terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

BRASIL FOLCLÓRICO VI- REGIÃO CENTRAL - GOIÁS


GOIÁS




O Estado de Goiás foi penetrado por mais de duas dezenas de bandeiras à procura de índios e de ouro. Bartolomeu Bueno da Silva,  o velho Anhanguera, alcançou o sertões de Goiás em 1682.  Os monçoeiros paulistas, continuadores dos bandeirantes se fixaram no interior do Estado, sempre a procura de ouro. Surge uma verdadeira “febre do ouro” e multidões se instalam neste território. Hoje, no Brasil Central, ao lado do garimpeiro que procura pedras, ouro e outros metais preciosos, encontramos diversas tribos de índios. Na foz do Rio Araguaia, na ilha do Bananal e nas margens do rio Tapirapé, vivem os índios carajá e tapirapé.
A marcha para o Oeste brasileiro trouxe em consequência o povoamento de Mato Grosso e Goiás.  Os monçoeiros (continuadores dos bandeirantes) levavam a família, visando a fixação, criando novas vilas e cidades. Desciam o rio Tietê, o Paraná, passavam por varadouros (lugar baixo de pouca água), empurrando o batelão, alcançando outros rios.
Um dia eis os monçoeiros em Mato Grosso e Goiás, caminhando por entre montanhas, serras, campos, cerrados enfeitados com palmeiras, buritis, indaiás. Árvores como o pequi nativo, de fruto gostoso.

É  fundada a Vila Boa de Goiás pelos caipiras paulistas. No sudoeste goiano a presença do notável Bartolomeu Bueno da Silva, o Velho, mais conhecido por Anhanguera, que colocou fogo no álcool, que os índios tapirapés não conheciam, e assim, pensaram ser água, daí temerem que o velho incendiasse os rios e os dizimasse. E assim, Anhanguera conseguiu dos índios o que quis.


AS CAVALHADAS





O teatro que nasceu dentro das igrejas teve um papel importante,  foi empregado pelos catequistas que chegaram a aprende a língua dos índios para nela escreverem os autos, pequenas peças de teatro que deveriam ser representadas na língua da gente da nova terra.
Os autos populares tinham a finalidade religiosa e não apenas o curumim, o mameluco ou o escravo, precisava ser assistido, mas também o próprio povoador português. Os dramas, as representações ensinavam a tese da ressurreição, através do Bumba-meu-Boi e a conversão aparece no batismo do Mouro ou Congo nas Congadas, nas lutas de Cristãos e Mouros.
Para os donos das terras, os fazendeiros, o catequista usou a Cavalhada – a luta entre Cristãos e mouros, dramatizada com grande gala.  Cada grupo procurava fazer trajes mais ricos do que o dos outros e as cores fundamentais tinham que ser respeitadas: para os Cristãos , o branco e o azul, a cor do céu, da pureza, do perdão. Para os Mouros, o vermelho, o verde , a cor das chamas do inferno, das amarguras.  Até nas próprias espadas há um simbolismo: os Cristãos, com espadas retas – da retidão, da justiça. Os Mouros , com espadas curvas, dos maus, dos sicários. Na Cavalhada repetem a tese da conversão onde o Bem e o Mal lutam. A vitória final é do Bem.





FESTA DE ANARCAN
(LUTA DE BRAÇO)




A festa de Anarcan, é praticada entre os índios carajás e é uma luta de braços que dura o dia inteiro.O vencedor da disputa é aquele que consegue derrubar o maior número de lutadores. Ao visitar uma tribo, os moços lançam o desafio e através de gritos de saudação tem início a disputa.  Os encontros entre dois disputantes duram de dois a três minutos, só o tempo de um dos lutadores se estatelar de botas no chão. Este é o perdedor. A festa de Anarcan antecede a festa de Aruanã.


A FESTA DE ARUANÃ




É uma das mais empolgantes do calendário mágico-religioso dos índios carajá.  É realizada por ocasião da Lua Cheia. Dançam a noite toda. Na casa das máscaras estão todos os enfeites da dança: camisa de fibra de coqueiro e um saiote de fibras soltas.
A cabeça da máscara é enfeitada por penas de arara que aumentam o tamanho dos dançarinos. Da casa de máscaras os índios vêm para a praça, aos pares, dançando, renovando os ritos dos feitos heroicos, amorosos e dramáticos do povo carajá.



                               ELY CAMARGO -ARUANÃ - DANÇA DOS ÍNDIOS CARAJÁS



OS LICOCÓS – BONECOS CARAJÁ






Na linguagem carajá, o boneco é chamado de “licocó”. As meninas aprendem a fazer os licocós, enquanto as mães fazem a cerâmica utilitária.  As mães colhem o barro cinzento na barranca do rio. Depois  o misturam com ingredientes de origem vegetal: raízes, flores.  Trituram o barro, que depois de modelado é secado ou cozido. Sentadas nas esteiras, tendo à sua frente o Rio Araguaia, as meninas carajá recebem as suas primeiras lições de arte da modelagem. O tamanho médio do licocó é 20 centímetros. Os bonecos são enfeitados com colares de sementes, casas de caracol perfuradas e um fio de borla preta. 
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ENTERRO DE REDE – RITOS





A morte tem o seus ritos que são vividos intensamente, de acordo com as crenças de cada um.
No interior quando uma pessoa morre, saem normalmente três pessoas para cuidar dos preparativos do enterro: uma providencia a mortalha, a outra o atestado de óbito e a terceira avisa, o mais longe que puder, a morte do amigo.
As incelências são quadrinhas repetidas doze vezes, porque são doze os apóstolos. Preparam a chegada do morto no céu.
Após  o velório de uma noite toda, ao amanhecer colocam-no na rede. Cortam uma vara de taquara e amarram a rede com embira (folhas de palmeira). Ao clarear o dia cantam a despedida do morto à família, cada verso cita um parente que se despede:

Vamos cantar uma incelência
Do meu são Francisco
Que dê seu passaporte
Nossa Mãe Maria Santíssima

Passaporte já tenho
Feita absolvição
Para esta alma subir pra glória
Com a Virgem Conceição

Despeça da sua esposa
Até o dia do Juízo
Pra te encontrar
Na porta do Paraíso

Feita a despedida o enterro desaparece na curva do caminho... levado na Rede.



                                      ELY CAMARGO - BALADA GOIANA
                                            (Manuel Amorim Felix de Souza)





FONTE: Histórias, Costumes e Lendas 
               Editora Três - 1987
IMAGENS: Google 
VÍDEOS: Youtube

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