Também
da década de 30, data a personificação do rei da folia. Nas proximidades do
carnaval de 1933, os jornalistas de “ A Noite “ não estavam preocupados apenas
com fatos recentes que pudessem dar manchetes na primeira página. Pensavam
também numa personagem da mitologia grega que não fazia senão rir do trabalho
de seus companheiros do Olimpo. Um deus irresponsável e zombador, protetor da
burla e da contravenção: MOMO
O
maior prazer desse senhor da orgia era desmascarar os homens e os outros
deuses, e isso o aproximou do carnaval ( quando o home se entrega a uma
liberdade que pode ser reveladora). Assim, o pessoal de “ A Noite” resolveu dar
forma de rei à irreverente personagem: moldou-o em papelão colorido, com uma
barriga imensa suportando um fivelão dourado. Sob uma brilhante coroa de lata,
o rosto pintado de carmim exibia um sorriso aberto que transformou em festa seu
desfile pela Avenida Rio Branco. Assim, o augusto boneco foi levado em triunfo
até o trono que o aguardava no Beira-Mar Cassino, de onde, desde aquele sábado
gordo, passou a presidir o carnaval brasileiro.
Sempre
procurando causar sensação entre seus leitores, “ A Noite” não se contentou em
dar aos foliões um Momo figurado em rei-boneco. Surgiu então, no carnaval de
1936, um rei de carne, osso e muita gordura: o volumoso redator de turfe Morais
Cardoso, que foi o primeiro a usar o título de Rei Momo I e Único, “
governando” por mais de 10 anos.
Paramentado em vestimenta de monarca, bochechas rosadas no rosto risonho
e redondo, ele irradiava a alegria característica de seu reinado. Sua barriga
saliente ( aumentada com panos) e seu andar quase circense conseguiam
personificar a falta de senso própria do carnaval – Momo ganhava uma imagem
perfeita, que não mais seria substituída.
A
partir de 1967 esse faz-de-conta carnavalesco foi oficializado no Rio de
Janeiro, por uma lei que estabeleceu normas para a eleição dos pretendentes à
curta soberania. Essa lei dispõe sobre a constituição do eleitorado e exige que
o candidato tenha no mínimo 1,65 m de altura, pese mais de 100 quilos,
apresente atestado de saúde, seja “portador de reconhecida idoneidade moral”,
exerça “qualquer função condizente com a dignidade humana” e possua “ espírito
carnavalesco comprovado”.
E A MARCHA CONTINUA
Lamartine
Babo foi um marchista contumaz; de sua imaginação saíram: Uma Andorinha não faz verão (1934), O
Teu cabelo não nega(1932), em parceria com os Irmãos Valença, Linda Morena e Moleque Indigesto (1933),
Ride Palhaço (1934), Grau Dez(1935) – com Ary Barroso,
Marchinha do Grande Galo
(1936) –com Paulo Barbosa, a famosa A-E-I-O-U
– em parceria com Noel Rosa, História do Brasil, onde Lamartine afirma que o
descobrimento do Brasil ocorreu dois meses depois do carnaval.
“
Formosa, não faz assim/Carinho não é ruim” – esses versos comoveram o carnaval
de 1933 e lançaram o caricaturista Antônio Gabriel Nássara como um dos maiores
e mais cantados compositores de marchinhas. Formosa,
em parceria com J. Rui, foi o início de uma carreira marcante, que sonorizou a
alegria e a dor do folião. São de autoria de Nássara, entre outras: Tipo Sete (1934)- com Alberto
Ribeiro; Maria Rosa (1934), Periquitinho Verde(1938) – com Sá
Roriz; Florisbela (1939) – com
Eratóstenes Frazão, Alá-lá-ô
(1940) com Haroldo Lobo, e Balzaqueana
(1950) – com Wilson Batista.
A
marcha se confunde com a própria história do carnaval brasileiro: em 1935
aparecem Cidade Maravilhosa,
de André filho ( que se tornaria o hino do Rio de Janeiro) e Eva Querida, de Luís Vassalo e
Benedito Lacerda; em 1937, Mamãe eu
quero – de Vicente Paiva e Jararaca; em 38, Touradas em Madri e Yes! Nós temos bananas, de João de Barro
e Alberto Ribeiro; em 39 Jardineira, de Benedito Lacerda e
Humberto Porto.
Na
década de 40, O passarinho do Relógio,
de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira; Aurora
(1941), Nós os Carecas (1942),
ambas de Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti, e A mulher do padeiro, de
J. Piedade, Germano Augusto e Nicola Bruni; China Pau ( 1943) de Alberto Ribeiro e João de Barro; Eu brinco (1944) de Pedro Caetano e Claudionor Cruz, e Clube dos Barrigudos, de
Cristóvão de Alencar e Haroldo Lobo; Sinfonia
dos Tamancos (1945), de Roberto Martins; Espanhola ( 1946), de Benedito Lacerda e Haroldo Lobo, e Cordão dos Puxa-saco, de Roberto
Martins e Eratóstenes Frazão. No carnaval de 1947 as marchinhas Pirata da Perna de Pau, de João
de Barro, Marcha dos Gafanhotos,
de Eratostenes Frazão Roberto Martins, e
Eu quero é rosetar,
de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, foram os destaques; em 1948, A Mulata é a tal, de João de
Barro e Antonio de Almeida; em 1949 as marchinhas de êxito foram: Chiquita Bacana, de João de
Barro, e Marcha do Gago, de
Klécius Caldas e Armando Cavalcanti.
O
capítulo das marchas continua pela década de 50, com o sucesso de General da Banda, de Sátiro de
Melo, José Alcides e Trancredo Silva; Tomara
que chova (51) de Paquito e
Romeu Gentil; Sassaricando, de
Luiz Antonio e Adelai Magalhães, e Confete,
de David Nassar e Jota Júnior, foram os sucessos de 1952; Cachaça, de Mirabeau, e Maria
Candelária, de Armando Cavalcanti e Klécius Caldas), ambas de 1953; e
muitas outras, até que a música de carnaval – principalmente a marchinha –
entrasse em decadência.
FONTE:
NOVA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR
BRASILEIRA
ABRIL
CULTURA – 1979
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