“ O tango é a única expressão autêntica de
Buenos Aires, que é por sua vez a síntese e expressão de toda a Argentina. É
puro instinto, assim como os argentinos, que sempre viveram uma vida intuitiva,
de pouco pensamento e intelecto. Por pertencer ao mundo da sensação e do
sub-consciente, o tango é anti-intelectual, como a essência argentina. Mais
ainda, por pertencer ao mundo da criação instintiva e dos sentimentos, o tango
é contra tudo que possa ser considerado mecânico ou coletivo. No tango,
encontram-se muitas de nossas características essenciais. Por isso, é a
expressão de nossa passividade, de nossa tristeza fundamental , de nosso
sensualismo lânguido, da nossa negligência, de nossa desolação.”
MANUEL GALVEZ, “ Hombre en Soledad”, 1938
“ O tango é a dança popular mais
profunda do mundo”.
Waldo Frank, “ América Latina”.
O tango não tem uma origem muito clara; vem da periferia, dos arrabaldes
da cidade de Buenos Aires, que se confundia com o pampa. O tango nasceu órfão e
à margem da elite, e é impossível determinar com certeza a data em que viu a
luz pela primeira vez, nem quem possa ter sido o seu pai, porque o tango é o
resultado da mistura de diversos condimentos e sabores: o canto e a dança dos
crioulos da Buenos Aires colonial; a “Habanera”, chamada de tango americano
pelos europeus; o “tanguillo”, andaluz;
as formas musicais dos imigrantes espanhóis e italianos. O tango nasceu como
expressão folclórica das populações pobres, oriundas de todas essas origens,
que se misturavam na crescente Buenos Aires.
Os negros tinham um tipo de batuque chamado de “candombe” e o som da pele
do tambor deu-lhe o nome: tan-gó. O eminente musicólogo Ortiz
Oderigo opta pela corrente africana ao afirmar que o nome tango
constitui-se numa corruptela do nome Xangô, deus do trovão e das tempestades na
mitologia dos Yorubás da Nigéria, onde Xangô também era o nome do tambor usado
nos rituais.
Jorge
Luiz Borges, escritor argentino, afirma: “ O tango é negro na raíz”, e só poderia
ter nascido em Buenos Aires ou Montevidéu.
“
Esa ráfada, el tango, esa diablura
Los
atareados años desafia;
Hecho
de polvo y tempo, el hombre dura
Menos
que la liviana melodía”.
JORGE LUIZ BORGES
Esse tom escuro resulta na mais evidente cor racial do tango, porque, em
1865, o ator canadense German McKay,
residente em Buenos Aires, parodiava os gestos e a linguagem da gente de raça
africana, personificando comicamente o NEGRO SCHICOBA, na intepretação do canto
e dança chamados tango. O ritmo da canção entoada por McKay, cuja partitura ainda existe, viria a fazer do velho candombe
a dança oficial dos negros; “O Negro Schicoba”, escrita em 2/4, mostrava, em
seus compassos de “habanera”, certos traços do que viria a constituir-se o som
e a estrutura musical do tango.
Nas duas últimas décadas do século XIX, o tango era interpretado nos prostíbulos de Buenos Aires
e Montevidéu com violino, flauta e violão. Nessa época era dançado por dois
homens, daí o fato dos rostos virados, sem se fitar.
homens dançando tango, Rosário 1913
Naqueles tempos era considerada
obscena a dança entre homens e mulheres abraçados, sendo este um dos
aspectos do tango que o manteve circunscrito aos bordéis, onde os homens usavam
os passos que praticavam e criavam entre si nas horas de lazer mais familiar.
Mais tarde, se tornou uma dança tipicamente praticada nos bordéis e nessa fase
as letras tinham temática voltada para esses ambientes. O “bandoneón” que
atualmente caracteriza o tango chegou a região do Rio da Prata por volta de 1900 nas maletas dos imigrantes alemães.
Numa fase inicial, o tango era puramente dançante. O povo se encarregava
de improvisar letras picantes e bem humoradas para as músicas mais conhecidas.
No final do século XIX eram populares várias espécies de tango: o “tango andaluz” (1855-1880), o “tango
cubano”, e outras variedades. Os conhecidos como “tangos africanos” eram
interpretados pelos artistas das companhias espanholas que atuavam na cidade e
entravam em cena caracterizados de negros, tal como fazia McKay e outros atores americanos. Várias décadas depois, em 1927, Al Johnson continuava essa moda, fixando
nas telas essa caracterização ao interpretar “O Cantor de Jazz”, filme que
inaugurou a era do cinema falado.
Existiu também o tango
brasileiro muito em voga no início do
século vinte no Rio de Janeiro. Muitos dizem que ele nada mais era que
uma denominação do maxixe, devido ao fato de este ter sido proibido. Daí
editarem as canções com o gênero descrito por "tango brasileiro".
Outros contestam essa história dizendo que há diferença entre o tango
brasileiro e o maxixe e esta se daria pela presença de uma pausa na primeira
semicolcheia do primeiro tempo, que o tango não possuiria.
O
tango começou a brilhar suas filigranas milongueiras nos bailes do submundo, periferia e arrabaldes de Buenos
Aires: Corrales Viejos (hoje Parque
Patricio), Bateria (hoje, Retiro), Santa Lucia, em Barracas al Sur (hoje
Avellaneda) e em Recoleta, onde hoje existe o parque com o mesmo nome.
A proximidade
com o pampa de Buenos Aires frutificou nos muitos títulos de tango com termos campestres: La
Tablada, El Cencerro,
El Buey Solo, La trilla, Bataraz, El Baqueano,
La Huella, e outros... Os vaqueiros e carreteiros que vinham do pampa trazendo gado, ao
chegarem à periferia da capital, trocavam seus trajes de “gaúcho” por outra
roupa mais urbana, em lugares feitos especialmente para esse fim, e logo
entravam na cidade com as roupas pitorescas dos malandros do subúrbio. Este
elemento “lumpen” era o senhor dos arrabaldes, compostos de compadres,
malandros e arruaceiros. Esses personagens se moviam no cenário feito de casas
de danças e bordéis baratos. É aí onde começa a trajetória do tango que o
levará a alcançar a primeira etapa de sua identidade musical, quando sua
orquestra típica “criolla” é criada.
Do contato infame com os bordéis, aparece uma série de títulos com duplo
sentido: “El Choclo”, “La Flauta de Bartolo”,
“La Cara de la Luna”, “La Budinera”, “Aqui se Vacuna”, “Che”, entre outros.
Esse
ambiente fez com o tango fosse uma música proibida, tanto pelos personagens e lugares, quanto pela
maneira dos pares dançarem tão agarrados, dando-lhe um caráter erótico.
Carlos Vega,
profundo estudioso da dança universal, expressava, num artigo publicado pelo
jornal “La Prensa”, em l954, referindo-se à sua coreografia solene: “dançar
(tango) é algo grave e profundo; os interesses da espécie se acendem em seu
vigor e inspecionam sua eficácia. Quando se dança não se ri.” E continuando: “Era necessário voltar à dança. Em algum
lugar do mundo, num ambiente afastado, haveria de ser realizado este baile
salvador. E isto aconteceu. Homens de todas as classes sociais e anônimas
mulheres de bordel promoviam seu nascimento: entre ligas à mostra e facas escondidas, a cidade de Buenos Aires paria
a grande dança do século XX.” Surgia o “ tango argentino”.
LOS HERMANOS MACANA
ENRIQUE Y GUILLERMO DE FAZIO
A posição da mão é que determina quem conduz
quem , já que ambos são homens.
No início do século XX, o Tango era dançado entre homens, como é o
Sirtaki, dança tradicional grega.
Levou mais de 20 anos até que o TANGO fosse dançado com uma mulher.
Este vídeo é uma obra de arte.
O estilo é uma pequena jóia ...
FONTES:
TEXTO: JORGE MONTES- jornalista (Produção Bandeirantes Discos) –
TEXTO: JORGE MONTES- jornalista (Produção Bandeirantes Discos) –
Enciclopédia WIKIPÉDIA
Vídeo: Youtube
Vídeo: Youtube
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