É CARNAVAL. É DOMINGO, 9 DE FEVEREIRO DE
1964.
Os diretores da Escola de Samba Império Serrano correm de lá para cá
tentando reunir o pessoal. Está quase na
hora de entrarem na avenida. Aproxima-se o momento decisivo do desfile diante
do público e da Comissão Julgadora. São
mais de 2 mil figurantes espalhados na multidão , que é preciso distribuir,
ordenar. O marquês come tranquilamente seu cachorro-quente. As damas da corte
não descobrem maneira de descansar sem estragar os imenso e rendados vestidos.
As alas se misturam, alguns não
sabem seu lugar na sequência de quadros. E os diretores frenéticos, pra lá e
pra cá, que a hora se aproxima. A turma
da “cozinha” cantarola a música do enredo:
“ Vejam esta maravilha de cenário
É um episódio relicário
Que o artista, num sonho genial
Escolheu para este carnaval.
E o asfalto, como passarela,
Será a tela
Do Brasil em forma de
Aquarela...”
AQUARELA DO BRASIL chama-se o enredo. Como o famoso samba de Ary
Barroso, procura exaltar as belezas e grandezas do país. É um samba-
exaltação, como o de Ary Barroso. O desfile da Império Serrano não deixará de
ser uma homenagem ao compositor brasileiro mais conhecido no país e no
exterior.
Quase 11 horas. A escola finalmente está pronta para desfilar.
Soam os primeiros surdos. Ensaiam-se os primeiros passos.
De repente, silêncio.
Ficam todos atarantados, ninguém sabe o que fazer: a notícia caiu como um raio;
‘’ARY BARROSO MORREU”.
Brasil
Meu Brasil
brasileiro
Meu mulato
inzoneiro
Vou
cantar-te nos meus versos
O Brasil,
samba que dá
Bamboleio
que faz gingar
O Brasil, do meu amor
Terra de
Nosso Senhor
Brasil,
Brasil
Pra mim, pra
mim
Ah, abre a
cortina do passado
Tira a Mãe
Preta, do cerrado
Bota o Rei
Congo, no congado
Brasil,
Brasil
Pra mim, pra
mim
Deixa,
cantar de novo o trovador
A merencória
luz da lua
Toda canção
do meu amor
Quero ver
essa dona caminhando
Pelos salões
arrastando
O seu vestido
rendado
Brasil,
Brasil
Pra mim, pra
mim
Brasil
Terra boa e
gostosa
Da morena
sestrosa
De olhar
indiscreto
Oh Brasil,
samba que dá
Bamboleio,
que faz gingar
Oh Brasil,
do meu amor
Terra de
Nosso Senhor
Brasil,
Brasil
Pra mim, pra
mim
Oh, esse
coqueiro que dá coco
Onde eu
amarro a minha rede
Nas noites
claras de luar
Brasil,
Brasil
Pra mim, pra
mim
Ah, ouve
essas fontes murmurantes
Onde eu mato
a minha sede
E onde a lua
vem brincar
Ah, este
Brasil lindo e trigueiro
É o meu
Brasil, brasileiro
Terra de
samba e pandeiro
Brasil, Brasil pra mim, pra mim.
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