terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ESCOLAS DE SAMBA - TIAS, FUTEBOL E RANCHOS




TIAS, FUTEBOL E RANCHOS

Em fins do século XIX, tangidos para o Rio de Janeiro pelos efeitos da Guerra dos Canudos e da peste que dizimava povoados do sertão, levas de retirantes baianos começaram a ocupar as montanhas adjacentes ao Morro da Matriz, junto ao centro do Rio de Janeiro.
(A eles se deve o neologismo “favela”, designando um agrupamento de submoradias enquistado nos morros – o termo antes indicava apenas uma planta comum na região de origem desses migrantes).
Em 1870, mudara-se para o Rio de Janeiro, a baiana Hilária Batista de Almeida, indo residir na Rua da Alfândega, e, mais tarde, na Visconde de Itaúna. Hilária tornou-se famosa como Tia Asseata, Assiata, ou Ciata, e sua casa tornou-se um centro de festas e reuniões de boêmios, fundamental como dado indicativo do surgimento do samba. Ali, fizeram-se conhecidos grandes nomes da música como Caninha, Pixinguinha, Sinhô, Heitor dos Prazeres, Donga e Mauro de Almeida (responsáveis, os dois últimos pelo registro da expressão “samba”, designando uma nova manifestação de cultura popular, através do canto e da dança).
Nos encontros em casa da Tia Ciata destacava-se a figura de Hilário Jovino Ferreira, que marcaria sua existência por ser o iniciador do movimento que resultou na criação do primeiro rancho carnavalesco: o Rei de Ouro, fruto de suas lembranças das festas dos Três Reis Magos, da Bahia.
Segundo Bicho Novo (Acelino dos Santos, nascido em abril de 1909), as escolas de samba tiraram sua forma de organização e andamento dos ranchos. “Só o ritmo é diferente”.
Juntamente com Juvenal Lopes, Bicho Novo, foi um dos maiores mestres-salas do Estácio e Fundador da Deixa Falar. Acrescenta ele que os times de futebol também deram sua contribuição, mas os ranchos é que ofereceram  a forma de apresentação das escolas de samba:  - havia samba em toda parte, mas o pessoal do Estácio tinha mais organização porque vinha da experiência do futebol. Lá se reuniam os times da Ponte dos Marinheiros, da Mangueira e do próprio Estácio, que jogavam no campo do Flamenguinho ou da Mangueira. Depois dos jogos, bebia-se, comia-se e se fazia samba.
As cores da Deixa Falar, por exemplo, são as do América, vermelho e branco. Já o nome de “ escola de Samba” todo mundo diz que foi o Ismael Silva que deu, por causa da escola normal da cidade, que era aqui no Estácio. Orgulhoso da nossa melhor organização, ele dizia:
“nós somos escola de samba”. Os outros, para não ficarem para trás, também foram se denominando “escolas de samba”.
Dois sambas do final da década de 20, de redutos próximos do Estácio, oferecem a técnica desse aperfeiçoamento que Bicho Novo atribui à DEIXA FALAR . ao tempo em que o  compositor Brinco, da VÊ SE PODE, compunha usando expressões de caxambu, macumba e jongo (“até parece coruja,/ que anda gabando o toco onde mora./ Assim é você,/que anda dizendo que teu bloco é melhor./Fica feio pra você./Oh! Meu belo moço,/ Quem corre cansa./Você mesmo toca,/você mesmo dança”), Bide, na DEIXA FALAR, já colocava em seus sambas versos afinados com os que viriam a caracterizar o samba urbano carioca: “ Sempre vencemos, nunca perdemos./Nosso time é o Estácio./Vamos pra Balança,/ Não damos confiança./ Peso é peso,/Braço é braço”.
- O pessoal do morro – analisa Bicho Novo – fazia samba após a macumba, no terreiro. Vestia brim caroá, chapéu de palha, calçava tamanco, chinelo. Os rapazes da Estácio gostavam de futebol, baile, de ternos de panamá, chapéu de palha-de-arroz, camisa e meia de seda, o sapato contra-caldo (película fina, preto e branco, salto carrapeta). Eles é que criaram o Bloco DEIXA MALHAR e, mais tarde, a Escola de Samba DEIXA FALAR, que nasceu numa estalagem localizada na esquina das ruas Maia Lacerda com Estácio. Bull-dog (um dos melhores mestres-salas do período áureo dos ranchos) e Otávio é que tiveram a ideia. Todo mundo acompanhou. Os dois eram responsáveis pelo time do Estácio e saiam no Rancho MACACA É OUTRO. Então, vinham com aquela experiência toda: “ritmistas ficam ali atrás, as moças em fila dos lados, vai um grupo de homens fortes na frente, etc.  e tal”.

FONTE: NOVA HISTÓRIA DA MUSICA POPULAR BRASILEIRA
ABRIL CULTURAL – 1979







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