segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

DORIVAL CAYMMI - CENTENÁRIO DE NASCIMENTO - 2014 - PARTE III

DORIVAL CAYMMI – CENTENÁRIO DE NASCIMENTO- 2014
PARTE III

Carnaval era tempo de muita alegria – fantasiar-se, dançar, jogar confete e serpentina e - por que não? – ganhar dinheiro. Assim pensava Wallace Downey, americano produtor de cinema, que aproveitava a época para lançar suas pretensiosas produções carnavalescas. Assim foi Alô, Alô Brasil e Alô, Alô Carnaval. Para o carnaval de 1939 ele preparava nova produção com Carmen Miranda, - Banana da Terra, como convinha a um país tropical.
Wallace não concordou com o preço pedido por Ary Barroso, para Carmen cantar na Baixa do Sapateiro, e o cenário baiano ficou sem música.  Foi quando alguém se lembrou de um mulatinho que andava fazendo sucesso com um samba que encaixa perfeitamente no cenário. E, além disso, era baiano mesmo. Assim, O QUE É QUE A BAIANA TEM? Entrou para o filma Banana da Terra, na voz de Carmen Miranda, tudo com muito sucesso e grande repercussão, a ponto de popularizar a palavra “balangandãs”, antes pouco conhecida no sul do país. A princípio, uma penca de pequenos fetiches negros, feitos em prata e ouro, acabou designando qualquer enfeite de colares, pulseiras, etc
O QUE É QUE A BAIANA TEM?

O que é que a baiana tem?
O que é que a baiana tem?
  Tem torço de seda, tem!
Tem brincos de ouro, tem!
  Tem pano da Costa, tem!
  Tem bata rendada, tem!
  Pulseira de ouro, tem!
  Tem saia engomada, tem!
  Sandália enfeitada, tem!
 Tem graça como ninguém...
  Como ela requebra bem...
               Quando você requebrar
  Caia por cima de mim...
  Caia por cima de mim...
                                         Caia por cima de mim...

 O que é que a baiana tem?
  O que é que a baiana tem?

       Só vai no Bonfim quem tem...
      Só vai no Bonfim quem tem...
                                                       Um rosário de ouro
   Uma bolota assim
    Quem não tem balangandãs
   Ô não vai no Bonfim...
                             Ô não vai no Bonfim...

Entraram os balangandãs e Caymmi para o teatro na peça musical Jouloux e Balangandãs, de Henrique Pongetti, com a música   O MARO elenco era de amadores da alta sociedade, mas Caymmi entrou porque a senhorita que iria interpretar sua canção praieira desistiu da ideia.
                                                          
O MAR

O mar...
Quando quebra na praia...
É bonito... é bonito...
O mar...
Pescador quando sai
Nunca sabe se volta
Nem sabe se fica...
Quanta gente perdeu
Seu marido... seu filho...
Nas ondas do mar
O mar...
Quando quebra na praia
É bonito... é bonito...

Pedro vivia da pesca
Saía de barco  seis horas da tarde
Só vinha na hora do sol raiá
Todos gostavam de Pedro
E mais do que todos Rosinha de Chica
A mais bonitinha, de todas mocinhas
Lá do arraiá...
Pedro saiu no seu barco
Seis horas da tarde
Passou toda a noite
E não veio na hora do sol raiá
Deram com o corpo de Pedro
Jogado na praia
Roído de peixe
Sem barco, sem nada
Num canto bem longe
Lá do arraiá...

Pobre Rosinha de Chica
Que era bonita
Agora parece que endoideceu
Vive na beira da praia
Olhando pras ondas
Rodando...rodando...
Dizendo baixinho
Morreu...morreu... oh!

O Mar....




Rádio, cinema, teatro, faltava o disco. Novamente apadrinhado por Almirante, em fevereiro de 1939, a voz e a música de Caymmi eram gravadas na Odeon: O QUE É QUE A BAIANA TEM?  e A PRETA DO ACARAJÉ, ambas em dupla com Carmen Miranda. Em agosto saía RODA PIÃO, cantada pela “baianinha” e pelo autor, e, em setembro, RAINHA DO MAR e PROMESSA DE PESCADOR, com o próprio Caymmi.
Sem pensar muito, assinou um contrato com a Odeon, comprometendo-se a gravar mensalmente. Baiano muito tranquilo, que não raro levava meses para compor uma música, Caymmi acabou dispensado da Odeon em 1941. Foi gravar na Colúmbia, voltando à Odeon só em 1946. No rádio, a mesma coisa: depois de uma temporada na Mayrink Veiga, voltou em 1941 para a Tupi, onde ficaria até 1950.
Durante todos esses anos não gravou muito; apenas o suficiente para deixar seu nome como um marco na história de nossa música.  O MAR, É DOCE MORRER NO MAR ( com letra de Jorge Amado), A JANGADA VOLTOU SÓ, VOCÊ JÁ FOI À BAHIA?, ROSA MORENA, MARINA e tantos outros clássicos foram registrados, em sua própria voz, com os Anjos do Inferno, com Dick Farney. Os moços cultos da época, tal como, mais tardes, os universitários diante da bossa nova, viam nas canções de Caymmi o que de mais avançado havia em música popular. Ele sabe por que  -  “cheguei aqui com um violão tocado de maneira esquisita para a época. O violão era tocado então em acordes perfeitos, quadrados. Sempre tive a tendência a alterar os acordes perfeitos.
Eu tirava o dedo de uma corda e punha na outra procurando um som harmônico diferente. Havia dois solistas que faziam aproximadamente o mesmo que eu, com uma diferença: eles eram estudiosos de música, eu não. Eram Aníbal Sardinha, o Garoto, e Laurindo de Almeida, que se tornou, nos Estados Unidos um grande solista de Jazz.  As minhas “cavações” harmônicas já eram estranhas para meus amigos lá na Bahia. Fui chamado de violonista que só tocava em mi maior, mas meu violão agradou tanto que alguns compositores alteraram finais de suas canções à minha maneira” .
Anos mais tardes, suas “cavações” harmônicas seriam vistas como precursoras da bossa nova.


Fonte: Nova História da Música Popular Brasileira – 1976 – Abril Cultural
Vídeo - O Mar - youtube

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