostos como instrumentos de
solo em rodas de choro. Historicamente, eles chegaram até nós pelos
portugueses, servindo de acompanhamento em modinhas e lundus. Considerados
instrumentos de precários recursos técnicos para o papel de solista, eles, a
exemplo dos banjos no jazz-band, cumpriam a função de enriquecimento harmônico
e rítmico, entre os chorões. Em 1977, ao gravar um disco de choros, no qual
passa quase todo o tempo tocando cavaquinho, Paulinho da Viola escreveu: “o
cavaquinho ‘solado’ não é muito fácil devido aos poucos recursos que oferece.
É, na verdade, adequado para fazer o centro”. De resto, vale notar que as
gravações feitas pelo sistema mecânico não conseguiam um registro eficiente dos
sons do bandolim e do cavaquinho, que se confundiam com os violões.
BANDOLIM,
VIOLINO & VIOLÃO
OS OITO BATUTAS
Segundo Lúcio Rangel, os solos de bandolim e de cavaquinho de
Luperce “percorriam todas as vitrolas do país, num número sempre crescente de
interpretações”. Especula-se que Luperce
talvez seja o solista instrumental brasileiro que mais gravou, tendo passado
por quase todas as etiquetas brasileiras: Odeon, RCA Vitor, Parlophon,
Columbia, Continental e Marcus Pereira, onde gravou pela última vez,
não chegando, contudo, a ouvir o disco pronto. Vítima de um enfarte, faleceu a
5 de abril de 1977.
O som do bandolim ou do
cavaquinho de Luperce pode ser reconhecido em algumas gravações históricas como
Se você Jurar, com a dupla Mário
Reis-Francisco Alves, ou Tabuleiro da
Baiana, com Carmen Miranda e Luiz Barbosa; atribui-se a Luperce Miranda,
também, a primeira gravação de Carinhoso,
de Pixinguinha. Luperce Miranda redefiniu o cavaquinho e o bandolim para a
música popular brasileira, e assim abriu caminho para outros instrumentistas
como José Menezes, Waldir Azevedo, Jacob do Bandolim, Canhoto, Índio, Jonas,
Deo Rian, Joel, Evandro.
Fonte: Nova História da Música Popular Brasileira
Abril Cultural - 1978
Imagens: Google
Vídeos: Youtube
LUPERCE MIRANDA -
ODEON - de ERNESTO NAZARETH
Fonte: Nova História da Música Popular Brasileira
Abril Cultural - 1978
Imagens: Google
Vídeos: Youtube
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