terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

BRASIL FOLCLÓRICO IV - REGIÃO NORDESTE - SERGIPE E ALAGOAS

    SERGIPE        


ALAGOAS
                     

Em 1532, Dom João III, rei de Portugal, dividiu o Brasil em 14 capitanias hereditárias que foram doadas a fidalgos portugueses. Coube a Francisco Pereira Coutinho 50 léguas de terra entre o São Francisco e a Ponta do Padrão. Nessa região, na margem esquerdo do rio São Francisco, está localizado o Estado de Alagoas.  Na margem direita o Estado de Sergipe. O São Francisco é o divisor natural dos dois Estados.
A partir de 1630 começaram as invasões holandesas. O Conde José Mauricio de Nassau-Siegen construiu fortes no rochedo onde foi fundada a cidade de  Penedo  (Alagoas)  para dominar o rio dos Currais (o São Francisco). Os holandeses permaneceram no nordeste até 1654.
 Lado a lado do grande rio surgiram os criatórios de gado. Os tipos humanos foram se diferenciando de acordo com o trabalho que realizavam: barqueiros, remeiros, pescadores, vaqueiros, tangerinos (tangedores de gado), cabeceiros (para carga e descarga de barcos), beiradeiros (moradores da beira do rio).
Os habitantes dessa região são todos caboclos, descendentes de brancos e índios. Fortes, enfrentam a luta pela sobrevivência plantando, pescando, criando gado.  Muitos descendem dos índios cariri,  que ainda vivem no aldeamento de Porto Real do Colégio, em Alagoas.
O vaqueiro continua seu trabalho no Agreste e no Sertão Nordestino. No baixo São Francisco, os beiradeiros praticam a cultura de vasante, isto é, quando o rio está baixo, plantam nos lugares adubados pelo Nilo brasileiro. No litoral de Alagoas e Sergipe encontram-se os pescadores, jangadeiros e catadores de moluscos.


                                                          DANÇAS E FOLGUEDOS
O REISADO





O Reisado foi introduzido no Brasil-Colônia pelos portugueses. É um espetáculo popular das festas de Natal e Reis, cuja ribalta é a praça pública, a rua. No nordeste, a partir de 24 de dezembro, saem os vários Reisados, cada bairro com o seu, cantando e dançando.
Os músicos tocam fole (sanfona ou harmônica), adufes (pandeiros), caixa de guerra (tambor) e zabumba. Ao chegar na porta das casas ou na praça, cantam pedidos de licença. Fazem louvações aos donos da casa ou dos cercados e agradecem os comes e bebes oferecidos. Depois cantam a retirada ou despedida.
No reisado alagoano encontramos alguns personagens que se apresentam também no Bumba-meu-boi. As figuras são variadas: Rei, Rainha, Secretário, Guias, Congraguias, Mestre, Mestra, Contramestre, Mateus,  Palhaço, Lira, Embaixadores, Embaixatrizes, Governador, Estrela, Índio, Peri, Sereia.

REISADO DE ALAGOAS

A parte coreográfica é muito simples: corrupios, gingados, galopes, pisa-mansinho... A disposição dos participantes varia de cidade para cidade. Em todas as representações os lugares de destaque são destinados ao Rei, Rainha ou a Mateus e a Lira.
Os enfeites não são simples enfeites: têm uma finalidade mágica. Funcionam como um amuleto e servem para o choque de retorno, todo o mal, os maus olhados, os maus desejos que baterem nos espelhos, voltarão contra quem os desejou...

Senhor dono da casa
Olhos de cana caiana
Quanto mais a cana cresce
Mais aumenta a sua fama.

Senhor dono da casa
Talhada de melancia
Sua mulher, estrela d’alva
Sua filha, luz do dia.



REISADO DE SERGIPE


BAILADO
                                                                                              
OS GUERREIROS ALAGOANOS
          
  

A dança dramática ou Bailado dos Guerreiros  é recente. O seu aparecimento em Alagoas data de mais ou menos meio século.  É uma mistura de antigos autos populares dos Reisados e Cabocolinhos. Recebeu a influência das tradições europeias ou Reisado, sem a parte devocional,  e a indígena dos Cabocolinhos.
 O tema da  ressureição aparece duas vezes neste bailado. Quando morre o personagem Lira e depois, por ocasião  da morte do boi, que é parte final dos Guerreiros alagoanos.
Nos Guerreiros há maior número de personagens que nos Reisados. Os trajes são ricos, cheios de enfeites.  Procuram imitar antigos trajes do nobres do Brasil-colônia. Usam fitas, colares, contas, coroas, mantos e chapéus ricamente preparados com abundância de espelhos e enfeites de árvores de Natal. Os personagem são: O Rei, três Rainhas, Embaixadores, General, Mateus, Palhaços, Catirina, Boi, Cabocolinho da Lira, Borboletas, Estrelas, Sereia e outros....

Ó que saudade
Quando o guerreiro partiu,
Quando saiu
Desta nobre cidade.

Vamos deixar
Tanta morena bonita
Meu coração já palpita,
Mas não posso levar.


DANÇAS

                                                                           O COCO






É bem provável que esta dança mestiça, afro-ameríndia tenha surgido em Alagoas, onde se misturam escravos índios e escravos africanos, no início da vida social brasileira (época colonial).
Foi em Alagoas que se deu a grande rebelião negra – PALMARES. A dança do Coco continua sendo expressão do desabafo da alma popular, da gente mais sofrida do nordeste brasileiro.
O coco dançado em Alagoas é diferente do paraibano, do pernambucano e do rio-grandense. O sapateado é mais vivo e mais figurado. Forma-se a roda de mulheres e homens. No centro fica a solista que põe  o “argumento”, isto é, a melodia do texto. Logo sobressai o refrão cantado pelos demais na roda:

“venha ver como a coisa tá boa
Venha, é um Coco lá das Alagoas”.

O solista no centro, executa requebros e sapateados, passos figurados, inventados na hora. Ao finalizar faz a sua vênia ou reverência. Retira-se, e entra outra pessoa.
O Coco é uma dança do povo e os principais instrumentos são as próprias mãos. O canto, acompanhado por bater de palmas com as mãos encovadas, assemelha-se ao ruído de quebrar  a casca de um coco, daí o nome da dança, de ritmo bem brasileiro.
Usam também tamborim, zabumba, adufe (pandeiros). Na fala de outro instrumento musical, até o caixão de querosene entra na dança.
O Coco foi a dança preferida pelos cangaceiros. Lampião e outros cangaceiros dançavam o Coco nas horas de descanso.



É Lampi, é Lampi, é Lampi.
É Lampi, é Lampião
Meu nome é Virgulino
Apelido Lampião.

Papai me dê dinheiro
Pra eu comprar um cinturão
Que a vida de um solteiro
É andar amis Lampião

Lampião disse que tem
Um sobrado em Princesa
Pra botar moça rica
Que é neta da baronesa

Lampião quando desceu
De Princesa para Varginha
Trouxe alparcata ferrada
Pra pisar almofadinha

A feira nordestina é o lugar onde se ouve o Coco improvisado, falando das dificuldades, dos problemas sociais, das paixões.



DANÇA-LUTA
BATE-COXA






Possivelmente essa dança-luta de nítida influência negra, praticada exclusivamente por negros, não existe em outros estados brasileiros, atualmente.
Os dois disputantes, sem camisa, só de calção, aproximam-se e colocam peito com peito, apoiando-se mais nos ombros. Começa então a música, cantada por um grupo e acompanhada por um tocador de ganzá (reco-reco)

São horas de eu virar negro
Eh! boi...
Minha gente venha ver
Com meu mano vadiar,
Eh! boi...
São horas de eu virar negro
Tanto faz daqui pr’ali
Como dali pr’acolá
Eh! boi...
São horas de eu virar negro
Quando eu vim da minha terra,
Deixei meu amor chorando
Eh! boi...
Com saudades eu me retiro,
Adeus até não sei quando
Eh! boi...
Desde a vez qu’eu te vi
Fiquei te querendo bem
Eh! boi...
Sozinha comigo calada
Sem dizer nada a ninguém
Eh! Boi...
São horas de eu virar negro.

Ao som do canto do grupo que está próximo, ao ouvir “ eh! Boi”, ambos afastam a coxa o mais que podem e chocam-se num golpe rápido.  Depois da batida da coxa direita com a direita, repetem à esquerda chocando bruscamente, ao ouvir o “eh!boi...” A dança prossegue até que um dos dois desista e se dê por vencido. Se um dos dois levar uma queda, após a batida, é considerado perdedor.


QUILOMBO  - FOLGUEDO



O quilombo é um folguedo tradicional alagoano, tema puramente brasileiro, revivendo a época do Brasil-Colônia.
Dramatiza a fuga dos escravos, que foram buscar um local onde se esconder e se defender, na serra da Barriga, formando o Quilombo dos Palmares. O quilombo foi destruído pelo bandeirante paulista Domingos Jorge Velho.
Em Sergipe há um arremedo bem pobre dos Quilombos e se chama lambe-sujo. Na penúltima semana de outubro em Aracaju, Propriá, Parapitinga, Neópolis e São Cristovão, os palmarinos e os “caboquinhos” lutam neste bailado.
Em Piaçabuçu, Estado de Alagoas existem quilombos onde tomam parte mais de 50 pessoas. O quilombo se divide em dois grupos distintos:  pretos e caboclos, cada qual com o seu Rei. Cada Rei tem o seu Secretário cujas funções são as de  Carteiro Embaixador.  No bando de preto há uma Rainha, Catirina e o Pai do Mato.
A uniformização dos participantes, embora simples, é muito bem cuidada. Os pretos usam calças azuis, meia coronha ( até o joelho), semelhantes as dos antigos escravos. Os caboclos usam calções e tangas de penas. Os Reis e Rainhas usam roupas pomposas.
Na praça pública armam um grande mocambo feito com palhas de coqueiro. Ali dentro colocam tudo o que podem “roubar”: canoas, cadeiras, animais etc.. O “roubo” precisa de um resgate. Faz parte da brincadeira.
Os caboclos “roubam” a Rainha dos Pretos.  O Rei dos pretos, dos palmarinos, envia uma carta determinando que a solte, ou ele declarará guerra e incendiará o mocambo.
Quando se preparam para a guerra há os resgates do que foi “ roubado”. Os negros atacam; incendeiam o mocambo.
A Rainha dos palmarinos é “posta à venda”.  As autoridades locais a “compram”.
Os caboclos vencem os palmares.
Há muita música. O Terno de Zabumba alegra a representação.
  
  



PASTORIL DE SERGIPE E ALAGOAS - ELY CAMARGO - 1968

FONTE: Histórias, Costumes e Lendas 
               Editora Três - 1987
IMAGENS: Google
VÍDEO: Youtube -   

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