quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

BEETHOVEN - 250 ANOS - PARTE I

 

Não é fácil sondar todos os recantos da alma de um gênio, explicar seus motivos e impulsos, justificar integralmente suas criações. Assim, para compreender a personalidade de Beethoven e o significado da revolução que imprimiu na música do século XIX, é necessário situá-lo  num conjunto de coordenadas sociais, psicológicas e culturais que marcaram sua formação.



LUDWIG VAN BEETHOVEN  nasceu em 1770, em Bonn, Alemanha, no seio de uma família  da baixa classe média, cujos membros estavam a serviço da aristocracia e dela dependiam. Seu avô paterno, com que viveu até os três anos de idade, era mestre-de-capela do Príncipe Eleitor de Colônia. Seu pai vivia dos proventos da Corte, onde ocupava o cargo de tenor. Sua mãe trabalhava como camareira na residência do Príncipe Eleitor de Trier, e o próprio Beethoven, já aos doze anos, recebia proventos como músico da Corte de Bonn.

Os Beethoven constituíam uma família infeliz, em virtude  do alcoolismo de que o pai era vítima. A avó paterna, igualmente alcóolatra, acabou seus dias num asilo de alienados. A família passou por incontáveis privações e a decadência do pai chegou a tal ponto que, ao falecer a mulher, os filhos menores ficaram sob os cuidados do jovem Ludwig, então com dezessete anos. Pouco depois, o pai foi expulso da Corte por seus excessos alcoólicos.

Os antepassados de Beethoven  viveram na Bélgica e eram de condição humilde. Seu avô era músico profissional e dedicou-se ao comércio de vinhos, para melhorar o orçamento da família; outros foram marceneiros, alfaiates, padeiros, etc. O gênio de Beethoven, no entanto, permitiu-lhe, certa vez, afirmar ao Príncipe Lichnowsky:  “Senhor, vós sois príncipe de nascença; príncipes sempre existiram e sempre existirão, mas Beethoven existe apenas um: sou eu”.

Outros fatores que podem esclarecer a vida e a obra de Beethoven são as transformações econômicas, sociais e culturais que marcaram a época. O artista viveu de 1770 a 1827 – meio século de tão radicais transformações no Ocidente que os historiadores aí situam o fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea.

No plano da economia, o período representou a transformação do capitalismo comercial em capitalismo industrial, completando-se  a derrocada do feudalismo medieval. No terreno das relações sociais, a burguesia tornou-se a classe dominante, destronando a antiga nobreza fundada na propriedade da terra; a servidão foi abolida e substituída pelo trabalho livre, surgindo o proletariado industrial como principal força de trabalho.  Do ponto de vista político, o Estado deixou de ser privilégio da aristocracia, ou do clero, e o poder passou para as mãos dos burgueses; a democracia liberal e a republica substituíram as desgastadas monarquias absolutistas. Paralelamente, no plano das ideias, a revelação e o argumento de autoridade foram mais amplamente derrotados pelo poder da razão -  afirmação do indivíduo, do sujeito pensante e livre.

A França era o centro dessas transformações, mas toda a Europa sentiu seus efeitos e foi por elas afetada. Bonn, onde Beethoven viveu até os 22 anos de idade, passou a ser governada, em 1784, por Maximilian-Franz, um dos representantes do despotismo esclarecido da época. Tolerante e aberto às novas ideias, Maximilian-Franz transformou Bonn de simples capital de província em centro de grande atividade cultural, limitando o poder de seu próprio clero (era arcebispo católico), criando uma universidade e abrindo  suas portas aos grandes nomes da literatura alemã – Lessing, Klopstock, os jovens Goethe e Schiller -  que configuraram o chamado Pré-Romantismo.

Beethoven alimentou-se de novas ideias, na casa de uma família de liberais, os Breuning. Mais importante ainda, nesse sentido, foi seu ingresso na Universidade de Bonn, em 1789, onde a Revolução Francesa era saudada com entusiasmo e fermentavam vivamente os ideais revolucionários de liberdade, igualdade e fraternidade. Tudo isso – a servidão aos nobres, a pobreza, a dramática constelação familiar, o caráter revolucionário da época – contribuiu bastante para fazer de Beethoven um homem atormentado, nervoso, irascível, apaixonado e, sobretudo amante da liberdade e da dignidade individual.

Outros elementos importantes para a compreensão da obra de Beethoven – os insucessos amorosos, a surdez etc... são fatores que derivam dos que marcaram  seus anos de formação ou que se acrescentaram a eles posteriormente. Neste último caso, destaca-se, sobretudo, a perda da audição, cujos primeiros sinais apareceram quando o compositor se aproximava dos trinta anos e que se agravou progressivamente, até levá-lo à surdez absoluta e definitiva.

 

FONTE:  MESTRES DA MÚSICA                                                                              ABRIL CULTURAL– 2ª EDIÇÃO – 1982                                                              IMAGENS: GOOGLE              

 

 

 

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