NASCE O TANGO TRISTE
Assim,
chegamos a uma data-chave no desenvolvimento do tango: 1917. Surge uma nova
geração de jovens e talentosos músicos e compositores que darão um relevo
diferente ao tango, fazendo com que sua qualidade seja ampliada: Julio de Caro (19 anos), seu
irmão Francisco ( 20 anos), Pedro Maffia (17 anos) e Pedro Laurenz (15 anos)- criaram um estilo que revolucionou
esteticamente o tango. Maffia-Laurenz
inventaram todas as possibilidades de estilística do bandoneón no tango.
Juntaram-se a eles Enrico Delfino
(22 anos), Juan Carlos Cobián
( 21 anos), Fresedo ( 20
anos), Anselmo Aieta (21
anos) e Sebastián Piana, Osvaldo Pugliese e Edgardo Donato, autor do grande sucesso “ A media Luz”. Mas o fato mais importante do ano, e que
viria a se confirmar mais tarde, constituiu-se no sucesso dos versos de um
jovem de 28 anos, cantor e violonista Pascual
Conturci, feitos para uma música chamada “Lita”, um tango de Castriota. Com isso, Contursi compõe “ Mi noche
triste”, a música que segundo afirma Enrico
Santos Discépolo “leva o tango dos pés à boca”.
A
criação do “tango-canção”, diverso de tudo o que havia sido feito, causa uma
enorme mudança no panorama vivido até então. O tango deixa o tom alegre e
satírico de sua origem marginal, para transformar-se, com sua melancólica
temática, no testemunho da vida popular. Buenos Aires, a cidade gigantesca e
múltipla, encontra a sua canção, e com ela expressará a seguir seus sentimentos
e críticas ante o amor, a dor e a alegria. Mas também, como foi estabelecido
por “ Mi noche triste”, os tangos cantados falam em sua maioria, da nostalgia,
do perdido e irrecuperável, da rebelião contra o ausente e amargura criada por
essa orfandade econômica que leva à miséria o homem do povo.
O
tom de interpretação desse novo tango é proporcionado por Carlos Gardel (27 anos), que era, até então, um intérprete de
canções rurais, especialmente do sul. Como homem da cidade, encontra no tango o
retrato de sua própria vida de portenho. Coloca seu sotaque malevo, aprendido
no bairro de Abasto, que é o microcosmo da vida popular de Buenos Aires,
caracterizada por excesso de italianos, espanhóis e judeus, que
constituíam a meta- de seus habitantes.
Em luta com os nativos (“criollos” marginalizados pela onda de imigrante
estrangeiros), a necessidade os força a aceitar tarefas que consideravam
indignas do homem (por distantes das
tarefas masculinas do campo, que acabavam de deixar”). Enfim, graças a elas, se
ergueu esta grande metrópole que é Buenos Aires.
Por
acaso, desta mistura de idiomas do imigrante resulta o lunfardo, um idioma lumpen,
mitologia da rua, povoada por vozes estrangeiras-autênticas ou
transformadas pelo uso, que entram pela força de possuir uma linguagem própria
e ser diferente do idioma de seus ancestrais imigrantes ou de seu passado
rural. Esta será a língua falada do portenho, a definir sua personalidade, sua
busca a um país que lhe pertença por inteiro, a ascensão a uma identidade
diversa. A mulher passa a ser: la percanta, la mina, la grela, la
naifa,etc...; a casa: el bulín, el cotorro, el nido, la zapie; a
cama: la catrera; o trabalho: el yugo, el laburo, el jotrabo… e
continua a sucessão de palavras e sinónimos agregados a cada termo legal ou
autorizado, até completar um idioma de quase seis mil palavras. Estas trazem ao
tango um idioma único, necessitando de tradução em qualquer lugar que não seja
Buenos Aires. A cadência dessa nova forma de falar se torna uma das “pinturas”
mais marcadas do tango.
CARLOS
GARDEL
Gardel nasceu em 11 de Dezembro de 1890 em Toulouse, França
e foi registrado sob o nome de Charles
Romuald Gardès, filho da lavadeira Berthe
Gardès e de pai desconhecido.. No início de 1893, mãe e filho
embarcaram no navio SS Don Pedro, para Buenos Aires, chegando em 11 de março de
1893. Berthe Gardès teve seu
passaporte registrado, ela disse às autoridades de imigração que era
viúva. O menino de dois anos de idade, foi registrado como Charles Gardès. Gardel Morou grande parte de sua vida no bairro portenho
do Abasto; teve uma infância pobre e desde cedo viveu de pequenos bicos. Chamavam-no
de Carlos ou Carlitos.
Começou a cantar aos 17 anos e em 1911
formou uma dupla com o cantor uruguaio José Razzano, quem o transformou no
fenômeno musical da década. O reconhecimento veio em 1914 quando passou a se
apresentar regularmente no cabaré Armenonville, em Buenos Aires. Após a separação da dupla, começam as primeiras viagens ao exterior. No
ano de 1925, Gardel já era popular em toda a América espanhola; 1927 foi o ano
da sua consagração na Europa, alcançando grande sucesso em Paris. Em seguida os
Estados Unidos e o cinema. Nos estúdios da Paramount, em Nova York, atuou em
vários filmes que fizeram grande sucesso e estenderam ainda mais a sua lenda.
No dia 24 de Junho de 1935, Gardel
morreu num desastre aéreo, no auge da carreira e da fama, em Medellín, Colômbia.O
mito de Gardel atravessou vigorosamente todo o século. Hoje representa um
verdadeiro ícone do tango e continua sendo uma das personalidades mais queridas
de toda a Argentina.
LA CUMPARSITA - CARLOS GARDEL
FONTE: TEXTO: JORGE MONTES-
jornalista (Produção Bandeirantes Discos) –
Enciclopédia WIKIPÉDIA
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