A Revolução de 1930, que, ao eclodir, fora tão
negativa para Villa-Lobos, posteriormente, no entanto, viria a criar as
melhores condições para o seu trabalho. Com a ascensão de Getúlio Vargas ao
poder, iniciou-se um período de quinze anos (metade deles marcada pela ditadura
do Estado Novo) em que o nacionalismo musical do compositor revelou-se como um
fator importante de integração cultural do país. Logo depois do regresso de Villa-Lobos
ao Brasil, em 1930, o interventor
federal no Estado de São Paulo, Coronel João Alberto, aceitou seu projeto de
renovação do ensino da música. A essa atividade, o compositor dedicaria dois
anos, empolgado com a ideia de reagir contra o lastimável estado da música
erudita no país. Seu plano compreendia concertos pelo interior, onde pretendia
difundir a música contemporânea de vanguarda e o ensino do canto orfeônico.
Em 1932, Villa-Lobos transferiu-se para o Rio de
Janeiro, a fim de dirigir a Superintendência de Educação Musical e Artística,
fundada especialmente para ele pelo renomado educador Anísio Teixeira. À frente dessa entidade, o compositor
organizou o ensino do canto orfeônico no país, pondo em prática sua ideia de
que a formação de uma consciência musical depende de uma educação desde a
infância e que a melhor maneira de conseguir isso é utilizar o canto coletivo.
Levando à frente o seu plano, o compositor realizou no Estádio de São Januário,
no Rio, concentrações orfeônicas de até 40.000 escolares, cantando peças a várias vozes. Data dessa época o
repertório que organizou para canto coral: o GUIA PRÁTICO, onde se encontram
137 canções populares e folclóricas brasileiras, por ele harmonizadas. Em 1942,
culminando seu plano, o compositor criou o Conservatório Nacional de Canto
Orfeônico. Ao lado dessa atividade pedagógica, Villa-Lobos continuou a compor
em grande quantidade. O período que se estende de 1930 a 1959, ano de seu
falecimento, viu nascer entre outras obras, a admirável série de BACHIANAS
BRASILEIRAS, TREZE QUARTETOS ( n.º 5 a
17), CINCO CONCERTOS PARA PIANO E ORQUESTRA (Nº 1 a 5), SETE SINFONIAS ( n.º 6
a 12), as QUATRO SUITES de O
DESCOBRIMENTO DO BRASIL, que fez para o
filme do mesmo título de Humberto Mauro, e o CICLO BRASILEIRO, para piano, que
compreende quatro peças (PLANTIO DO
CABOCLO, IMPRESSÕES SERESTEIRAS, FESTA NO SERTÃO e DANÇA DO ÍNDIO BRANCO).
A partir de 1944, o compositor passou a viajar
anualmente para os Estados Unidos e para a Europa, sempre se apresentando como
regente de suas próprias obras. Datam também desse período as inúmeras
gravações que fez, executando, sobretudo os Choros
e as Bachianas, suas obras de maior aceitação internacional. Ao mesmo
tempo, cobria-se de honrarias, títulos, condecorações (ao todo, 66 distinções
internacionais), e elogios de grandes músicos da época). O regente Leopold
Stokowski, por exemplo referiu-se a ele como “um dos maiores compositores do
século XX”; e Pablo Casals, o grande violoncelista, declarou a respeito do
músico brasileiro: “Villa-Lobos permanecerá como uma das maiores figuras da
música de seu tempo”.
Em 1948 o compositor foi acometido de câncer e
viajou para Nova York, a fim de ser operado. Salvo da morte, sobreviveu por
mais onze anos, vindo a falecer no Rio de Janeiro, a 17 de novembro de 1959. No
que diz respeito à vida íntima do compositor, lembra Luiz Heitor de Azevedo:
“duas mulheres partilharam a vida de Villa-Lobos, ambas excelentes musicistas e
colaboradoras dedicadas: a primeira Lucília Guimarães, com quem se casou em
1913 e com quem ele viveu nos anos 20 em Paris; a segunda, Arminda Neves de
Almeida, foi a das duas últimas fases de sua vida; tendo a ela dedicadas quase
todas as obras compostas a partir de 1930.
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