quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

SAMBA, MARCHA-RANCHO, BATUCADA: CARNAVAL - VII


SAMBA, MARCHA-RANCHO, BATUCADA: CARNAVAL - VII

O samba é outro gênero de música popular brasileira que sempre frequentou o carnaval. Uma de suas variações, o samba-enredo, é a forma adequada para o tipo de carnaval que praticam as Escolas de Samba. Ele sustenta musicalmente o desfile e sua letra conta a história que cada escola procura alegorizar.
O samba tornou-se um parceiro indispensável da sensibilidade carnavalesca. Se antes ele era alegre, desenvolto, malandro, com o advento da marchinha ele adquiriu certa coloração romântica, tornou-se mais queixoso, melancólico. Embora a pulsação lamurienta possa parecer contraditória com a jocosidade do carnaval, esta é, na realidade, uma das facetas mais interessantes do samba carnavalesco.
A rigor, todo sambista, é, em parte, de carnaval. Mas existem aqueles que exercitaram sua poética no sentido de compor especialmente para a libertinagem momesca – embora suas composições também se mantivessem durante o resto do ano. Assim formou-se um grande elenco de sambistas que compunham para o carnaval, a exemplo do que faziam Sinhô, Caninha e Careca, no início da década de 20.
Com a fase de ouro da música de carnaval, nos anos 30, o samba carnavalesco também adquiriu maioridade, registrando momentos antológicos: Na Pavuna, composto por Homero Dornelas e Almirante; Com que roupa?  de Noel Rosa, e  Se você jurar, de Ismael Silva e Nilton Bastos ( 1931); Até Amanhã (1933), composta pelo Poeta da Vila; Agora é Cinzas (34) de Bide e Marçal; Não tenho lágrimas (38) de Max Bulhões e Milton de Oliveira.
Em 1940, Arlindo Marques Jr e Roberto Roberti, compõem Música Maestro, e Ataulfo Alves e Wilson Batista, Oh! Seu Oscar. Em 1942,
Praça Onze, de Herivelto Martins e Grande Otelo. Atire a primeira pedra ( 1945), de Ataulfo Alves e Mario Lago, e Coitado do Edgar, de Benedito Lacerda e Haroldo Lobo. Deus me perdoe ( 1946) de Lauro Maia e Humberto Teixeira; Onde estão os tamborins (1947), de Pedro Caetano; Não me diga adeus ( 1948), de Paquito, Luiz Soberano e João Correa da Silva; e É com que esse que e vou, de Pedro Caetano.
Que samba bom! (1949) de Geraldo Pereira e Arnaldo Passos.
Na década de 50 surgem: A Lapa (1950) de Herivelto Martins e Benedito Lacerta; Lata d’água (1952) de Luiz Antonio e Jota Júnior, e Mundo de Zinco, de Nássara e Wilson Batista; Zé Marmita (53) de Brasinha e Luiz Antonio, e no mesmo ano Máscara da face, de Armando Cavalvanti e Klécius Caldas;  Madureira chorou (58) de Carvalhinho e Júlio Monteiro. E na década de 60, Bloco dos sujos (69) de Luis Reis; Tristeza (66) de Niltinho e Haroldo Lobo.

A marcha-rancho talvez seja a mais antiga conformação musical dedicada ao carnaval; alguns estudiosos e críticos chegam mesmo a afirmar que ela é o gênero carnavalesco mais belo – por seu andamento lento, solicitando a harmonia dos compassos. A marcha-rancho funciona como elemento de transição entre a agitação frenética das demais composições que surgiram, uma espécie de contemplação em meio a gandaia colorida e rítmica do carnaval. Cantada ou dançada, ela é repousante, sentimental, serena; com ela, um instante lírico se inscreve no carnaval.
PASTORINHAS
A estrela Dalva,
No céu desponta
E a lua anda tonta
Com tamanho esplendor
E as pastorinhas
Pra consolo da lua
Vão cantando na rua
Lindos versos de amor




De João de Barro e Noel Rosa, lançada no carnaval de 1938, é um exemplo de como instantâneos poéticos penetraram a sonoridade carnavalesca.
Outro, é a clássica             MALMEQUER
Eu perguntei a um Malmequer
Se meu bem ainda me quer
Ele então me respondeu que não
Chorei, mas depois eu me lembre,
Que a flor também e uma mulher
Que nunca teve coração



De Newton Teixeira e Cristóvão de Alencar, cantada pela primeira vez no carnaval de 1940.
Os rouxinóis (1958), de Lamartine Babo, Máscara Negra (1967), de Pereira Matos e Zé Kéti, e Bandeira Branca (1970) de Max Nunes e Laércio Alves, também se inscrevem nessa tradição.

A  batucada  é outra modalidade musical que costuma ser empregada nos festejos carnavalescos brasileiros.  Tudo indica que a expressão  “batucada”  - usada para designar uma variante nova, diferente do samba e da modinha – apareceu pela primeira vez na composição OJU-BURUCU ( 1925), de Sinhô, que possuía marcantes influências africanas. O termo, contudo, devera ser corriqueiro entre os sambistas, para se referir ao batuque, não como dança, mas como música; “ batucada” significava não somente o conjunto de percussão, ou a maneira de execução, mas uma nova forma de se compor.
Na Pavuna, já fazia, em sua letra, menção à batucada: “ com seu time enfezando o batedor/ e grita a negrada:/ vem para batucada/ que de samba na Pavuna tem doutor.”
No carnaval de 1932 faz sucesso a batucada Jà andei, de Pixinguinha, Donga e João da Baiana, consolidando a entrada do gênero para o repertório da canção carnavalesca brasileira. A cuíca tá roncando (1935) de Raul Torres; Cai-cai (1940) composição de Roberto Martins, um dos maiores sucessos dos carnavais de todos os tempos; Poleiro de pato é no chão(1941) de Rubens Soares; Levanta José (1942) de Dunga e Haroldo Lobo e Nega do Cabelo Duro(1942) de Rubens Soares e David Nasser; e finalmente General da Banda(1949) de Sátiro de Melo, José Alcides e Tancredo Silva, que despontou com grande popularidade no carnaval de 1950 – uma batucada com os procedimentos dos pontos de macumba, sendo que a melodia já era executada em alguns lugares do Estado do Rio como saudação a Ogum.
Além da batucada-canção carnavalesca, a expressão remete também aos grupos de ritmistas que saem batucando pelas ruas, emprestando animação ao carnaval. Usam uns poucos e rudes instrumentos de percussão, mas fornecem um ritmo generoso, aliciador da alegria em meio à batucada da vida.
A partir de 1969, uma nova tendência começa a aparecer nas músicas de carnaval; trata-se de uma linguagem que se inaugura como a canção  Atrás do Trio Elétrico, de Caetano Veloso. Aproveitando-se da existência dos trios elétricos do carnaval baiano, e do ritmo marcante do frevo, Caetano promove um carnaval jovem, mais adaptado à sensibilidade contemporânea. O carnaval não poderia ficar impermeável às transformações sociais e comportamentais da vida brasileira, e o, compositor baiano procurou modernizar certas tradições rítmico-carnavalescas nordestinas, atingindo um “frevo novo” do melhor efeito e da maior animação.
Nessa linha destacam-se suas composições: Deixa Sangrar; Chuva, suor e Cerveja; Deus e o Diabo; Cara a cara; A filha da Chiquita Bacana; Piada e outras; e ainda, Tá na Cara de Gilberto Gil e Estamos de Paulo Diniz, cantada por Gal Costa.

FONTE: NOVA HISTORIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
ABRIL CULTURAL - 1979
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