sábado, 14 de agosto de 2021

ARY BARROSO - PARTE IV- UM SAMBA CHEIO DE INOVAÇÕES

 

As múltiplas atividades que desenvolvia para se sustentar não sufocaram o compositor Ary Barroso. Pelo contrário: tornou-se um dos mais férteis criadores de nossa música, revelando a cada ano novos sucessos. Em 1931, Silvio Caldas gravava FACEIRA, BAHIA, UM SAMBA EM PIEDADE. Nos anos seguintes, o mesmo cantor lança MARIA, SEGURA ESTA MULHER, EU VOU PRO MARANHÃO, TU, POR CAUSA DESSA CABOCLA.  Outras músicas surgiam na voz de Elisinha Coelho, cuja interpretação de NO RANCHO FUNDO Ary considerava das melhores feitas com suas composições, ao lado de CAMISA AMARELA, por Aracy de Almeida. 
Em 1934, Ary foi à Bahia como pianista da Orquestra Napoleão Tavares e ficou encantado com a “boa terra”. Baianas, comidas, ladeiras seriam revividas mais tarde em algumas de suas músicas mais conhecidas: NO TABULEIRO DA BAIANA, QUANDO EU PENSO NA BAHIA, NA BAIXA DO SAPATEIRO, OS QUINDINS DE IAIÁ.  Exceção desta última, gravada por Ciro Monteiro, as outras foram interpretadas por Carmen Miranda, a “baianinha” que dividia com Francisco Alves a preferência do público da época.  BONECA DE PIXE (letra de Luís Iglesias) e COMO “VAES” VOCÊ  também foram gravadas por Carmen Miranda, que se tornara uma grande amiga de Ary. 
Numa noite chuvosa de 1939, Ary conversava com a esposa e um casal de cunhados quando se dirigiu para o piano, dizendo: “ Vou fazer um samba cheio de inovações...” Começou imitando no teclado a batida de um tamborim e meia hora depois música e letra estavam prontas. O cunhado não gostou da letra: “ COQUEIRO QUE DÁ COCO” QUE QUERIA QUE ELE DESSE?”  Ary não se importou com a crítica. Estava satisfeito com a letra que exaltava o bom e o belo do Brasil, contrapondo-se às tradicionais estórias de malandragem, bebida, dinheiro, amores fracassados que dominavam o samba. Levou a nova composição para uma peça de Edmundo Lys. Cantada por Aracy Cortes, passou despercebida. Pouco depois Aracy de Almeida desistia de gravá-la  porque exigia grande orquestra em vez de regional. A música voltou ao teatro em Joujoux e Balangandãs, de Henrique Pongetti, interpretada por Cândido Botelho. Desta vez foi muito bem recebida pelo público e logo levada a disco por Francisco Alves, ocupando os dois lados de um 78 rotações. Era outubro de 1939.  Desde então  AQUARELA DO BRASIL  tornou-se sucesso, tendo mais de cem gravações no Brasil, sem falar nas do exterior, dos Estados Unidos à França, do México às Filipinas, da Alemanha à Nova Zelândia.
- Naturalmente em princípio eu sofria influência do Sinhô. Seguida pela fase que eu chamo de Eduardo Souto. Foram estes dois que me acompanharam musicalmente no começo da minha carreira.  Depois eu consegui me libertar e criei um estio todo pessoal, cujo início poderá ser marcado com FACEIRA (...) . Nessa fase eu era mais ingênuo, mais puro, mais autêntico. Depois vim a criar um estilo que chamaram de “exaltação”.  Por que, não sei. É a fase em que falo do Brasil grandioso, nas suas várias facetas, de beleza, de riquezas. Não tem nada de exaltação. Começa naturalmente com Aquarela do Brasil.
NA BAIXA DO SAPATEIRO, gravado  antes, já prenunciava o estilo grandiloquente das novas composições de Ary, como  Brasil Moreno  e Terra Seca, samba que considerava sua obra-prima. 
Mas, foi Aquarela do Brasil  que lhe deu fama e... dólares. Uma história que começa em Belém do Pará quando um grupo de americanos quis ouvir música brasileira e fez o pedido para o péssimo quarteto que tocava no restaurante do hotel. Saiu uma Aquarela meio deformada, mas o suficiente para que o americano mais importante do grupo saísse assobiando trechos da melodia e não a esquecesse até chegar ao Rio de Janeiro.






O americano era Walt Disney, que vinha fazer um desenho num país tropical. E, para fundo musical das aventuras de Zé Carioca em Alô, Amigos, escolheu a composição que ouvira primeiro em Belém e depois no Rio.  Entusiasmado com  as músicas de Ary, mais tarde, incluiu NO TABULEIRO DA BAIANA  e  OS QUINDINS DE IAIÁ no desenho VOCÊ JÁ FOI À BAHIA?.   
Foi o suficiente para que Ary ganhasse notoriedade internacional e fosse chamado a Hollywood para fazer a música de outros filmes. Em princípios de 1944 ia pela primeira vez aos Estados Unidos, compondo RIO DE JANEIRO para o filme BRASIL,  música que chegou a ser indicada para o Oscar. No fim do mesmo ano voltou à América do Norte, onde permaneceu oito meses ganhando mil dólares por semana. Desta vez compôs a canção-tema do filme TRÊS  GAROTAS DE AZUL.
E jamais esqueceu um telefone de Los Angeles CR-52354. Através dele ouviu a voz inconfundível da velha amiga Carmen Miranda, que se instalara nos Estados Unidos havia cinco anos. Ary voltaria ainda uma vez, em 1948, para musicar O TRONO DAS AMAZONAS, filme que não chegou a ser completado.

 


 
Fonte: NOVA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA   
Abril Cultural- 2ª edição - 1977
Fotos:  GOOGLE

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