sexta-feira, 9 de novembro de 2012

HISTÓRIA DO TANGO - AS ORIGENS


“ O tango é a única expressão autêntica de Buenos Aires, que é por sua vez a síntese e expressão de toda a Argentina. É puro instinto, assim como os argentinos, que sempre viveram uma vida intuitiva, de pouco pensamento e intelecto. Por pertencer ao mundo da sensação e do sub-consciente, o tango é anti-intelectual, como a essência argentina. Mais ainda, por pertencer ao mundo da criação instintiva e dos sentimentos, o tango é contra tudo que possa ser considerado mecânico ou coletivo. No tango, encontram-se muitas de nossas características essenciais. Por isso, é a expressão de nossa passividade, de nossa tristeza fundamental , de nosso sensualismo lânguido, da nossa negligência, de nossa desolação.”
MANUEL GALVEZ, “ Hombre en Soledad”, 1938

“ O tango é a dança popular mais profunda do mundo”.
Waldo Frank, “ América Latina”.

O tango não tem uma origem muito clara; vem da periferia, dos arrabaldes da cidade de Buenos Aires, que se confundia com o pampa. O tango nasceu órfão e à margem da elite, e é impossível determinar com certeza a data em que viu a luz pela primeira vez, nem quem possa ter sido o seu pai, porque o tango é o resultado da mistura de diversos condimentos e sabores: o canto e a dança dos crioulos da Buenos Aires colonial; a “Habanera”, chamada de tango americano pelos europeus;  o “tanguillo”, andaluz; as formas musicais dos imigrantes espanhóis e italianos. O tango nasceu como expressão folclórica das populações pobres, oriundas de todas essas origens, que se misturavam na crescente Buenos Aires.
Os negros tinham um tipo de batuque chamado de “candombe” e o som da pele do tambor deu-lhe o nome: tan-gó. O eminente musicólogo  Ortiz Oderigo opta pela corrente africana ao afirmar que o nome tango constitui-se numa corruptela do nome Xangô, deus do trovão e das tempestades na mitologia dos Yorubás da Nigéria, onde Xangô também era o nome do tambor usado nos rituais.
Jorge Luiz Borges, escritor argentino, afirma: “ O tango é negro na raíz”, e só poderia ter nascido em Buenos Aires ou Montevidéu.


“ Esa ráfada, el tango, esa diablura
Los atareados años desafia;
Hecho de polvo y tempo, el hombre dura
Menos que la liviana melodía”.
JORGE LUIZ BORGES

Esse tom escuro resulta na mais evidente cor racial do tango, porque, em 1865, o ator canadense German McKay, residente em Buenos Aires, parodiava os gestos e a linguagem da gente de raça africana, personificando comicamente o NEGRO SCHICOBA, na intepretação do canto e dança chamados tango. O ritmo da canção entoada por McKay, cuja partitura ainda existe, viria a fazer do velho candombe a dança oficial dos negros; “O Negro Schicoba”, escrita em 2/4, mostrava, em seus compassos de “habanera”, certos traços do que viria a constituir-se o som e a estrutura musical do tango.
Nas duas últimas décadas do século XIX, o tango  era interpretado nos prostíbulos de Buenos Aires e Montevidéu com violino, flauta e violão. Nessa época era dançado por dois homens, daí o fato dos rostos virados, sem se fitar.



homens dançando tango, Rosário 1913


  
Naqueles tempos era considerada   obscena a dança entre homens e mulheres abraçados, sendo este um dos aspectos do tango que o manteve circunscrito aos bordéis, onde os homens usavam os passos que praticavam e criavam entre si nas horas de lazer mais familiar. Mais tarde, se tornou uma dança tipicamente praticada nos bordéis e nessa fase as letras tinham temática voltada para esses ambientes. O “bandoneón” que atualmente caracteriza o tango chegou a região do Rio da Prata por volta de  1900 nas maletas dos imigrantes alemães.
Numa fase inicial, o tango era puramente dançante. O povo se encarregava de improvisar letras picantes e bem humoradas para as músicas mais conhecidas.
No final do século XIX eram populares várias espécies de tango: o    “tango andaluz” (1855-1880), o “tango cubano”, e outras variedades. Os conhecidos como “tangos africanos” eram interpretados pelos artistas das companhias espanholas que atuavam na cidade e entravam em cena caracterizados de negros, tal como fazia McKay e outros atores americanos. Várias décadas depois, em 1927, Al Johnson continuava essa moda, fixando nas telas essa caracterização ao interpretar “O Cantor de Jazz”, filme que inaugurou a era do cinema falado.
Existiu também o tango brasileiro muito em voga no início do    século vinte no Rio de Janeiro. Muitos dizem que ele nada mais era que uma denominação do maxixe, devido ao fato de este ter sido proibido. Daí editarem as canções com o gênero descrito por "tango brasileiro". Outros contestam essa história dizendo que há diferença entre o tango brasileiro e o maxixe e esta se daria pela presença de uma pausa na primeira semicolcheia do primeiro tempo, que o tango não possuiria.
O tango começou a brilhar suas filigranas milongueiras nos bailes   do submundo, periferia e arrabaldes de Buenos Aires: Corrales Viejos     (hoje Parque Patricio), Bateria (hoje, Retiro), Santa Lucia, em Barracas al Sur (hoje Avellaneda) e em Recoleta, onde hoje existe o parque com o mesmo nome.                                              
A proximidade com o pampa de Buenos Aires frutificou nos muitos      títulos de tango com termos campestres: La Tablada, El Cencerro,
El Buey Solo, La trilla, Bataraz, El Baqueano, La Huella, e outros... Os vaqueiros e carreteiros que vinham do pampa trazendo gado, ao chegarem à periferia da capital, trocavam seus trajes de “gaúcho” por outra roupa mais urbana, em lugares feitos especialmente para esse fim, e logo entravam na cidade com as roupas pitorescas dos malandros do subúrbio. Este elemento “lumpen” era o senhor dos arrabaldes, compostos de compadres, malandros e arruaceiros. Esses personagens se moviam no cenário feito de casas de danças e bordéis baratos.  É aí onde começa a trajetória do tango que o levará a alcançar a primeira etapa de sua identidade musical, quando sua orquestra típica “criolla” é criada.  Do contato infame com os bordéis, aparece uma série de títulos com duplo sentido:  “El Choclo”, “La Flauta de Bartolo”, “La Cara de la Luna”, “La Budinera”, “Aqui se Vacuna”, “Che”, entre outros.
Esse ambiente fez com o tango fosse uma música proibida, tanto  pelos personagens e lugares, quanto pela maneira dos pares dançarem tão agarrados, dando-lhe um caráter erótico. 
Carlos Vega, profundo estudioso da dança universal, expressava, num artigo publicado pelo jornal “La Prensa”, em l954, referindo-se à sua coreografia solene: “dançar (tango) é algo grave e profundo; os interesses da espécie se acendem em seu vigor e inspecionam sua eficácia. Quando se dança não se ri.” E continuando:  “Era necessário voltar à dança. Em algum lugar do mundo, num ambiente afastado, haveria de ser realizado este baile salvador. E isto aconteceu. Homens de todas as classes sociais e anônimas mulheres de bordel promoviam seu nascimento: entre ligas à mostra e facas escondidas, a cidade de Buenos Aires paria a grande dança do século XX.” Surgia o “ tango argentino”.

LOS HERMANOS MACANA
ENRIQUE Y GUILLERMO DE FAZIO


A posição da mão é que determina quem conduz quem , já que ambos são homens.

No início do século XX, o Tango era dançado entre homens, como é o
Sirtaki, dança tradicional grega.
Levou mais de 20 anos até que o TANGO fosse dançado com uma mulher.
Este vídeo é uma obra de arte.

O estilo é uma pequena jóia ...
FONTES:
TEXTO: JORGE MONTES- jornalista (Produção Bandeirantes Discos) –
Enciclopédia WIKIPÉDIA
Vídeo: Youtube

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