sexta-feira, 4 de maio de 2018

CHIQUINHA GONZAGA - II - CASAMENTO - SEPARAÇÃO - AULAS DE PIANO




Nos dias atuais não faltariam amigos para amparar uma mulher que tivesse as razões de Chiquinha Gonzaga para romper com o casamento. Mas naquela segunda metade do século XIX, uma mulher que abandonava o marido tornava-se responsável  por uma “vergonha” que devia enfrentar sozinha. No primeiro momento, a voluntariosa Francisca Edwiges pensou que poderia sair da dificuldade pelo caminho mais agradável: namorando um jovem engenheiro apreciador de boa música, e passando a viver com ele, João Batista de Carvalho, com quem teve uma filha Alice Maria. Mas as condições de vida que o engenheiro construtor de estradas de ferro lhe oferecia acabaram se revelando simples repetição do que acontecera com Jacinto. O novo marido não a fechava num camarote, mas levava-a em sua vida nômade a viver em barracas armadas na Serra da Mantiqueira, ouvindo o martelar da colocação dos trilhos durante o dia e o zumbido dos mosquitos durante a noite. Foi preciso pouco tempo para Chiquinha compreender a sua falta de vocação para o casamento: separando-se  também do engenheiro, encerrava as suas tentativas de vida familiar e iniciava a carreira de mulher independente, em que poderia afinal revelar a sua verdadeira personalidade.  Ao separar-se de João Batista, este também não permitiu que Chiquinha ficasse com a guarda da filha.





Para a jovem mãe que só sabia tocar piano, o início não foi fácil. Instalada no térreo de uma casa da antiga Rua da Aurora (hoje General Bruce), Chiquinha fez uma revisão dos cadernos de aula dos tempos do Cônego Trindade, e anunciou corajosamente que ensinava português, francês, latim, geografia, história e matemática.  O seu tipo físico, porém, descrito pelo jornalista Barros Vidal, como “bem brasileiro - um mundo de seduções nos olhos, morena, cabelos negros ligeiramente ondulados”, não devia servir muito à imagem da mestra de saberes tão diversificados. E foi assim que a aluna do Maestro Lobo desbancou a do Cônego Trindade, fazendo surgir a professora de piano de compositora de polcas, valsas, tangos  e cançonetas Chiquinha Gonzaga, que em breve o Brasil todo ia conhecer.
Por aqueles fins da década de 1870, bom pagamento para um músico que animasse uma festa, tocando sem parar durante toda a noite, não ia nunca além de 10 mil-réis. Pois Chiquinha, além das aulas na casa dos alunos, juntou-se a um grupo de músicos de choro, para concorrer algumas vezes na semana a alguns desses cachês. Quando podia, Chiquinha encaixava no conjunto o seu filho mais velho, João Gualberto, que por não ter chegado ainda aos quinze anos só recebia 2 mil-réis. Para a outrora mimada filha dos Neves Gonzaga era uma dura experiência, mas foi essa necessidade de adaptar a voz do seu piano ao gosto popular que lhe valeria, em poucos anos, a glória de tornar-se a primeira grande compositora popular do país.









Fonte: Nova História da Música Popular Brasileira
           Abril Cultural - 1977
Imagens: Google

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