Outro caminho para a aceitação do tango pelas
classes mais altas veio de Paris. No início do século XX, a fragata “Sarmiento”
levara muitas partituras do LA MOROCHA, que inundaram a “ Cidade Luz”. Paris se
apaixonou pelo tango, uma dança exótica e sensual para os parisienses, que
levou muitos artistas argentinos e uruguaios a viajar e até se radicar na
capital francesa, entre eles Gobbi e
Angel Villoldo com a
missão de gravar discos. Entre os bailarinos, Casimiro Aín, o famoso Vasco Aín teve a honra de
servir de exemplo para que S.Santidade , o Papa Pio X, julgasse suas
“firulas” e absolvesse o tango de sua antiga mancha de música de lenocínio.
O
tango, tanto em sua interpretação cantada, como dançada, cativou aos franceses.
O público, a crítica, a nobreza e a intelectualidade lhe deram sua total
aprovação. Dele tomaram conhecimento o Czar Nicolau II e Rodolfo Valentino,
que depois imporia seu famoso tango fantasia “ a la Valentino”.
O tango virou uma febre em
Paris e, como Paris era o carro chefe
cultural de todo o mundo civilizado, logo o tango se espalhou pelo resto
do mundo. As parcelas moralistas da sociedade condenavam o tango, assim como já
haviam se colocado contra a valsa antes, por o considerarem uma dança imoral. A
própria alta sociedade Argentina desprezava o tango, que só passou a ser aceito
nos salões de alta classe pela influência indireta de Paris.
A
elite argentina em turismo pela França se assombra com tamanho sucesso e com o
insólito relevo intelectual que o tango adquire, e essa mesma elite começa a se
orgulhar de ser parte desse produto do “arrabal portenho”, que antes
desprezava por sua origem marginal.
Enrique Garcia Velloso,
escritor de comédia escreve a peça -
“
El Tango em Paris”, comédia encenada em 1913,interpretada por Florencio
Parravicini, contando a aventura vivida pelos músicos argentinos que levam
o tango a Paris. Muitos anos depois, o mesmo ator, desta vez com argumento de Manuel
Romero, volta com a mesma temática no filme “ Tres anclados em Paris”, onde
de forma satírica evoca a fascinação que essa cidade provoca nos argentinos de
ontem e de sempre.
Na
mesma época, o Barão de Marchi organiza uma reunião no “Palais de Glace”, em Buenos Aires, para apresentar
o tango à alta sociedade portenha. Dos
passos simples aos passos trabalhados, os bailarinos bordaram suas melhores
linhas coreográficas para que a exibição tivesse a máxima autenticidade. A “gente fina” local experimentou, então, um
assombro e um entusiasmo semelhantes aos dos franceses. Os mais inteligentes
haviam finalmente compreendido que o vilipendiado tango arrabalero era,
no sentido antropológico, a única “cultura” que poderiam mostrar ao mundo como
coisa própria.
As
portas de muitos lugares importantes foram abertas e o tango passou a ser a atração
principal desses lugares: o Royal Pigall, na Calle Corrientes. A sua filial, nos
bosques de Palermo, a casa batizada com o gálico nome de Armenonville, foi inaugurada por Vicente Greco. Nessa Casa atuaram também Roberto Firpo e Francisco Canaro. Estes
dois foram os cabeças na época do abandono da “velha guarda”, os que lutaram
pelo tango, fazendo com que sua presença se estendesse ao cinema, ao teatro e
às festas da alta-sociedade. Canaro,
um trabalhador infatigável, lutou de forma incansável até o último minuto de
sua vida, na procura de novos caminhos. No Armenonville também se consagrou a
dupla Gardel-Razzano, sendo Carlos Gardel ( que morreu em 1935),
até os dias de hoje, o arquétipo do cantor de tangos e da policromática
personalidade do portenho.
FONTE: TEXTO: JORGE MONTES-
jornalista (Produção Bandeirantes Discos) –
Enciclopédia WIKIPÉDIA
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