terça-feira, 28 de agosto de 2018

ERNESTO NAZARETH - III - ANÁLISES DE ALGUMAS OBRAS


OBRAS DE ERNESTO NAZARETH


As composições de Nazareth incluem inúmeras  valsas, tangos, tangos-brasileiros,  polcas, fox-trot, polcas-lundu, maxixe, chorinhos carioca, marchas carnavalescas, hinos, shottisch, quadrilha, marcha-fúnebre, marcha-heroica, mazurca, noturno.

Análises de algumas das mais conhecidas: 

APANHEI-TE CAVAQUINHO –  composta e publicada em 1915.  Em 10 de setembro de 1930 foi gravado o 78 rpm Odeon.
Originalmente uma polca que mais tarde seria adaptada para chorinho. Nazareth a dedicou ao maior tocador de cavaquinho da época, seu grande amigo Mário Cavaquinho.
Uma composição de natureza tranquila que ganhou uma letra de Darcy de Oliveira para uma gravação de Ademilde Fonseca em 1943.

FAMOSO – composta e publicada em 1917 com a indicação  “ tango para piano”. Considerada uma autêntica obra-prima, não se inclui entre as composições mais executadas de Ernesto Nazareth: permaneceu no anonimato  durante uns trinta anos. Anibal Augusto Sardinha (1915-1954), o célebre Garoto, transcreveu-a para bandolim – instrumento cuja agilidade, todavia, não adulterou o espírito original da composição – gravando-a como choro.

AMENO RESEDÁ – Composta e publicada em 1912, essa polca de Nazareth tem passado, desde aquela época, por inúmeras versões, no sentido de marcações de ritmo mais complexas. E, como resultado disso, passou de polca a choro e integra o repertório dos grandes chorões do país.  Melodicamente, é uma das mais expressivas composições de Ernesto Nazareth, com elaboração requintada, indisfarçavelmente chopiniana, sobretudo na segunda parte. Jacob Bittencourt, o conhecido Jacob do Bandolim, foi um de seus mais expressivos intérpretes, e utiliza o delineamento original, fazendo do som e da agilidade do bandolim os substitutos ideais do instrumento para o qual a polca foi escrita, ou seja, o piano.

ODEON – De concepção musical refinada – à maneira de Chopin, segundo alguns – essa famosa composição de Ernesto Nazareth inclui-se entre os tangos brasileiros feitos para piano, embora muitos a considerem um choro: naquela época, estes eram compostos sempre de três partes, e Odeon tem apenas duas.  Merecedor de dezenas de gravações, foi desligado de sua origem apenas instrumental pelo poeta Vinicius de Moraes, que lhe adaptou  extensa letra e a entregou a Nara Leão para gravar. Na capa do LP em que a música aparece, a cantora faz o seguinte comentário: “ Em 1908, Ernesto Nazareth foi contratado para animar a sala de espera do cinema Odeon. Muita gente comprava ingresso para o filme, mas passava a tarde ouvindo o seu piano. Como Rui Barbosa, Paula Barros, Tomás Teran e Rubistein. Em 1968, a meu pedido Vinicius de Moraes fez a letra do chorinho que Nazareth chamou de  Odeon”.



 Ai, quem me dera
O meu chorinho
Tanto tempo abandonado
E a melancolia que eu sentia
Quando ouvia
Ele fazer tanto chorar
Ai nem me lembro
Há tanto, tanto
Todo o encanto
De um passado
Que era lindo
Era triste, era bom
Igualzinho a um chorinho
Chamado Odeon

Terçando flauta e cavaquinho
Meu chorinho se desata
Tira da canção do violão
Esse bordão
Que me dá vida
Que me mata
É só carinho
O meu chorinho
Quando pega e chega
Assim devagarzinho
Meia-luz, meia-voz, meio tom
Meu chorinho chamada Odeon

Ah, vem depressa
Chorinho querido, vem
Mostrar a graça
Que o choro sentido tem
Quanto tempo passou
Quanta coisa mudou
Já ninguém chora mais por ninguém

Ah, quem diria que um dia
Chorinho meu, você viria
Com a graça que o amor lhe deu
Pra dizer “ não faz mal
Tanto faz, tanto fez
Eu voltei para chorar com vocês”

Chora bastante meu chorinho
Teu chorinho de saudade
Diz ao bandolim para não tocar
Tão lindo assim
Porque parece até maldade
Ai, meu chorinho
Eu só queria
Transformar em realidade
A poesia
Ai que lindo ai, que triste, ai que bom
De um chorinho chamado Odeon


Chorinho antigo, chorinho amigo
Eu até hoje ainda percebo essa ilusão
Essa saudade que vai comigo
E até parece aquela prece
Que sai só do coração.
Se eu pudesse recordar
E ser criança
Se eu pudesse renovar
Minha esperança
Se eu  pudesse me lembrar
Como se dança
Esse chorinho
Que hoje em dia
Ninguém sabe mais.


  conjunto ÉPOCA DE OURO

* Cavaquinho (Solo): Jonas do Cavaquinho;
* Violão 7 Cordas: Horondino Silva (Dino 7 Cordas);
* Violão 6 Cordas: Benedito César Faria;
* Violão 6 Cordas: Damásio.
* Bandolim: Déo Cesário Botelho (Déo Rian);
* Apresentação de Paulinho da Viola e participação especial de Elton Medeiros


Fonte: História da Música Popular Brasileira
Abril Cultural -1977
Fotos: Google
vídeo: Youtube


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