Setembro de 1920, o Presidente Epitácio Pessoa mostra aos reis da Bélgica Alberto I e Elizabeth o outro lado do Rio de Janeiro, em vez de praia, montanha e floresta, e os Oito Batutas são os convidados para tocar no piquenique que o governo brasileiro vai oferecer aos ilustres visitantes.
Após
excursões a São Paulo e Minas Gerais o grupo se apresenta no cabaré Assírio, subsolo do Teatro
Municipal do Rio de Janeiro, frequentado pela melhor sociedade da época,
acompanhando as apresentações do casal de bailarinos Duque e Gabi que se
tornara famoso na Europa dançando maxixe.
Por sugestão de Duque, o milionário Arnaldo Guinle, fã incondicional dos
Batutas, decidiu patrocinar uma temporada do conjunto de Pixinguinha na Europa.
Iam para o cabaré Scheherazade, em
Paris, onde Duque dançava com êxito.
Os
Oito Batutas, sem os irmãos Palmieri e J. Tomás, substituídos pelo cantor José
Monteiro e o pandeirista Feniano, e reduzidos a sete com o nome de LES BATUTAS,
embarcaram em janeiro de 1922 no vapor Massilia.
-
Paris, inverno de 1922, frio de rachar, vários graus abaixo de zero. Duque e o
cronista Floresta de Miranda estavam na estação de Quai D’Orsay, esperando o
trem de Bordeús. Miranda relata que ao desembarcarem do trem, cada músico
carregava o seu instrumento e tiritavam de frio por trajarem roupas leves. Na
manhã seguinte, Duque os levou para comprar roupas adequadas para aquele
clima.
Estréia
no Scheherazade – sucesso completo.
Paris acode àquele dancing. Pixinguinha com sua flauta infernal faz o diabo.
China abafa com o seu violão e sua bela voz e Donga no pinho desperta paixões.
A temporada de um mês que fora combinada com o empresário do cabaré parisiense
estendeu-se durante mais de meio ano, o público francês entusiasmado com o
chorinho e o samba ainda amaxixado dos Batutas. Músicos famosos, como Harold de
Bozzi, primeiro prêmio de flauta do Conservatório de Paris, fizeram questão de
cumprimentar pessoalmente Pixinguinha pelo brilhantismo de suas apresentações.
Consagrava-se o pioneiro da divulgação
da autêntica música brasileira no
exterior.
Apesar
do sucesso artístico e financeiro, os Batutas não estavam satisfeitos: “Lá não
tinha festas; a gente que no Brasil tocava para se divertir, lá era
profissional mesmo.” Assim, antes de completar o sétimo mês na França, os
Batutas embarcaram de volta ao Brasil, e retomaram seu lugar no Assírio. O sucesso foi o mesmo, mas o
som se modificara pelo que haviam conhecido no exterior. Donga trocara o violão pelo banjo, Pixinguinha
experimentava o saxofone (ao qual passaria vinte anos mais tarde), e
incorporaram outros instrumentos de
sopro, como pistão, clarineta, trombone, até então quase estranhos à nossa
música popular. Era a influência das Jazz Bands que começavam a proliferar no
Rio.
Com
nova formação, os Batutas excursionaram à Argentina em 1927. O empresário José Saint-Clair, que contratara
a apresentação no Teatro Empire, em
Buenos Aires, não pôde acompanhá-los. Na capital argentina, onde fizeram várias
gravações (Ba-ta-clan, Urubu Ele, Já te Digo, Graúna), entraram em contato com outro empresário, que propôs
uma excursão ao interior do país. Os Batutas foram tocar em Mar de Plata,
Mendoza, Rosário, Córdoba e Rio Cuarto.
Nesta última cidade o empresário fugiu com o pouco dinheiro do conjunto. A quarenta horas de trem de Buenos Aires, sem
ter o que comer e onde dormir, a situação não era das melhores. Um dos componentes do grupo, Josué de Barros
teve uma ideia: faria um número de “enterrado vivo” permanecendo sete dias
encerrado num caixão. Depois de uma semana conseguiram quem financiasse o caixão
e arranjaram um terreno baldio para instalar o “espetáculo”. Mas faltava a
propaganda.
Como
fariam se não havia dinheiro para cartazes e ingressos? Resolveram o problema
fazendo pela cidade um cortejo fúnebre. Josué ia muito compenetrado dentro do
caixão, enquanto Pixinguinha, segurando a alça do esquife, continha uma de suas
gostosas gargalhadas. O espetáculo duraria uma semana, mas fazia um calor
fortíssimo na cidade, e à tardinha uma onda de gafanhotos invadia o lugar,
obrigando os moradores a ficar em casa. Pouca gente se preocupou com o
“enterrado vivo” e o próprio no terceiro dia não aguentou o calor e
“ressuscitou”.
De
volta ao Brasil, os componentes dos Batutas haviam mudado muito, restando
apenas Donga e Pixinguinha do primitivo conjunto. Aos poucos perdiam o som que os caracterizava
e seu organizador assumia novos compromissos. Ainda em 1926, foi dirigir a
orquestra do Teatro Rialto, atividade
que resultou no casamento com Albertina de Souza, estrela da companhia de
revistas que ali se apresentava. Dois anos depois, desfazendo definitivamente
os Batutas, organizou com Donga a ORQUESTRA TÍPICA PIXINGUINHA-DONGA, que
gravou vários discos para a etiqueta Parlophon- entre eles,duas obras do
brasileiríssimo Pixinguinha: os tangos FRATERNIDAD e MIS TRISTEZAS SOLO LLORO, esta
inclusive com letra em castelhano. Uma exceção, pois na mesma época eram
gravados inúmeros sambas e chorinhos seus – MULHER BOÊMIA, PÉ DE MULATA, QUEM
FOI QUE DISSE, GAVIÃO CALÇUDO e LAMENTO, que mais de trinta anos depois
receberia letra do poeta Vinicius de Moraes. LAMENTO para um crítico da época, Cruz Cordeiro, apresentava a “influência
das melodias e mesmo do ritmo da música dos norte-americanos”.
PIXINGUINHA E VINICIUS DE MORAES
O
excelente flautista, sem deixar o instrumento, começava a se destacar como
orquestrador. Nesse tempo não se faziam arranjos no Brasil, esclarece o maestro
e compositor Radamés Gnatalli. As partituras vinham da Europa ou Estados Unidos
direto para a estante dos músicos. Pixinguinha foi um dos pioneiros em fazer
arranjos para músicas brasileiras, principalmente de carnaval, primeiro para a
Rádio Transmissora, depois para a recém-criada (novembro de 1929) Victor
Talking Machine Co. of Brasil.
Regendo artistas como Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Radamés Gnatalli.
Luís Americano, Tute, ele inaugurava nova fase na orquestração brasileira.
O
primeiro suplemente da Victor continha dois choros de Pixinguinha: VEM CÁ! NÃO
VOU e URUBATAN. E outros vieram : AGUENTA,SEU
FULGÊNCIO!, SEGURA ELE e O URUBU E O
GAVIÃO, onde segundo o crítico Ari Vasconcelos, encontramos o ápice de sua
carreira de flautista, “ostentando um domínio técnico absoluto e um dom de
improvisação geralmente só encontrado
nos grandes músicos de jazz”.
Em
1932, ainda na Victor, Pixinguinha fundou o famoso GRUPO DA GUARDA VELHA, elite
de talentos que muito raramente se consegue juntar: Bonfiglio de Oliveira, Luís
Americano, Vantuil Donga, João da Baiana e outros. Entre as gravações do
conjunto, destacam-se as de: LINDA MORENA, O TEU CABELO NÃO NEGA e MOLEQUE
INDIGESTO (todas de Lamartine Babo),
cantadas por artista como Mário Reis, Carmen Miranda, Castro Barbosa.
“Todo
grande cantor tinha que ter orquestração
de Pixinguinha”, diz o maestro e compositor Hervê Cordovil, testemunhando seu
prestígio na época”. Isso aconteceu com a Guarda Velha e com as orquestra que
dirigiu: Diabos do Céu e Orquestra Colúmbia de Pixinguinha. O
caminho estava aberto. Novos orquestradores surgiam, como Radamés Gnatalli e
Gaó, trazendo novos estilos, novas sonoridades.
Pixinguinha
voltou ao pequeno grupo, em 1937, na
Rádio Mayring Veiga e no dancing Eldorado.
Eram os Cinco Companheiros: Tute (violão), Luperce Miranda (cavaquinho),
Valeriano (violão), João da Baiana (pandeiro) e Pixinguinha, com sua famosa
flauta.
Fonte: NOVA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA- 1976
Fotos: GOOGLE
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