DÉCADA DE 70
O
carnaval em Salvador começa efetivamente no dia 8 de Dezembro, com a abertura
dos festejos do Largo pela festa da Conceição da Praia. São celebrações que se
remetem umas às outras, adquirindo sempre, ao final, um estatuto carnavalesco. Oficialmente, porém o bloco Barroquinha Zero Hora, que sobe a
Ladeira da Barroquinha à zero hora do sábado de carnaval, é que inaugura o
carnaval baiano.
Na
manhã do sábado da folia, cerca de
seiscentas pessoas vestidas de túnicas e turbantes brancos, levando alegorias
hindus, dirigem-se à Igreja de Santa Luíza, na Cidade Baixa, onde homenageiam
sua padroeira. Trata-se do afoxé Filhos
de Ghandi, encarregado de afastar os maus espíritos do carnaval; eles
caminham tocando atabaques, agogôs e caxixis e cantam músicas em nagô.
(Originalmente os afoxés eram cortes de reis africanos; na Bahia, metamorfosearam-se
em cordões de carnaval).
Atração
também do carnaval da Bahia são os trios elétricos: músicos com som
eletrificado, que percorrem as ruas em cima de um caminhão executando sucessos
carnavalescos para o povo dançar; ao que tudo indica, essa espécie de caixa de
música ambulante começou em 1950, com Osmar e Dodô.
Outro
grande carnaval brasileiro é o de Pernambuco, notadamente os de Olinda e
Recife. É desse Estado que surgiu um dos
ritmos mais alucinantes da festa momesca: o vigoroso, envolvente e contagiante
frevo. Utilizando-se de seções de metais, ele aparece entoado por blocos de
nomes pitorescos e formação original. Os passos mais usados são os do
“parafuso”, do “saca-rolhas”, das “tesouras”, dos “corrupios”, de “siri”, além
de inúmeras improvisações coreográficas e acrobáticas.
Paralelamente,
existe o maracatu, cortejo processional de origem africana,quase soturno, mas
altamente expressivo. Essa conformação carnavalesca, a exemplo da marcha-rancho
no carnaval do Rio, serve como uma espécie de pausa na loucura exaustiva do
frevo. O berço do maracatu foram as senzalas, quando os negros prestavam
homenagem a seus antigos reis africanos. Mesmo com o fim da escravidão, os
cortejos continuaram, passando pelas casas dos amigos. Daí, o maracatu ganhou
as ruas, tornando-se uma das peças essenciais do carnaval pernambucano.
Cordões
e agrupamentos carnavalescos, tais como o Clube
das Vassourinhas ou o Bloco Pá de Carvão, inicialmente formados pelos
negros recém-libertados da escravidão e que constituíram as primeiras
associações profissionais, como a dos varredores de rua, a dos carvoeiros,
etc.. foram os responsáveis pela difusão do frevo.
Em
São Paulo, o carnaval, que era uma festa restrita aos salões ( de luxo ou
populares), começou a ser praticado nas ruas, atendendo às influências das
escolas de samba do Rio de Janeiro. Sem a introdução de uma sonoridade própria
que caracterizasse o carnaval paulista, ele segue repetindo o estilo das
grandes escolas cariocas, enfatizando o luxo das fantasias e alegorias.
Nos
outros estados, geralmente aparecem traços peculiares, maneiras diferentes de
celebrar a folia momesca.
Mas
a grande tendência registrada no Brasil inteiro é a do carnaval se homogeneizar
segundo a fórmula carioca: de um lado , o carnaval de salão ( luxuoso ou não);
do outro, o desfile das escolas de samba. Isso é sentido principalmente nas
cidades que carecem de uma tradição carnavalesca própria. Assim, o carnaval vai
se transformando, cada vez mais, num ritual padronizado, em prejuízo da folia e
da espontaneidade. Uma festa onde o
sentido de solidariedade celebrativa, da neutralização dos conflitos e
antagonismos, está desaparecendo ou até já desapareceu.
FONTE:
NOVA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
ABRIL
CULTURAL - 1979
IMAGENS: GOOGLE
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