quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

CARNAVAL NO BRASIL- NA RUA, A VIDA DELIRANTE - III



Os clubes que formavam para festeja e animar o carnaval chamavam-se “sociedades”.   O Congresso da Sumidades Carnavalescas realizou um desfile que foi assistido pelo Imperador e a Imperatriz.
As sociedades foram importantes também para a participação da mulher no carnaval. Como ele se transformava cada vez mais, em festa de estilo veneziano – delicado e colorido – com confete e serpentina -, as senhoras da sociedade também poderiam, sem muito exagero, brincar fantasiadas. A primeira agremiação feminina a sair às ruas era paulista, um grupo de estudantes da Sociedade Paulicéia Vagabunda, em 1869.
Porém, nem só de carnaval viviam essas sociedades. Elas se engajaram também nas lutas políticas em prol do abolicionismo e da república. As sociedades se multiplicaram e disputavam a alegria entre si e internacionalmente. Houve muitas dissidências, que por sua vez inauguravam outras sociedades.  Seguindo o exemplo das Sumidades Carnavalescas, logo surgiu a União Veneziana; em seguida, uma briga nas Sumidades abriu caminho para dois novos agrupamentos: a Euterpe Comercial e os Zuavos Carnavalescos. A primeira foi uma das mais requintadas associações, pois seus componentes executavam  os mais variados instrumentos: clarinetas, violinos, flautas. Promoviam também fora do carnaval, saraus e tertúlias lítero-musicais. Dos Zuavos sairiam os Tenentes do Diabo  e os Infantes do Diabo. Uma crise interna dos Infantes dividiu-os em Fenianos e Congresso dos Fenianos.  Grandes incentivadores da folia eram ainda os Democráticos Carnavalescos ( Clube dos Democráticos a partir de 1888), os Estudantes de Heidelberg, os Acadêmicos de Joanisberg e o Clube X.
Por essa época começaram a aparecer os cordões organizados, que, como dizia o observador dos costumes cariocas João do Rio (1881-1921), eram a própria essência do carnaval: “ o cordão é a vida delirante”. Os primeiros cordões de que se tem notícia foram a Estrela da Aurora(1886) e a Sociedade Carnavalesca Triunfo dos Cucumbis (1888). Os cordões consolidaram o hábito de se fantasiar no carnaval. Mas sua grande hora seria a primeira década do século XX, quando passaram  a acolher também danças e representações folclóricas (que eram desenvolvidas por antigas confrarias religiosas negras). Nas zonas urbanas, o carnaval se torna uma espécie de catalisador do folclore, principalmente em Salvador, no Recife e no Rio. O tríduo de momo incorpora os cucumbis baianos, o maracatu de Pernambuco, os congos e as congadas, e até mesmo certos elementos do bumba-meu-boi e dos bailes pastoris.




O carnaval crescia com as ruas. Em 1906, ano em que apareceu o lança-perfume Rodo Metálico, os festejos mudaram-se da “movimentada, irrequieta, foliona” Rua do Ouvidor – como Eneida a chamou – para a Avenida Central, recém-aberta. No ano seguinte surgiria o corso, nessa mesma avenida.  As filhas de Afonso Pena tinham passeado no automóvel presidencial pela via carnavalesca, de uma ponta à outra, e estacionaram à porta de um edifício, de onde apreciaram a festa. Fascinados pela ideia, os foliões que tinham carros começaram a desfilar pela avenida, realizando calorosos duelos com os outros veículos, onde as armas eram o perfume, a serpentina e o confete  - “gotas multicores de papel”, no dizer do escritor Marques Rebelo (1907-1973).
Ali por 1910, aparecem os primeiros ranchos, e começa aparecer o elemento feminino. O conjunto instrumental era acrescido por instrumentos de corda: violões e cavaquinhos, e instrumentos de sopro: flautas e clarinetas.  Ao mesmo tempo surgia o coro para entoar a marcha do rancho.  Os ranchos herdaram dos pastoris a forma processional, ganhando depois o feitio de representação teatral. Buscam seus temas nos episódios mitológicos, cívicos ou patrióticos, e eram compostos de grandes orquestras ( que incluíam entre suas marchas, certas árias de operas). Alguns ranchos como o Ameno Resedá, o Flor de Abacate, o Mimosas Cravinas, o Dois de Ouro, o Cananga do Japão, ficaram famosos.
Com o aparecimento das grandes escolas de samba, no final da segunda década do século XX, os ranchos entram em decadência; os poucos que sobreviveram  saem no segundo dia de carnaval, ostentando suas porta-estandartes, os mestres-salas em sugestivas evoluções e as pastoras rica e vistosamente fantasiadas.

As escolas de Samba apareceram em 1928, quando um grupo de sambistas e malandros do Largo Do Estácio de Sá resolveu ensinar o samba aos outros bairros cariocas. Nascia assim a Deixa Falar, a primeira escola de samba de que se tem notícia, abrindo um importante capítulo na história do carnaval brasileiro.




O carnaval de rua seguiria recolhendo novos estilos, abandonando outros, incorporando novas manifestações tais como as batalhas de bondes (que acabariam proibidas), os blocos (alguns legendários, como o Bloco do Eu Sozinho e o Bloco do Vai como Pode) e depois os blocos de “sujo”. Outra invenção foi o ‘trote’; grupos cobertos com mortalhas e máscaras de pano ou papelão, que cobrem até o pescoço. Essa fantasia – a “careta” – ficou muito comum no carnaval de rua de Salvador.


FONTE: NOVA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
ABRIL CULTURAL - 1979
IMAGENS: GOOGLE

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