Em
1923, Pixinguinha compôs “ CARINHOSO” que ficou escondida durante 14 anos, pois
o autor considerava uma composição “jazzificada”. Pixinguinha tocava a música
no dancing Eldorado, no Rio de Janeiro, quando Orlando Silva ouviu a melodia e
pediu para gravá-la. Ao ser informado
que não havia letra, Orlando Silva levou João de Barro ao
dancing, e quatro dias depois a letra estava pronta. Orlando Silva, no auge de
sua carreira, gravava uma página
definitiva da música popular brasileira.
Carinhoso
(Pixinguinha e João de Barro)
Meu coração
Não sei porque
Bate feliz
quando te vê.
E os meus olhos ficam sorrindo
e pelas ruas, vão te seguindo
mas mesmo assim
foges de mim
Ah! se tu soubesses
como eu sou tão carinhoso
e o muito muito que te quero
e como é sincero meu amor
eu sei que tu não fugiria
mais de mim
vem, vem,vem, vem
vem sentir o calor
dos lábios meus
a procura dos teus
vem matar esta paixão
que me devora o coração
e só assim então,
serei feliz,
bem feliz.
Meu coração ......
Alfredo da Rocha Vianna Junior, mas conhecido
como PIXINGUINHA, nasceu na Piedade, a 23 de abril de 1898, dia de São Jorge,
dia de Ogum. Aluno do colégio mantido pelo Mosteiro de São Bento, por onde mais
tarde passariam, entre outros, Heitor
Villa-Lobos, Noel Rosa e Lamartine Babo, não criou problemas com a rígida
disciplina da escola, mas nunca foi aluno brilhante, pois estudava só para
agradar os pais.
O
pai, Alfredo da Rocha Vianna, funcionário do Departamento Geral dos Telégrafos, era também flautista
respeitado, e Pixinguinha sentia-se atraído pelas serenatas que seu pai
promovia em casa. Ficava quieto escutando,
fascinado, polcas, valsas e lundus da moda.
A
avó, Dona. Edwiges, africana de nascimento, em seu dialeto natal o chamava de Pizindin (“menino bom”), e a molecada da
vizinhança preferia o apelido de “Bexiguinha”, referência às marcas que a
varíola deixara no rosto do menino. “Pizindin” e “Bexiguinha” com o tempo se
misturaram, originando o “PIXINGUINHA”, definitivamente consagrado em 1956, quando
passou a designar uma rua do subúrbio
carioca de Ramos, onde o músico morou durante 29 anos.
Pixinguinha
cresceu tocando na flauta de folha imitações daquilo que ouvia na
serenata dos grandes. Apurando o ouvido,
o dedilhado e a criatividade, quando não conseguia reproduzir um som inventava
outro que também soasse bonito. Aos doze anos estava tão familiarizado com a música que logo esgotou os conhecimentos
de teoria musical de César Borges Leitão
(vizinho de rua e colega de trabalho do velho Vianna), que se limitava às
lições de um antigo método de Francisco Manuel da Silva.
Nessa
época, Pixinguinha já tocava razoavelmente cavaquinho e bombardino, mas sonhava
com a requinta, espécie de clarineta de sons agudos.
O
pai ensinou-o a tocar flauta, instrumento que mais tarde Pixinguinha dominaria
como mestre. As primeiras lições de flauta coincidiram com a mudança da família
para um casarão de oito quartos e quatro salas, na Rua Vista Alegre, logo
apelidado de “Pensão Vianna”, pois estava sempre cheio de gente, na maioria
músicos convidados pelo velho Vianna. Um dos frequentadores mais assíduos era o
Professor Irineu de Almeida, que logo se entusiasmou com os progressos de
Pixinguinha na flauta, levando-o em 1911
para o grupo carnavalesco FILHAS DA
JARDINEIRA. O novato estreou em
grande estilo, participando de uma batalha de confetes na Avenida Central (hoje Rio Branco). No mesmo ano compôs sua
primeira música LATA DE LEITE, dedicada aos companheiros de estripulias, que
costumavam roubar o leite da porta das casas.
No ano seguinte voltou ao carnaval como diretor de harmonia do RANCHO PALADINOS JAPONESES.
Irineu
de Almeida fixou residência na “Pensão Vianna”, orientando de perto os
progressos do flautista. Animadíssimo
com o talento do filho, o velho Vianna importou da Itália uma flauta especial
que custou muito caro. Surgia mais um músico na família Vianna. Levado pelo
irmão China, que tocava violão, Pixinguinha, com apenas catorze anos, foi contratado
para o conjunto da CONCHA, casa de
chope da Lapa.
O
flautista de calças curtas, conhecido em quermesses e festas familiares, logo
ganhou fama na vida noturna carioca. Com
uma proposta melhor, ele foi tocar no PONTO,
no ABC, no CASSINO. Tocava até de madrugada, entusiasmando todos com o seu
sopro e imaginação. Nem por isso abandonava os hábitos de soltar pipas e fumar
escondido, os cigarros fortes da época.
E
lá estava o rapazinho empinando um papagaio quando apareceu um cidadão que lhe
trazia um convite do violonista Arthur Nascimento (Tute) para tocar com a
orquestra, no TEATRO RIO BRANCO. No
dia seguinte, o primeiro ensaio: os bigodudos músicos preocupados com as
páginas da partitura e Pixinguinha tranquilo, soprando limpo e bonito a música
inteira, em perfeito entendimento com o resto da orquestra. E assim – sem
sequer olhar para a partitura – Pixinguinha garantiu seu lugar na orquestra que
tocaria na peça "Chegou Neves", com o
melhor elenco da época.
Pixinguinha
fazia progressos: recebia convites para tocar em festas, teatros, clubes e já
usava calças compridas. Em 1915 fazia sua primeira gravação para a Casa Falhauber: com o Choro Carioca, interpretou o tango
brasileiro SÃO JOÃO DEBAIXO D’ÁGUA,de
seu professor e amigo Irineu de Almeida.
Em
1917 gravou para a Casa Edison, com o Choro
Carioca, músicas de sua autoria: ROSA e SOFRES PORQUE QUERES. Por esse
tempo, sua principal atividade era tocar no cinema PALAIS. No carnaval, seu bloco chamado CAXANGÁ, composto de umas quinze pessoas entre os quais João Pernambuco,
Lulu Cavaquinho, João da Baiana, vestindo roupas típicas, chapéu branco e
cantando canções nordestinas, fazia muito sucesso. O nome do bloco vinha da
cantiga CABLOCA DE CAXANGÁ, de João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense.
A
epidemia de gripe espanhola, no final da guerra, deixou os filmes mudos sem
espectadores, e o cinema não andava bem.
Os empresários precisavam de atrações especiais para recuperar a
freguesia. O cinema Odeon contratou o pianista Ernesto Nazareth para tocar na
sala de espera. O gerente do Palais,
Isaac Frankel, que ficava quase em frente, chamou o grupo Caxangá, mas era
muita gente. Chamou então Pixinguinha e pediu que organizasse uma pequena
orquestra. O flautista não acreditou: negros tocando na luxuosa sala de espera
do cinema Palais? Pixinguinha escolheu sete companheiros: JOSÉ ALVES
(bandolim), RUAL PALMIERI (violão), NÉLSON DOS SANTOS (cavaquinho), JACÓ
PALMIERI (pandeiro), DONGA (violão) LUÍS DE OLIVEIRA ( bandolim e reco-reco) e
OTÁVIO VIANNA, o irmão CHINA (piano, violão e canto), os OITO BATUTAS, que estrearam no saguão do Palais, no dia 7
de abril de 1919, como orquestra típica de maxixes, lundus, corta-jacas,
batuques, cateretês, toadas sertanejas e tanguinhos.
A
novidade daquela música intensa e animada fez vibrar o público e o Conselheiro Rui
Barbosa, tornou-se frequentador assíduo da sala de espera do Palais, pedindo sempre
que os Batutas tocassem BEM-TE-VI de Catulo da Paixão Cearense. O próprio
Ernesto Nazareth quando terminava sua apresentação no Odeon, vinha assistir ao
espetáculo.
O
êxito dos Batutas abriu possibilidades novas para os músicos populares e atraiu
o interesse dos ouvintes cultos e refinados para os instrumentos
afro-brasileiros que até então só eram conhecidos nos morros e terreiros de
macumba. Com apenas 21 anos, Pixinguinha
ampliava os horizontes de nossa música numa época em que gravar não era muito
acessível ao artista brasileiro.
Do Brasil para o mundo, Orlando Silva canta a sua gravação original de "Carinhoso" de Pixinguinha, realizada em 1937 no Rio de Janeiro e encanta.
Fonte: NOVA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA -1976Fotos: Google
Vídeos: Youtube
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