O PRESÉPIO
Em 1223, nos bosques de
Greccio, na Itália central, São Francisco, teve a ideia de montar o primeiro presépio.
Usou para isso um estábulo e um grupo de animais. Não utilizou pessoas ou mesmo
figuras de gente. Seu objetivo era difundir o culto ao Menino-Deus, evocando o
seu nascimento, segundo a descrição dos Evangelhos. Daí começaram as
representações religiosas do Natal e estas motivaram presépios feitos por
leigos, dos séculos XIII ao XVI. No ano de 1484, no mosteiro napolitano de San Giovanni, a Carbonara, foi realizado o primeiro presépio com grandes figuras de madeira, no qual apareciam, ao lado da Natividade, os anjos, os pastores e os reis. No final do século XVI criaram-se cenas e figuras adicionais.
Incluíram-se tipos populares e grupos que nada tinham a ver com o tema
religioso. Aos poucos, as representações, por influência do teatro barroco,
tomaram um caráter dramático de verdadeiro teatro, sempre em função do motivo
religioso. Foram os jesuítas que fizeram o primeiro presépio desse tipo, em uma
igreja de Praga, em 1562. E eles mesmos
difundiram a ideia de representar o nascimento de Jesus com figuras vivas. De 1601
a 1607, vários foram levados a efeito nas igrejas da Baviera. Mas, o presépio
feito ao vivo, ou com figuras não ficou adstrito ao âmbito da Igreja ou das
Ordens Religiosas.
Em 1567, a Duquesa de Amalfi,
na Itália, possuía um presépio de cento e sessenta e sete figuras, com pastores
e Reis Magos. Anos depois, a Grã-duquesa Maria de Steiermark mandou comprar em
Munique um presépio, que não se limitava a apresentar acontecimentos
relacionados ao Natal. Tinha centenas de figuras e nele reconstituía-se as cenas
do tempo e do milagre de Pentecostes. Em 1580
surgiram presépios cujas figuras eram esculpidas em madeira, articuladas
com arame e apresentando lindíssimas indumentárias.
Na Renascença, os presépios
possuíam uma paisagem grandiloquente e atingiram, no período Barroco, uma
cenografia de extraordinária beleza artística. Para construí-los gastaram-se
verdadeiras fortunas. Além das figuras serem confeccionadas pelos melhores
artistas da época, elas se apresentavam
com fazendas e ouro e os enfeites se faziam com pedras preciosas.
No século XVIII, toda a
Europa católica fazia presépios. Três regiões, no entanto, logo se destacaram
pelos seus presepeiros: a Itália, a Alemanha e os países dos Alpes. No início
do século, porém, a Itália ainda recebia presépios do Norte. Em 1614, a corte
de Mântua é presenteada com um belo e artístico presépio, construído em
Innsbruck, no Tirol.
Foi a Irmandade dos Ourives
em São Paulo da Itália que, em 1661 construiu o primeiro presépio italiano.
Mas, os presepeiros de Nápoles é que
confeccionaram o primeiro conjunto de renome mundial, o que se deve a uma
sugestão de Carlos III, que encorajado pelo padre dominicano Rocco, seu conselheiro, transformou a realização do presépio numa prática do próprio monarca e da aristocracia. O rei incentivou a participação dos maiores escultores napolitanos nesse gênero, alcançando resultados muitos originais e de grande qualidade.
Conhecendo o valor artístico
e religioso do presépio, determinou que o confeccionassem os escultores e
modeladores de manufatura de porcelana que ele mesmo fundara em 1740, e dessa
maneira, o mundo ganhou uma obra de arte, que ainda agora é admirada por tantos
quantos tiveram a oportunidade de apreciá-la. Para se ter uma ideia desse
presépio de Carlos III, basta recordar que ele possui cento e cinquenta anjos e
uma reprodução completa da vida popular de Nápoles. Suas figuras foram vestidas
com fazendas em miniaturas criadas especialmente para elas. Conta-se que a
própria rainha da Itália e suas damas passaram longos meses a elaborar a
indumentária das figuras.
Consequência da fama que
granjeou este presépio foi a fundação da “Escola dos Figurinistas! chefiada por
Giuseppe Sammartino, que estruturou o
presépio italiano, consolidando a técnica de feitura de figuras, modelos em
terracota. Utensílios domésticos, animais, aves e outras coisas de uso diário
foram reproduzidos com maravilhosa perfeição. Ao mesmo tempo, a arte dos
presepeiros desenvolveu-se na Sicília, que não demorou a se tornar, ao lado de
Nápoles, o grande centro desta arte. Os presépios sicilianos entretanto, são
diferentes dos napolitanos, não apenas pelo tamanho menor, mas também por
destacarem um motivo, muito ao gosto dos seus autores: a cena do massacre dos
inocentes, em Belém.
Finalmente os presépios
alemães, mais simples, mas nem por isso menos bonitos, circunscrevem-se à
reprodução da Sagrada Família. Os próprios tipos populares e os Reis Magos
vivem em função do tema especificamente religioso. Os conjuntos do Tirol são
verdadeiras obras primas de arte popular e caracterizam-se pela doce
simplicidade e profunda religiosidade. Os de Munique destacam-se pela
recordação das cenas das Bodas de Caná ou pela fuga para o Egito.
Nosso avô André Quirino Ciorlia, nasceu no Brasil, mas foi criado na Itália, em San Lucido, e trouxe de lá o hábito de montar o presépio na época do Natal. A princípio, como contava nossa mãe, o presépio era montado em um dos quartos da casa, na Rua Rodrigues dos Santos, 313, Brás. A partir do final da década de 40 até o início da década de 60, o presépio passou a ser montado pelo nosso avô, nosso pai Paulo Purcino da Matta e pelo tio Alfredo Bosco, cunhado do avô Quirino, na parte inferior da casa, no porão habitável.
O presépio era grande e tinha como base tábuas de madeira suportadas por cavaletes. Essas tábuas eram cobertas com
papel imitando pedriscos, areia e capim; escadinhas de madeira ou ladeiras delimitavam as áreas baixas das montanhosas. Ao fundo,as paredes eram revestidas por duas
telas pintadas a óleo, uma representando
o dia, e a outra mostrando a noite. O presépio detalhava cenas do cotidiano de
uma aldeia italiana, com casinhas feitas em papelão e pintadas; os pastores feitos com barro, cozidos, e envernizados foram feitos pelo nosso bisavô Antonio Ciorlia e mostravam os ofícios das pessoas na época: pescadores, lavadeiras, catadores de lenha, entregadores de leite, padeiros, etc... No meio da aldeia, um chafariz com água corrente desaguava em um rio
feito de latão, recoberto nas suas margens com capim que eu e meus irmãos buscávamos
na vila que ficava atrás da casa, (a casa e a vila ainda existem, porém bem modificadas). O padres da Igreja Santo Antonio do Pari, todos os anos, vinham abençoar o presépio que era visitado por muitos moradores do
bairro. Infelizmente não temos nenhuma foto daquele presépio; restaram apenas alguns pastores e carneirinhos que foram confeccionados há aproximadamente 100 anos pelo bisavô Antonio, mostrados abaixo.
Fonte: Jornal A gazeta- 21/12/1961
Imagens: Tesouro em forma de presépio - Museu de Arte Sacra - artigo jornalístico
Fotos de presépios e pastores: Yara Virginia
Fantástica a sua abordagem sobre as musicas natalinas e os símbolos do Natal 🎅 sobretudo o presépio e as imagens que me fizeram voltar no túnel do tempo e retornar até a infância no bairro do Bras. Parabéns 😤 pela sua dedicação a musica e a divulgação do conhecimento.
ResponderExcluirE alem de tudo é minha irmã (mãe, pai, tia....)
ResponderExcluirSensacional a matéria, sou curador vitalício desta coleção!
ResponderExcluirChristian Zanzibah
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