Mestre Fuleiro ( Antônio
dos Santos- 1915- ), diretor geral da Império Serrano, foi criado entre o Estácio e a Tijuca, onde
sua mãe, Dona Teresa ( 1877- )
era conhecida festeira e passou dos cem anos, respeitada como jongueira. Em
menino, Fuleiro já tocava alguns instrumentos. Em relação ao ritmo das escolas,
na década de 20, ele esclarece: - como sempre fui muito forte e alto, me davam
o tamborão para tocar. Era um retângulo de madeira furada, com quase meio metro
por vinte, coberto de couro cru. Batia-se nele com a palma da mão e saía uma
espécie de marcação do ritmo. O resto da bateria era chocalho, ganzá, cabaça,
cavaquinho, violão. Os grupos eram muito
pequenos, e uma bateria com oito ou dez elementos botava samba na rua. Depois o
tamborão foi diminuído e surgiu o tamborim, que passou a ser repicado com varas,
pois tamborão deixava as mãos do tocadores inchadas e em brasa.
Para
Mestre Fuleiro, foi Bide ( Alcebíades Barcelos), autor do samba Agora é cinzas,
quem deu melhor organização às baterias:
-
um dia fui no Estácio e o vi tocando surdo de marcação. Era feito dessas latas
de manteiga, redondas, com aros de proteção na boca, bem encouradas. Ele fazia
marcação com baqueta, dando a batida e a resposta. Aquilo era uma sensação da Deixa
Falar.
Mestre Valdomiro (Valdomiro
Tomé Pimenta – 1902 - ),
diretor-geral da bateria da Mangueira, conheceu o morro quando ali ainda existia uma vacaria como
principal atração. Bem antes mesmo da implantação da Fábrica de Chapéus
Mangueira, que muito favoreceu ao povoamento da encosta da Mangueira.
-
O ritmo do samba não tinha essa organização de hoje. Eram as peças da macumba
que a gente usava – registra Mestre
Valdomiro – E, aproveitando que minha família, desde os meus avós, sempre
gostou muito de comer carne de gato, o Cartola
um dia me procurou:
“
O que você faz com o couro?” – “ Enterro – respondi. Não só para não apodrecer,
como também para não criar complicação com os vizinhos, os donos dos gatos.”
Cartola ensinou-lhe
então a tratar do couro e a usá-lo para fazer instrumentos, fixando a pele em
diversas armações de madeira, na medida de cada peça de ritmo. Hoje, as
fábricas produzem o instrumento pronto e com um elemento fundamental, que as
baterias de escolas de samba conheceram somente no início da década de 50: as
tarraxas para apertar o couro e afiná-lo. A fim de que produza o som ideal.
Xangozinho, diretor de harmonia da escola de samba Unidos
de São Carlos, fala do tempo que precedeu a tarraxa como elemento
modernizador dos instrumentos de ritmo.
-
É claro que todo menino do Estácio
adorava estar perto dos grandes sambistas, dos malandros famosos. Mas isso era
difícil e, mais ainda, sair com eles para garantir essa aproximação, eu catava
jornal, empilhava e amarrava. Ia atrás deles com aquela trouxa na cabeça. De
repente, o som da bateria começava a ficar rouco e o grupo parava. Eu acendia
os jornais e eles esquentavam o couro que, bem esticado, voltava a produzir um
som. Assim, eu ganhava uma certa importância e, também, o direito de sair às
ruas com os grandes sambistas.
Oscar
Bigode (Oscar Pereira de Souza), veterano
da Portela e seu ex-diretor de bateria, defende a ideia de que a
bateria é o ponto fundamental da escola de samba.
-
se eu sair pelas ruas com um grupo de ritmistas afinados, crio uma escola de
samba, porque logo vai aparecer gente sambando, cantando alguma coisa e, lá
para as tantas, alguém pega um cabo de vassoura, um pano e cria o estandarte.
Cada
bateria tem sua marca própria, um estilo particular que identifica a escola à
distância.
Tinguinha (Homero José dos
Santos) com seu tarol, foi, juntamente com Lúcio Pato (o primeiro tocador de surdo da
escola), responsável pela criação do estilo da Mangueira.
Ele
descreve a marca de seu ritmo, partindo da dominação do surdo:
-
é assim a marcação do surdo da Mangueira:
quando arreia uma baqueta no surdo, todas as outras arreiam ao mesmo tempo.
Enquanto as demais escolas fazem um balanço, nós não podemos. Quando um surdo nosso bate ao contrário,
manda-se parar. A batida é uma só. A Mangueira sempre bota surdo de marcar. O
surdo de marcação é aquele maior, o “205”. Depois vem o surdo-mor, menorzinho
um pouco e, logo após, o surdo de repicar, que é menor ainda. Em seguida,
aparecem tarol, caixa de guerra, tamborim, pandeiro, cuica, agogô, chocalho e
reco-reco. Não admitimos pratos nem frigideiras na bateria da Mangueira.
FONTE:
NOVA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
ABRIL
CULTURAL: 1979
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