sábado, 18 de abril de 2020

CÂNDIDO DAS NEVES - ÍNDIO - III


                                             
 

O romantismo dos poemas de Cândido logo chamou a atenção dos grandes cantores da época. Em sua casa da Rua Torres de Oliveira, na Piedade (subúrbio onde também morou Catulo),ele recebia Orlando silva, Silvio Caldas, Almirante, Vicente Celestino, o cronista Vagalume. Muitos compositores iam lá saber sua opinião sobre uma música, outros queriam que ele corrigisse uma peça. Nessas reuniões, Índio fazia muito versos e, generoso, dava-os aos amigos.
Ele era atração não apenas nas audições dos teatros do Rio, mas também nas serestas das cidades perdidas pelo interior. Conta Henrique de Melo Moraes que, uma vez, ele e Cândido das Neves fizeram uma grande serenata na festa religiosa de Congonhas do Campo, Minas, para a qual afluíam então milhares de pessoas das cidades vizinhas. Eles foram  a pé da estação de Lafaiete até Congonhas, cantando sempre, cercados pelo carinho do povo que os acompanhava.
Nessa época, Cândido era agente da Central do Brasil na estação de Coronel Cardoso, Minas. A estada na cidade foi fatal: naquele frio, ele pegou logo um resfriado que lhe afetou a garganta, deixando-o quase mudo. Desde que se casara pela segunda vez, em 1932, havia mudado muito: raramente  ia a serestas ou festivais, que eram realizados em homenagem  a um ou outro artista, por um pretexto qualquer. Ao voltar de Minas, onde passou um ano, ele foi morar na Casa 6 da Vila da Rua Dr. Bulhões, 117, no Engenho de Dentro, subúrbio onde Catulo terminou seus dias. Nem Melo Moraes, advogado, seu compadre, percebeu o que havia com Índio. No dia do batizado do pequeno Eduardo, Cândido não apareceu. Melo Moraes ficou aborrecido, quis saber a razão. Dona Débora explicou:
- ele está encabulado, com uma rouquidão tremenda.  Nem pode falar.
Melo Moraes percebeu que não era coisa simples. A 13 de novembro de 1934, Cândido morreu. Matou-o uma tuberculose galopante na laringe.
Além da família, pouca gente foi ao enterro: o Dr Melo Moraes, o criminalista Hugo Baldessarini, o compositor Bororó, autor de Da Cor do Pecado.
Alguns meses depois começava a imortalidade de Cândido das Neves: Orlando Silva gravava em 1935 LÁGRIMAS  e ÚLTIMA ESTROFE no disco  Victor 33975, que durante muito tempo foi disputado a peso de ouro, como uma preciosidade, nos sebos de discos. ÚLTIMA ESTROFE teve gravações também  de Castro Barbosa (a primeira), Vicente Celestino, Nelson Gonçalves e Silvio Caldas.




ORLANDO SILVA - ÚLTIMA ESTROFE

Índio não suspeitaria que muitos anos depois, em 1971, um cantor moderno, Tito Madi, pudesse cantar diariamente na Bierklause, casa noturna do Rio, uma canção de sua autoria.

A posteridade teria dado razão a Orestes Barbosa? Este grande da seresta costuma dizer que só houve três cancioneiros fortes na nossa música popular Índio das Neves, Hermes Fontes e Catulo da Paixão Cearense. E ao primeiro fazia este elogio:  - ÍNDIO DAS NEVES É UM GÊNIO.


EDUARDO DAS NEVES

Eduardo das Neves deixou uma modinha dedicada a seu filho ÍNDIO DAS NEVES, autor de “ Noite Alta, Céu Risonho”,  na qual há estrofes assim:
“Não nego, pois faço alarde
E tenho pressentimento
De que ele será mais tarde
Brasileiro de talento”.

Não se enganou.
Índio das Neves é um cultor do gênero que sagrou o grande carioca que Eduardo foi.
ORESTES BARBOSA, em seu livro SAMBA (1933).




NOITE CHEIA DE ESTRELAS - VICENTE CELESTINO

Fonte: Nova História da Música Popular Brasileira
          Abril Cultural - 1978
Fotos: Google
Vídeos: Youtube

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