sábado, 14 de agosto de 2021

ARY BARROSO - PARTE III - PRÊMIO DE CONCURSO: CASAMENTO - O HOMEM DOS SETE MICROFONES

 

De pensão em pensão, Ary foi parar na Rua André Cavalcanti, nº 50, e gostou muito do lugar. Não só das acomodações, mas também da filha da dona da pensão.  Era 1929 e Ary Barroso resolveu casar. Mas onde estava o dinheiro para montar a casa, se seu salário no teatro mal dava pra os gastos diários?

O compositor Eduardo Souto  - que muito influenciou a obra de Ary  -  sugeriu uma solução: ganhar o concurso de músicas carnavalescas que a Casa  Edison  estava promovendo.  Ary gostou da ideia e escreveu a marchinha DÁ NELA,  cuja letra era um violento ataque às mulheres linguarudas: “ Esta mulher há muito tempo me provoca.../ Dá nela! Dá nela! É perigosa, fala mais que pata-choca.../ Dá nela! Dá nela!.   No dia 18 de janeiro de 1930, o público que lotava o Teatro Lírico vibrava com as músicas de Pixinguinha, Sinhô, Donga.  Mas DÁ NELA sobrepujou  a todas e os novecentos votantes da plateia deram-lhe a vitória com trezentos votos de diferença para a segunda colocada.  Gravada por Francisco Alves, foi o maior sucesso do carnaval de 1930.
Os 5:000$000 de prêmio foram mais do que suficientes para Ary pagar as despesas com o diploma de bacharel em direito – recebido a 31 de janeiro – e casar com Ivone Belfort de Arantes a 26 de fevereiro. Mas o dinheiro que ganhava tocando piano e compondo não permitiria uma vida folgada para o casal. 

O HOMEM DOS SETE MICROFONES

Com o diploma debaixo do braço, Ary foi a Belo Horizonte, onde um tio, o Deputado Alarico Barroso, lhe conseguiu  uma  nomeação para juiz municipal de Nova Rezende. O futuro estava garantido. Só que quinze dias depois Ary voltou para o Rio: chegara à conclusão de que não nascera para juiz, que sua vida estava definitivamente ligada à música.

O tenor Machado del Negri, pronto para ensaiar um trecho de Marta, ópera de Flotow, perguntou para Renato Murce, produtor do programa Horas do Outro Mundo:
- Onde está o pianista?
Renato apresentou Ary e o tenor não gostou:  -Este rapaz é do samba. Ele não conhece música clássica! - Coloca a partitura no piano que ele acompanha.
Ary tocou perfeitamente e o tenor teve que pedir desculpas. Era 1932 e Ary  Barroso ingressava na Rádio Philips a convite de Renato Murce.  A princípio simples pianista, logo se tornaria  locutor, humorista, animador e locutor esportivo.
Tudo começou com o terceiro lugar conseguido num concurso de locutores. Ficou trabalhando na Philips e logo arranjou briga: criticou pelo microfone Sodré Viana e Henrique Pongetti, que haviam elogiado um filme em que a rumba aparecia como música brasileira. Formou-se uma polêmica, como tantas outras que Ary  promoveria mais tarde.
Depois da Philips, Ary foi para a Mayrink Veiga, e de lá para a Cosmos, em São Paulo.  Relembrando o tempo em que contava piadas no intervalo das revistas que musicava, transformou-se em humorista, trabalhando com Luís Peixoto e Gagliano Netto. Voltando para o Rio, foi para a Cruzeiro do Sul. Seus companheiros:  Heber de Bôscoli, Paulo Roberto e Edmundo Maia, que era o “sonoplasta”, imitando trovão, latido de cachorro, etc...
Os programas de calouros de Ary Barroso ficaram famosos pelos disparates que os candidatos diziam e pelo gongo, inovação de Ary que, no princípio, quando o programa começou na Rádio Cruzeiro do Sul (1937), era um sino.  Ary brincava com os calouros, fazendo os ouvintes se divertirem com os absurdos ditos ao microfone. Quando passou para a Tupi, instituiu o gongo, que era tocado pelo auxiliar de portaria da rádio, Macalé. O calouro desafinava e Ary fazia um discreto gesto – coçar a cabeça, segurar o botão do paletó – e Macalé já sabia: gongo nele!
Preocupado em defender a música brasileira, não gostava quando um calouro cantava Fox, bolero ou tango. E exigia que anunciassem o autor da música, procurando prestigiar os compositores. Essa exigência motivou várias confusões engraçadas, algumas com seus próprios sambas. O calouro anunciava que ia cantar um “sambinha” de autor desconhecido: AQUARELA DO BRASIL... Ou se espantava: “ Ué, RISQUE não é da Linda Batista?” . Outro, que ia cantar composição de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, anunciou apenas o nome do poeta. Ary perguntou: “ e o Tom?”  Resposta: “ Sol maior”. 
Cantores famosos, como Angela Maria e Lúcia Alves começaram em seu programa, que chegou a ser transmitido pela televisão. Mas, Ary, desgostoso com o pouco tempo que lhe davam na TV Tupi (25 minutos), acabou encerrando o programa definitivamente.





Fonte: NOVA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

Abril Cultural – 2ª Edição – 1977
Fotos:  GOOGLE

 



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