sexta-feira, 17 de março de 2017

HEITOR VILLA LOBOS - III

                                                               


A Revolução de 1930, que, ao eclodir, fora tão negativa para Villa-Lobos, posteriormente, no entanto, viria a criar as melhores condições para o seu trabalho. Com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, iniciou-se um período de quinze anos (metade deles marcada pela ditadura do Estado Novo) em que o nacionalismo musical do compositor revelou-se como um fator importante de integração cultural do país. Logo depois do regresso de Villa-Lobos ao Brasil, em 1930,  o interventor federal no Estado de São Paulo, Coronel João Alberto, aceitou seu projeto de renovação do ensino da música. A essa atividade, o compositor dedicaria dois anos, empolgado com a ideia de reagir contra o lastimável estado da música erudita no país. Seu plano compreendia concertos pelo interior, onde pretendia difundir a música contemporânea de vanguarda e o ensino do canto orfeônico.
Em 1932, Villa-Lobos transferiu-se para o Rio de Janeiro, a fim de dirigir a Superintendência de Educação Musical e Artística, fundada especialmente para ele pelo renomado educador Anísio Teixeira.  À frente dessa entidade, o compositor organizou o ensino do canto orfeônico no país, pondo em prática sua ideia de que a formação de uma consciência musical depende de uma educação desde a infância e que a melhor maneira de conseguir isso é utilizar o canto coletivo. Levando à frente o seu plano, o compositor realizou no Estádio de São Januário, no Rio, concentrações orfeônicas de até 40.000 escolares, cantando  peças a várias vozes. Data dessa época o repertório que organizou para canto coral: o GUIA PRÁTICO, onde se encontram 137 canções populares e folclóricas brasileiras, por ele harmonizadas. Em 1942, culminando seu plano, o compositor criou o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico. Ao lado dessa atividade pedagógica, Villa-Lobos continuou a compor em grande quantidade. O período que se estende de 1930 a 1959, ano de seu falecimento, viu nascer entre outras obras, a admirável série de BACHIANAS BRASILEIRAS,  TREZE QUARTETOS ( n.º 5 a 17), CINCO CONCERTOS PARA PIANO E ORQUESTRA (Nº 1 a 5), SETE SINFONIAS ( n.º 6 a 12),  as QUATRO SUITES de O DESCOBRIMENTO DO BRASIL,  que fez para o filme do mesmo título de Humberto Mauro, e o CICLO BRASILEIRO, para piano, que compreende quatro peças (PLANTIO DO CABOCLO, IMPRESSÕES SERESTEIRAS, FESTA NO SERTÃO e DANÇA DO ÍNDIO BRANCO).





A partir de 1944, o compositor passou a viajar anualmente para os Estados Unidos e para a Europa, sempre se apresentando como regente de suas próprias obras. Datam também desse período as inúmeras gravações que fez, executando, sobretudo os Choros e as Bachianas, suas obras de maior aceitação internacional. Ao mesmo tempo, cobria-se de honrarias, títulos, condecorações (ao todo, 66 distinções internacionais), e elogios de grandes músicos da época). O regente Leopold Stokowski, por exemplo referiu-se a ele como “um dos maiores compositores do século XX”; e Pablo Casals, o grande violoncelista, declarou a respeito do músico brasileiro: “Villa-Lobos permanecerá como uma das maiores figuras da música de seu tempo”.

Em 1948 o compositor foi acometido de câncer e viajou para Nova York, a fim de ser operado. Salvo da morte, sobreviveu por mais onze anos, vindo a falecer no Rio de Janeiro, a 17 de novembro de 1959. No que diz respeito à vida íntima do compositor, lembra Luiz Heitor de Azevedo: “duas mulheres partilharam a vida de Villa-Lobos, ambas excelentes musicistas e colaboradoras dedicadas: a primeira Lucília Guimarães, com quem se casou em 1913 e com quem ele viveu nos anos 20 em Paris; a segunda, Arminda Neves de Almeida, foi a das duas últimas fases de sua vida; tendo a ela dedicadas quase todas as obras compostas a partir de 1930.





Nenhum comentário:

Postar um comentário