Os
clubes que formavam para festeja e animar o carnaval chamavam-se
“sociedades”. O Congresso da Sumidades Carnavalescas realizou um desfile que foi
assistido pelo Imperador e a Imperatriz.
As
sociedades foram importantes também para a participação da mulher no carnaval.
Como ele se transformava cada vez mais, em festa de estilo veneziano – delicado
e colorido – com confete e serpentina -, as senhoras da sociedade também
poderiam, sem muito exagero, brincar fantasiadas. A primeira agremiação
feminina a sair às ruas era paulista, um grupo de estudantes da Sociedade Paulicéia Vagabunda, em
1869.
Porém,
nem só de carnaval viviam essas sociedades. Elas se engajaram também nas lutas
políticas em prol do abolicionismo e da república. As sociedades se multiplicaram
e disputavam a alegria entre si e internacionalmente. Houve muitas
dissidências, que por sua vez inauguravam outras sociedades. Seguindo o exemplo das Sumidades Carnavalescas, logo surgiu a União Veneziana; em seguida, uma briga nas Sumidades abriu caminho
para dois novos agrupamentos: a Euterpe
Comercial e os Zuavos Carnavalescos. A
primeira foi uma das mais requintadas associações, pois seus componentes
executavam os mais variados instrumentos:
clarinetas, violinos, flautas. Promoviam também fora do carnaval, saraus e
tertúlias lítero-musicais. Dos Zuavos sairiam os Tenentes do Diabo e os Infantes do Diabo. Uma crise interna dos
Infantes dividiu-os em Fenianos e Congresso dos Fenianos. Grandes incentivadores da folia eram ainda os Democráticos Carnavalescos ( Clube dos
Democráticos a partir de 1888), os Estudantes de Heidelberg, os Acadêmicos de
Joanisberg e o Clube X.
Por
essa época começaram a aparecer os cordões organizados, que, como dizia o
observador dos costumes cariocas João do Rio (1881-1921), eram a própria
essência do carnaval: “ o cordão é a vida delirante”. Os primeiros cordões de
que se tem notícia foram a Estrela da
Aurora(1886) e a Sociedade
Carnavalesca Triunfo dos Cucumbis (1888). Os cordões consolidaram o hábito
de se fantasiar no carnaval. Mas sua grande hora seria a primeira década do
século XX, quando passaram a acolher
também danças e representações folclóricas (que eram desenvolvidas por antigas
confrarias religiosas negras). Nas zonas urbanas, o carnaval se torna uma
espécie de catalisador do folclore, principalmente em Salvador, no Recife e no
Rio. O tríduo de momo incorpora os cucumbis baianos, o maracatu de Pernambuco,
os congos e as congadas, e até mesmo certos elementos do bumba-meu-boi e dos
bailes pastoris.
O
carnaval crescia com as ruas. Em 1906, ano em que apareceu o lança-perfume Rodo
Metálico, os festejos mudaram-se da “movimentada, irrequieta, foliona” Rua do
Ouvidor – como Eneida a chamou – para a Avenida Central, recém-aberta. No ano
seguinte surgiria o corso, nessa mesma avenida.
As filhas de Afonso Pena tinham passeado no automóvel presidencial pela
via carnavalesca, de uma ponta à outra, e estacionaram à porta de um edifício,
de onde apreciaram a festa. Fascinados pela ideia, os foliões que tinham carros
começaram a desfilar pela avenida, realizando calorosos duelos com os outros
veículos, onde as armas eram o perfume, a serpentina e o confete - “gotas multicores de papel”, no dizer do
escritor Marques Rebelo (1907-1973).
Ali
por 1910, aparecem os primeiros ranchos, e começa aparecer o elemento feminino.
O conjunto instrumental era acrescido por instrumentos de corda: violões e
cavaquinhos, e instrumentos de sopro: flautas e clarinetas. Ao mesmo tempo surgia o coro para entoar a
marcha do rancho. Os ranchos herdaram
dos pastoris a forma processional, ganhando depois o feitio de representação
teatral. Buscam seus temas nos episódios mitológicos, cívicos ou patrióticos, e
eram compostos de grandes orquestras ( que incluíam entre suas marchas, certas
árias de operas). Alguns ranchos como o Ameno
Resedá, o Flor de Abacate, o Mimosas Cravinas, o Dois de Ouro, o Cananga do
Japão, ficaram famosos.
Com
o aparecimento das grandes escolas de samba, no final da segunda década do
século XX, os ranchos entram em decadência; os poucos que sobreviveram saem no segundo dia de carnaval, ostentando
suas porta-estandartes, os mestres-salas em sugestivas evoluções e as pastoras
rica e vistosamente fantasiadas.
As
escolas de Samba apareceram em 1928, quando um grupo de sambistas e malandros
do Largo Do Estácio de Sá resolveu ensinar o samba aos outros bairros cariocas.
Nascia assim a Deixa Falar, a primeira escola de samba de que se tem
notícia, abrindo um importante capítulo na história do carnaval brasileiro.
O
carnaval de rua seguiria recolhendo novos estilos, abandonando outros,
incorporando novas manifestações tais como as batalhas de bondes (que acabariam
proibidas), os blocos (alguns legendários, como o Bloco do Eu Sozinho e o Bloco do Vai como Pode) e depois os
blocos de “sujo”. Outra invenção foi o ‘trote’; grupos cobertos com mortalhas e
máscaras de pano ou papelão, que cobrem até o pescoço. Essa fantasia – a
“careta” – ficou muito comum no carnaval de rua de Salvador.
FONTE:
NOVA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
ABRIL
CULTURAL - 1979
IMAGENS: GOOGLE
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